Esta série é uma parceria Wilder e Sociedade Portuguesa de Ecologia, que nos dá a conhecer diferentes ecólogos portugueses. Desta vez, ficamos a conhecer este professor e investigador da Universidade de Évora, que trabalha com espécies invasoras.
Pedro Anastácio, 57 anos, começou a interessar-se pelo mundo natural “bastante cedo”, por volta dos 12, incentivado pelas atividades dinamizadas por Francisco Ferrand d’Almeida, antigo ecólogo e professor na Universidade de Coimbra. E aos 13 anos já sabia qual a profissão que queria ter.
Assista ao seu testemunho em vídeo e leia a entrevista.
O que faz como ecólogo?
Sou professor na Universidade de Évora, onde ensino Ecologia e várias outras disciplinas relacionadas com esse tema. Sou investigador no MARE, o Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, onde coordeno o domínio de investigação de bacias hidrográficas. Além disso, sou investigador na ARNET – Rede de Investigação Aquática.
O meu trabalho foca-se principalmente nos ecossistemas de água doce e na fauna exótica invasora. O que tentamos fazer no Grupo de Invasões Biológicas é compreender como as espécies invasoras se dispersam, onde podem ocorrer, quais os impactes que causam e como são percebidas pelas pessoas. Depois, procuramos transmitir esse conhecimento à sociedade para modificar comportamentos de risco e perceções. Também trabalho extensivamente com modelação ecológica.
Como começou na ecologia?
Comecei a interessar-me por temas ambientais por volta dos 12 anos, participando em atividades promovidas por associações ambientalistas. O meu primeiro “mestre” foi o recentemente falecido professor Francisco Ferrand d’Almeida, que organizava, por exemplo, ações de colocação de ninhos artificiais para aves insetívoras. Como comecei a envolver-me nessas atividades muito cedo, desde os 13 anos sabia que queria ser biólogo. Mais tarde, o meu mentor científico foi o professor João Carlos Marques.
Qual é a melhor parte do seu trabalho?
Sem dúvida, o trabalho de campo, onde posso lidar diretamente com as espécies que estudo. No entanto, à medida que a equipa cresce e a carreira avança, a disponibilidade para desfrutar dessas exaustivas, mas recompensadoras, horas ao sol ou ao frio vai diminuindo.
Porque é que a ecologia é importante?
Porque faz a ligação entre tudo o que é vivo e não vivo, permitindo compreender como o mundo funciona. É como levantar um véu e perceber que, para além das relações diretas e visíveis, existe uma complexa rede invisível de interações entre criaturas e fenómenos naturais.
O que gostaria de fazer, mas ainda não fez?
O meu trabalho, apesar de abranger todo o planeta, exige passar demasiado tempo em frente ao computador. Por isso, gostaria muito de participar numa expedição científica a um local remoto. Um exemplo seria visitar o Monte Roraima, na fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana. Pelo seu isolamento, essa região abriga muitas espécies que não existem em mais nenhum lugar do mundo.
Conheça algumas das espécies aquáticas invasoras com as quais Pedro Anastácio tem trabalhado, com a ajuda deste investigador: o lagostim-vermelho-da-luisiana, o lagostim sinal, o caranguejo-peludo-chinês e o mexilhão-zebra.
A série “À Conversa com um Ecológo” é uma parceria entre a revista Wilder e a Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO). Serão vários os investigadores portugueses, de todas as idades, que vão estar aqui a explicar o que fazem e o que é a Ecologia. Para celebrar o Dia da Ecologia, que se comemora em Setembro. Recorde os testemunhos de Filipa Coutinho Soares, Mário Santos, Susana C. Gonçalves, Zara Teixeira, Maria Amélia Martins-Loução, Carlos Vila-Viçosa, Hélia Marchante, Ruben Heleno e Ana Paula Portela.