Filipa Coutinho Soares. Foto: D.R.

À conversa com um Ecólogo: Cinco perguntas a Filipa Coutinho Soares

14.05.2024

A nova série “À Conversa com um Ecólogo” é uma parceria Wilder e Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO). Todos os meses conheça um ecológo português. A primeira conversa é com Filipa Coutinho Soares, que trabalha no Museu Nacional de História Natural de Paris.

Filipa Coutinho Soares, 29 anos, foi um dos três investigadores galardoados com o Prémio de Doutoramento em Ecologia 2023 – Fundação Amadeu Dias, organizado pela SPECO.

Assista ao testemunho que esta investigadora gravou em vídeo e leia a entrevista mais completa.

WILDER: Quem é e o que faz como ecólogo?

Filipa Coutinho Soares: O meu nome é Filipa e sou investigadora de pós-doutoramento no Museu Nacional francês de História Natural, em Paris. Atualmente, estou a trabalhar num projeto sobre translocações para fins de conservação, onde se inclui a reintrodução de espécies, sendo a reintrodução do lince-ibérico em Portugal um exemplo bastante recente no nosso país. Dentro deste projeto, estou interessada em compreender se estas ações de conservação – que são principalmente motivadas por fatores locais, como por exemplo uma espécie estar ameaçada ao nível do país – podem (ou não) contribuir para a conservação da diversidade filogenética e funcional a uma escala global. 

W: Como começou?

Filipa Coutinho Soares: Eu diria que comecei a sentir-me uma verdadeira ecóloga durante a minha dissertação de mestrado. Na altura, em 2017, tive a incrível oportunidade de passar três meses na ilha de São Tomé a estudar as comunidades de aves, com o objetivo de compreender os fatores que promovem a expansão das aves introduzidas. Foi durante esses meses que senti as primeiras dificuldades do trabalho de campo e rapidamente me apercebi de que, mesmo planeando tudo com antecedência, há sempre imprevistos que temos de contornar (e acreditem, houve bastantes imprevistos!). Foi também nessa altura que entrei no mundo da investigação, onde continuo até hoje. 

W: Qual é a melhor parte do seu trabalho?

Filipa Coutinho Soares: Para mim, a melhor parte do meu trabalho é o processo de pensar numa pergunta. Gosto bastante de discutir ideias e de tentar encontrar hipóteses para explicar os fenómenos que observamos. Lembro-me de ter longas reuniões durante o meu doutoramento, que concluí em 2022, que começavam com uma única pergunta, por exemplo ‘será que as aves introduzidas têm funções no ecossistema semelhantes às aves nativas das ilhas?’, e acabavam com várias, ‘será que as aves introduzidas podem substituir as funções que se perderam devido à extinção de espécies?’. Por vezes, sentia que saía com mais perguntas do que respostas, e que o trabalho não ia ter fim, mas agora sei que todo este processo faz parte do nosso trabalho!

W: Porque é a Ecologia importante?

Filipa Coutinho Soares: Ui, uma pergunta difícil! Eu penso que a Ecologia é uma ciência central na nossa sociedade, pois contribui com novo conhecimento sobre a relação de interdependência entre as pessoas e a natureza. No entanto, penso que esta ligação Ecologia-Sociedade não é por vezes fácil de explicar, porque não é (aparentemente) tão direta como outras ciências, como a Medicina. Por isto mesmo, penso também que é nossa responsabilidade, como ecólogos, mostrar à sociedade porque é que a Ecologia é importante. Um exemplo frequentemente utilizado é o controlo biológico, que consiste na utilização de predadores e inimigos naturais das pragas (como as aves insetívoras) para controlar os danos causados às culturas agrícolas. O uso do controlo biológico baseia-se, em parte, no conhecimento da ecologia das pragas.

W: O que gostaria de fazer mas ainda não fez?

Filipa Coutinho Soares: Penso que há muitas coisas que gostaria de fazer, mas que ainda não fiz. Talvez uma que me vem imediatamente à cabeça é conhecer as ilhas que estudei durante o meu doutoramento. Adorava visitar todas as ilhas oceânicas sobre as quais tanto li ao longo de quatro anos! 


A série “À Conversa com um Ecológo” é uma parceria entre a revista Wilder e a Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO) que começa no mês de Maio. Serão vários os investigadores portugueses, de todas as idades, que mensalmente vão estar aqui a explicar o que fazem e o que é a Ecologia. Todos os meses no dia 14, para celebrar o Dia da Ecologia, que se comemora a 14 de Setembro.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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