A série “À Conversa com um Ecólogo” é uma parceria Wilder e Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO), que nos dá a conhecer diferentes ecólogos portugueses. No Dia da Ecologia, que se comemora a 14 de Setembro, a conversa foi com Maria Amélia Martins-Loução, professora catedrática aposentada da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Maria Amélia Martins-Loução, bióloga, é desde 2017 presidente da SPECO – Sociedade Portuguesa de Ecologia. Dedica-se atualmente ao desenvolvimento de ações de comunicação de ciência, dirigidas à importância da biodiversidade e para a necessidade de todos contribuirmos para a sua preservação. Assista ao vídeo e leia a entrevista, para ficar a conhecer melhor esta ecóloga e o que a fascina na ciência e na comunicação.
Quem é e o que faz?
Chamo-me Maria Amélia Martins-Loução, sou bióloga e ecóloga. Nesta fase da minha vida, afastada dos laboratórios e do trabalho de campo, dedico-me a desenvolver estratégias de comunicação de ciência, para a sociedade em geral e os jovens em particular. A estes pretendo sensibilizar para a importância da biodiversidade que a natureza encerra, da sua preservação e do papel que cada um de nós deve ter para esta tarefa fundamental à nossa sobrevivência.
Como começou na ecologia?
Desde criança que questionava porque é que determinado animal existe naquele espaço, ou porque é que as plantas podem ser diferentes de local para local. Já no meu curso gostei muito de ecologia vegetal e animal. Na altura, apesar de muito me fascinarem os insectos, a perspectiva geográfica com que o Professor Catarino nos deu a ecologia vegetal fascinou-me.
Dei os meus primeiros passos na abordagem genética da adaptação das plantas à salinidade mas, nos anos 70 em Portugal, para se conseguir desenvolver um trabalho inédito nessa área era terrível. Optei então por me debruçar sobre a adaptação fisiológica da alfarrobeira à disponibilidade de diferentes formas de azoto no solo. Daqui, saltei para a interacção das plantas com os microorganismos no solo, para o efeito da deposição atmosférica de azoto nas comunidades vegetais e em que medida os microorganismos do solo podem contribuir para o aumento da resiliência das populações vegetais. Tinha entrado na abordagem ecológica e integradora da resposta das comunidades de vegetação mediterrânica – sobretudo da vegetação, mas posteriormente integrando os animais, particularmente os insectos, em fenómenos de hibridização e na dispersão de populações.
Toquei de novo na ecologia evolutiva, o que me facultou uma visão cada vez mais holística de todo o ecossistema e da sua biodiversidade. Mais do que nomear as plantas e animais, o que me motiva é a sua interacção e o modo como se constroem relações entre seres tão diferentes. Na nossa sociedade, temos muito que aprender com os ensinamentos da natureza.
Qual é a melhor parte do seu trabalho?
Presenciar a alegria das crianças quando lhes conto histórias que se passam na natureza ou quando explico assuntos que ainda não tinham entendido. Apreciar as questões e as dúvidas inocentes que me colocam e para as quais tento responder.
Quando conto aos mais novos as histórias dos microrganismos no solo (livro “Histórias num admirável Mundo Invisível“), tendo figurantes com base nas minhas netas (como sendo as bactérias) e no meu neto (representando o fungo), querem logo saber como é que eles são e se vou escrever mais histórias com eles. Só depois vem o interesse pelas interacções que pretendo transmitir.
Também com os mais velhos, do 3º ciclo, sinto-me enternecida pelas questões que levantam no âmbito do projecto da SPECO “Pergunta a um Ecólogo”.
Porque é a ecologia importante?
A ecologia é uma ciência cada vez mais transversal. Actualmente, extravasa a biologia pela pluri- e interdisciplinaridade de estudo e de equipas, pela visão holística na abordagem e pelas respostas integradoras, práticas e reais que desenvolve. Isso é fundamental para apoiar o desenvolvimento de estratégicas políticas de gestão baseadas em soluções naturais, mais eficientes e mais eficazes a médio e longo prazo. São este tipo de soluções baseadas na natureza que os ecólogos têm vindo a construir e que defendem como estratégia de sobrevivência neste planeta em alteração.
O que gostaria de fazer mas ainda não fez?
Gostaria de escrever, nomeadamente de escrever mais contos para crianças e jovens, baseados no que vejo. Por exemplo, gostaria de continuar a contar as histórias de microrganismos e invertebrados ao nível do solo e a sua relação com as plantas. Há que sensibilizar os jovens para um bem que está a ser degradado de forma alarmante, o solo – a vida intensa que lá existe, as suas ameaças e a importância da sua conservação.
A série À Conversa com um Ecológo é uma parceria entre a revista Wilder e a Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO). Serão vários os investigadores portugueses, de todas as idades, que vão estar aqui a explicar o que fazem e o que é a Ecologia. Para celebrar o Dia da Ecologia, que se comemora a 14 de Setembro.