Esta série, que nos dá a conhecer diferentes ecólogos portugueses, é uma parceria com a SPECO – Sociedade Portuguesa de Ecologia. Desta vez, ficamos a conhecer este comunicador de ciência e ecólogo que trabalha no centro de investigação CE3C, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Foi com 6 anos de idade que Rúben se começou a interessar pelo mundo natural, extasiado pelos documentários que passavam na televisão e pelos livros de natureza que folheava, na companhia dos avós. Vinte e cinco anos depois, dedica-se às áreas de comunicação de ciência e de educação ambiental nos diferentes locais onde está presente, incluindo as direções da SPECO e da Liga para a Proteção da Natureza, e ainda no doutoramento que começou em 2024. “Passei da Biologia da Conservação para a Biologia da Conversação”, gosta de dizer.
Para ficar a conhecer melhor este ecólogo, assista ao vídeo e leia a entrevista, mais abaixo.
O que faz como ecólogo?
Sou membro do gabinete de comunicação do CE3C, o Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde me dedico à produção de conteúdos, comunicação de ciência e outreach (interação com o público). Sou também membro da direção nacional da Sociedade Portuguesa de Ecologia e da LPN, a Liga para a Protecção da Natureza, onde acompanho as áreas da comunicação, educação ambiental e formação.
Entretanto, desde 2024 que estou a fazer um doutoramento, com um projeto centrado no estudo da coexistência com os grandes carnívoros em Portugal e a aplicação das metodologias do marketing da conservação, fruto da colaboração entre a academia e organizações não-governamentais de ambiente. Enquanto ecólogo, procuro fundir estas dimensões para promover uma sociedade mais informada, com mais conhecimento, mais crítica e mais disponível para agir pela defesa de um património natural que é de todos nós.
Como começou na ecologia?
Diria que comecei há cerca de 25 anos, sentado, em frente à televisão, a absorver os documentários de vida selvagem que me levaram desde cedo a viajar por todo o mundo e a devorar páginas de livros e enciclopédias ilustradas sobre animais, sob o olhar orgulhoso dos meus avós. Claro que na altura não sabia o que era a ecologia, mas as histórias cuidadosamente narradas sobre os animais, as plantas e as suas relações já me cativavam nessa época.
Não houve qualquer surpresa quando decidi enveredar pela Biologia e seguir em 2014, passados três anos, para o Mestrado em Biologia da Conservação, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Foi aqui que tive um contacto mais sério com o que significa ser ecólogo, isso logo em duas vertentes: uma vertente mais de campo, através das aulas na Herdade da Ribeira Abaixo, e outra em laboratório, durante a tese, onde utilizei as ferramentas da genética populacional para tentar perceber as variações demográficas de duas espécies de primatas sujeitas a pressões como a desflorestação e a caça, na Guiné-Bissau e na Costa do Marfim. Abordar este tema foi o primeiro passo para o que tenho feito desde então.
Além das conclusões principais, senti que uma importante parte das soluções para as dificuldades que estas duas espécies enfrentam passava pela comunicação e maior envolvimento com as comunidades locais – perceber as motivações das suas ações e as decisões que estavam a dificultar a coexistência. Passei da Biologia da Conservação para a Biologia da Conversação, como costumo dizer.
Um pouco mais tarde, a minha visão sobre a Ecologia amadureceu muito graças ao trabalho diário e às muitas conversas com a Professora Maria Amélia Martins-Loução. A minha percepção sobre o seu conceito, significado e impacto abriu-se, ganhou um cariz interdisciplinar capaz de tocar praticamente todas as áreas do saber. Uma ciência essencial para um amanhã melhor.
Qual é a melhor parte do seu trabalho?
A oportunidade de abraçar uma grande diversidade de tarefas e funções, e sentir que cada uma delas, à sua maneira, contribui não apenas para os meus objetivos profissionais, mas também para o impacto que pessoalmente procuro ter na conservação da biodiversidade e no contributo para uma sociedade mais desperta para este fim.
No CE3C, por exemplo, uma das melhores partes é aprender com os/as investigadores/as, assimilar as suas descobertas e pensar em como poderei torná-las mais acessíveis a quem não é especialista nessa respetiva área, quer do ponto de vista do conteúdo, quer dos canais que as comunicam, como as redes sociais, através da colaboração com os media, o audiovisual e até em exposições.
Na LPN, sinto-me particularmente realizado quando colaboro com as suas várias equipas e contribuo para que mais pessoas adoptem a sua missão, que os seus objectivos de conservação de espécies ameaçadas cheguem mais longe e ressoem junto da sociedade, e que as suas campanhas e iniciativas de educação ambiental tenham maior adesão e impacto.
No doutoramento, ainda numa fase bastante inicial, tem sido a possibilidade de conceber um projeto alicerçado no que mais me motiva e procurar concretizar a união entre os mundos da conservação e da comunicação, num estímulo à adopção de comportamentos em prol da biodiversidade.
Tudo isto exige uma gestão atenta, mas tem sido verdadeiramente recompensador!
Porque é a ecologia importante?
A Ecologia é uma ciência de diálogo, de integração de diferentes saberes, de diferentes pontos de vista que, no fim do dia, define um horizonte muito claro e unânime: assegurar que o planeta prospera e mantém a riqueza da vida que sustenta – toda a vida, humanos incluídos. É a ciência que estuda a formiga, o lince-ibérico, a esteva ou o sobreiro e as suas interações com o ecossistema, para nos deslumbrar com os mecanismos que regem a Natureza.
Mas é também a lente através da qual a cultura, o direito, economia, educação, política, saúde, tecnologia, entre tantos outros sectores, se podem adaptar e evoluir para melhor responderem aos desafios que enfrentam e às crises que o mundo atravessa. Dobzhansky afirmou, de forma lapidar, que “nada em biologia faz sentido exceto à luz da evolução”. Diria que hoje, e olhando para o equilíbrio e sustentabilidade que temos de alcançar, nada faz sentido exceto à luz da ecologia.
O que gostaria de fazer mas ainda não fez?
Bem… a primeira será certamente terminar o doutoramento! Estou muito confiante com o que daqui pode surgir e com as competências teóricas e práticas que espero adquirir, especialmente nos domínios da coexistência e do marketing da conservação. Depois, colocar esse conhecimento ao serviço do património natural e das organizações que a ele se dedicam em Portugal e nos países de língua portuguesa, onde gostaria de vir a trabalhar.
A série “À Conversa com um Ecológo” é uma parceria entre a revista Wilder e a Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO). Serão vários os investigadores portugueses, de todas as idades, que vão estar aqui a explicar o que fazem e o que é a Ecologia. Para celebrar o Dia da Ecologia, que se comemora em Setembro. Recorde os testemunhos de Filipa Coutinho Soares, Mário Santos, Susana C. Gonçalves, Zara Teixeira, Maria Amélia Martins-Loução, Carlos Vila-Viçosa, Hélia Marchante, Ruben Heleno, Ana Paula Portela, Pedro Anastácio e Ana Sofia Reboleira.