A série “À Conversa com um Ecólogo” é uma parceria Wilder e Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO), que nos dá a conhecer diferentes ecólogos portugueses. A terceira entrevista é de Susana C. Gonçalves, que trabalha na Universidade de Coimbra.
Susana C. Gonçalves, 52 anos, é investigadora no Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra e coordenadora do MyCoLAB, laboratório dedicado ao conhecimento científico e à conservação dos fungos. Assista ao testemunho em vídeo e leia a entrevista.
Quem é e o que faz como ecóloga?
O meu nome é Susana Gonçalves e sou investigadora no Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, onde coordeno o MyCoLAB. A investigação no MyCoLAB gera conhecimento acerca dos fungos – a sua diversidade, ecologia e conservação, incluindo o uso sustentável. É essencialmente um laboratório de Ecologia da Conservação de fungos. Também mantemos um programa ativo de divulgação, celebrando os fungos para impulsionar a conservação.
As principais linhas de investigação em curso visam preencher lacunas relacionadas com a conservação dos fungos, a saber:
– encontrar formas de acelerar a avaliação do risco de extinção em fungos (atualmente apenas 794 espécies de fungos têm o seu risco de extinção avaliado em contraste com 91.222 espécies de animais e 71.006 espécies de plantas),
– acelerar a obtenção de dados de diversidade fúngica no tempo e no espaço, para melhorar os estudos macro ecológicos— a ciência cidadã tem aqui um papel importante!,
– e, por fim, motivar as comunidades locais que habitam áreas especialmente ricas em diversidade de macrofungos, para a conservação dos habitats através da valorização daquele recurso não madeireiro.
Mantenho ainda o interesse (que vem do meu pós-doutoramento) em estudar a expansão e a adaptação local de cogumelos introduzidos pelo homem longe da sua área de distribuição nativa e que se tornam, por vezes, invasores. Ainda mais recentemente, embarquei na aventura de co-orientar um estudo para perceber se os cogumelos podem incorporar microplásticos. Vai ser desafiante!
Como começou a sua ligação à ecologia?
Quando ainda era estudante de Biologia, vi a minha Professora M. Teresa Gonçalves a lavar amostras de raízes de choupo para separar as micorrizas e fascinou-me o manto de hifas a envolver as raízes. A conversa que se seguiu daria início ao meu percurso académico. Comecei por estudar as micorrizas, simbioses muito importantes para a vida na Terra do ponto de vista das plantas, mas rapidamente evoluí para pensar do ponto de vista dos fungos. Hoje sou completamente micocêntrica! (risos)
Qual é a melhor parte do seu trabalho?
Sem dúvida, o trabalho de campo! Chego a surpreender-me pelo prazer que sinto sempre que vejo surgir os primeiros cogumelos da estação. Mas não são só os cogumelos, é a fruição da natureza e a sensação de estar onde pertenço. Também é o prazer que tiro das expressões dos outros quando, por exemplo, lhes facilito a experiência de observarem as estruturas de um cogumelo através de uma lente pela primeira vez. São os “Uau!” que fazem o meu dia.
Porque é a ecologia importante?
Focando-me apenas no atual contexto de emergência ambiental, a Ecologia é determinante para informar as ações de conservação, de restauro e de gestão necessárias para reverter a perda de biodiversidade.
O que gostaria de fazer mas ainda não fez?
Tanta coisa! Uma é ajudar a criar a primeira lista vermelha de cogumelos de Portugal. Outra é voltar a São Tomé e Príncipe para estudar a diversidade de fungos micorrízicos nos solos das florestas daquele que é um hotspot de biodiversidade a nível mundial. Por fim, gostaria de investigar alguns aspetos da dimensão humana da conservação dos fungos, uma área interdisciplinar a levar a cabo com a colaboração de colegas da área das ciências sociais. Infelizmente, a minha situação profissional é precária e o meu futuro na ciência, incerto.
A série “À Conversa com um Ecológo” é uma parceria entre a revista Wilder e a Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO). Serão vários os investigadores portugueses, de todas as idades, que vão estar aqui a explicar o que fazem e o que é a Ecologia. Para celebrar o Dia da Ecologia, que se comemora em Setembro. Recorde os os testemunhos de Filipa Coutinho Soares e de Mário Santos.