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Foto: Joana Bourgard

Abra espaço para a natureza: Como escolher as plantas certas para o jardim?

15.11.2024

Quando se trata de criar um jardim equilibrado e duradouro, a escolha das plantas desempenha um papel fundamental. Escolher as espécies certas assegura um crescimento saudável, reduz a necessidade de manutenção e aumenta a resiliência do jardim às condições locais. Neste artigo vou partilhar algumas orientações para escolher as plantas ideais para o seu espaço verde, considerando o clima e o solo de cada região de Portugal.

A importância das plantas nativas

Optar por espécies nativas é uma excelente escolha para quem quer um jardim adaptado ao clima local, resistente e amigo da biodiversidade. As plantas nativas, melhor adaptadas ao solo e ao clima locais, são menos exigentes em rega e fertilização, sendo menos susceptíveis a doenças e pragas. 

Além disso, integram-se naturalmente no ecossistema local, fornecendo abrigo e alimento para os polinizadores como abelhas e borboletas e outros insetos benéficos, bem como a outras espécies de fauna. Os polinizadores são fundamentais para a saúde do jardim, pois ajudam a garantir a reprodução das plantas e a manutenção do equilíbrio ambiental. 

Foto: Joana Bourgard/Wilder

Para saber mais sobre os benefícios das plantas nativas, pode consultar o meu artigo O que plantar num jardim: plantas exóticas ou nativas?. No artigo Como criar um jardim para a vida selvagem? encontra dicas para atrair e apoiar a vida selvagem no seu jardim.

Como escolher plantas para o jardim

A escolha das plantas para o jardim vai além da estética. Escolher plantas para o jardim envolve analisar um conjunto de aspetos para garantir o seu desenvolvimento saudável e adaptação ao novo ambiente:

Saúde da planta 

Avaliar o estado geral da planta antes de comprar é fundamental para garantir o sucesso no transplante e no desenvolvimento no jardim. 

  • Folhas: Verifique se estão saudáveis, sem manchas, furos, sinais de pragas, como teias ou manchas brancas. Folhas secas ou descoloradas podem indicar problemas de saúde. 
  • Caules e ramos: Inspecione caules e ramos para garantir que são firmes, sem sinais de podridão ou quebras. Plantas com caules fortes e firmes têm uma maior probabilidade de adaptação e crescimento saudável no novo ambiente.
  • Raízes: Se possível, examine as raízes. Elas devem ser firmes e estar ligeiramente húmidas. Raízes secas, quebradiças ou frágeis dificultam a adaptação da planta ao transplante. Para plantas em vaso ou envolvidas num torrão, o substrato deve estar firme e compacto, sem excesso de humidade ou secura.

Uma aparência geral saudável indica que a planta está em boas condições para se adaptar ao seu jardim.

Clima e solo 

A adaptação ao clima e solo é um fator determinante no sucesso do desenvolvimento das plantas. Conhecer o tipo de solo do jardim e as condições climáticas locais são aspectos essenciais. 

Tipo de solo: Conheça as características do solo do seu jardim. Espécies que prosperaram em solos argilosos, por exemplo, podem não se adaptar bem em solos arenosos e secos. Adaptar as espécies ao solo disponível reduz a necessidade de intervenções de manutenção, como adubações frequentes ou melhorias na drenagem.

Foto: Joana Bourgard/Wilder

Clima: Seleccione espécies que estejam adaptadas ao clima da região. Plantas que preferem climas frios ou húmidos podem enfrentar dificuldades de desenvolvimento em regiões quentes e secas, e vice-versa. Escolher plantas adaptadas ao ambiente evitar problemas de crescimento e de saúde, além de reduzir a necessidade de rega ou cuidados adicionais. 

Espaço e crescimento

Cada planta possui um padrão de crescimento específico, que determina o espaço necessário para se desenvolver de forma saudável ao longo do tempo. 

Dimensão adulta: Antes de comprar, é importante verificar as dimensões máximas que a planta pode atingir quando adulta, tanto em altura como em largura. Isso é especialmente relevante no caso de árvores e arbustos, que tendem a ocupar uma área maior no jardim. 

Espaço no jardim: Algumas plantas necessitam de bastante espaço para crescer, enquanto outras têm um crescimento mais compacto e podem ser mantidas em espaços mais pequenos. Ao prever o tamanho final da planta, pode-se evitar transplantes ou podas agressivas no futuro, que comprometem o equilíbrio do jardim. 

Necessidade de poda: As árvores e os arbustos podem exigir podas regulares para controlar o tamanho, no entanto, certifique-se de que o espaço disponível no jardim será suficiente para acomodar a planta à medida que ela cresce, sem invadir outras áreas, garantindo uma disposição harmoniosa e saudável.

Considerações específicas por tipo de planta

Árvores: Ao escolher árvores, verifique se o tronco é direito e possui uma “flecha” (ou guia principal) bem definida, principalmente para espécies de crescimento vertical. A ausência de uma flecha central pode comprometer a forma da árvore à medida que cresce. Ao comprar árvores em torrão ou vaso, inspecione o torrão para garantir que está firme e bem formado. Se o torrão estiver mal estruturado ou as raízes espiraladas ou “apertadas”, isso pode indicar que a árvore esteve demasiado tempo envasada, o que pode prejudicar o seu crescimento. No caso de árvores de raíz nua, adequadas para plantar no final do outono ou durante o inverno, quando se encontram em dormência, devem ter raízes firmes, húmidas e sem sinais de danos, como secura excessiva ou apodrecimento.

ramos de um arbusto
Foto: Joana Bourgard

Arbustos: Ao escolher arbustos, procure por plantas com uma estrutura bem ramificada desde a base. Arbustos que apresentam uma boa distribuição de ramos tendem a ser mais vigorosos e densos, características essenciais para formar cercas vivas ou dar uma boa cobertura no jardim. 

Verifique se o arbusto tem uma forma equilibrada e compacta, sem ramos longos ou fracos, que possam comprometer o seu desenvolvimento. A presença de rebentos novos e saudáveis é um bom indicador de que o arbusto está em fase de crescimento ativo. Quando comprar arbustos em vaso, certifique-se de que o recipiente não tem raízes visíveis a sair pelos orifícios de drenagem, o que pode indicar que a planta está enraizada de forma excessiva. 

Caso compre arbustos de raíz nua, escolha-os durante o período de dormência, preferencialmente no outono ou no inverno, quando estão em repouso e mais fáceis de transplantar. Verifique se as raízes estão húmidas e sem sinais de secura excessiva ou apodrecimento.

Plantas herbáceas: As plantas herbáceas, especialmente as perenes, devem apresentar folhas firmes e saudáveis, sem sinais de amarelecimento ou secura. Estas plantas podem ser sensíveis ao stress hídrico, por isso, ao escolher, verifique se a folhagem está bem desenvolvida e sem danos causados por excesso ou falta de água.

As raízes das plantas herbáceas devem ser fortes e saudáveis, com boa distribuição no torrão. Se forem compradas em vaso, observe se o torrão está bem estruturado, sem sinais de compactação excessiva ou raízes que saem pelos buracos de drenagem. Caso compre plantas herbáceas de raiz nua, o ideal é escolher plantas que apresentem raízes vigorosas e húmidas, que indiquem que a planta está saudável e pronta para a transplantação. 

Como as plantas herbáceas podem ser mais delicadas, é importante plantar no período adequado, evitando o calor do verão, quando o stress hídrico é mais elevado. O melhor é escolher estações mais frescas, como o outono ou a primavera.

Manter o jardim em boas condições ao longo do ano também requer ajustes nos cuidados, especialmente durante as estações mais desafiadoras. Nos meus artigos “Como ter um jardim de baixa manutenção”, “Como cuidar das plantas durante o verão?” e “Como cuidar das plantas depois do verão?”, encontrará dicas valiosas sobre como ajustar a rega e os cuidados em dias mais quentes, além de conselhos para proteger as plantas em estações desfavoráveis. Esses cuidados sazonais são fundamentais para garantir a longevidade das plantas e a saúde do seu jardim.

Teste rápido para identificar o tipo de solo

Para determinar o tipo de solo do seu jardim, pode realizar um teste simples e eficaz: 

  1. Comece por colocar um punhado de solo (equivalente a uma colher de sopa cheia) num frasco transparente com tampa. Encha o frasco com água, deixando cerca de ¼ do frasco livre. 
  2. Feche bem o frasco e agite-o vigorosamente durante alguns minutos, de modo a misturar bem o solo com a água. 
  3. Depois, deixe o frasco repousar algum tempo, até que as partículas de solo assentem no fundo. 
  4. Quando o solo assentar, observe as camadas que se formaram no frasco. As partículas de solo vão-se separar e de acordo com o seu tamanho e peso, criando camadas distintas:
  • Solo arenoso: Se a camada do fundo for composta por partículas arenosas e pouco compactas, granulosas e soltas, provavelmente o solo é arenoso. Os solos arenosos têm uma boa drenagem (a água passa rapidamente), ideal para plantas que preferem solos secos, ou seja, plantas que não gostam de ficar com as raízes “encharcadas”. No entanto, este tipo de solo, retém poucos nutrientes, por isso as plantas podem necessitar de fertilização adicional.
  • Solo argiloso: Se a camada do fundo for fina, densa e compacta, significa que o solo tem muita argila. As partículas de argila são muito pequenas e tendem a formar uma camada fina e densa, o que faz com que se acumule no fundo. Este tipo de solo retém muita água e nutrientes, mas drena mal, o que pode resultar em encharcamento. É adequado para plantas que preferem ambientes mais húmidos, mas pode ser necessário melhorar a drenagem, adicionando matéria orgânica ou areia, para evitar compactação excessiva.
  • Solo misto (ou franco): Se houver uma combinação equilibrada de partículas arenosas, uma camada fina de argila e uma camada de partículas médias, como limo, então o solo é misto ou franco. Este tipo de solo tem uma boa capacidade de drenagem e de retenção de nutrientes, sendo o mais versátil para a maioria das plantas. 

Outro teste prático para descobrir o tipo de solo é o teste de textura manual. Pegue num punhado de solo ligeiramente húmido e esfregue-o entre os dedos. Se sentir grãos soltos, como areia, o solo é arenoso. Se o solo for pegajoso e moldável, o solo é argiloso. Se a textura for macia e ligeiramente granulada, mas não pegajosa, o solo é (misto (franco).

Além da textura, o pH do solo é outro fator importante a considerar. O pH indica se um solo é ácido, neutro ou alcalino, e isso influencia quais as plantas que se desenvolveram melhor no jardim. Para testar o pH do solo, pode usar um teste de pH caseiro ou um kit de análise de solo, facilmente encontrado em lojas de jardinagem.

Escolher plantas adaptadas ao clima da região:

Portugal tem uma grande diversidade climática de norte a sul, o que significa que uma planta que se desenvolve bem no Norte pode não prosperar no Sul, e vice-versa. Por isso, antes de comprar uma planta, é fundamental saber se esta está adaptada às características climáticas e de solo da sua região, garantindo que elas irão prosperar nas condições locais:

Azevinho. Foto: jacinta lluch valero/Wiki Commons

O Norte de Portugal caracteriza-se por um clima mais húmido, especialmente nas áreas costeiras e serranas, com uma maior frequência de precipitação durante o ano. O solo tende a ser mais ácido e fértil, com predominância de solos argilosos e orgânicos. O clima frio e húmido é ideal para espécies que toleram a humidade constante e preferem temperaturas amenas.

Exemplos de plantas nativas do Norte:

A região Centro de Portugal apresenta um clima misto, que combina as zonas húmidas do Norte com as mais secas do Sul. Além disso, há variações significativas entre o litoral e o interior da região. No litoral, o clima é mais ameno e húmido, já no interior, os verões são mais quentes e secos, exigindo plantas mais resistentes à seca e ao calor. O solo é geralmente fértil e pode variar entre o argiloso e o calcário. 

Exemplos de plantas nativas do Centro:

O Sul é caracterizado por um clima mais quente e seco, com invernos amenos a verões longos e quentes. O solo tende a ser mais seco e pedregoso, com áreas de solos arenosos e calcários. Este ambiente favorece plantas adaptadas à seca e ao calor, sendo ideais para espécies resistentes e com baixo consumo de água.

Exemplos de plantas nativas do Sul:

Algumas destas espécies são altamente versáteis e podem ser cultivadas em qualquer região, independentemente das variações climáticas, e têm uma grande capacidade de adaptação a diferentes condições de solo e temperatura.

Onde adquirir plantas e sementes nativas?

Para encontrar plantas e sementes nativas, os melhores lugares são centros de jardinagem especializados, hortos e viveiros locais, especialmente aqueles que oferecem plantas regionais ou de clima específico. Muitos desses locais podem fornecer orientações sobre as espécies mais adequadas para cada tipo de solo e clima. Vale a pena perguntar diretamente sobre a disponibilidade de plantas nativas e, se possível, falar com um especialista no viveiro para saber quais são as espécies ideais para a sua região. Além disso, o site da Flora On é um excelente recurso para pesquisar plantas nativas de Portugal, com informações detalhadas sobre as espécies e a sua distribuição por região. 

Na série “Abra espaço para a natureza” terá acesso a mais alguma informação que ajudará na escolha das espécies e nos cuidados a ter com as suas plantas. E se explorar a série “O que procurar: espécies botânicas”, vai encontrar um vasto leque de espécies nativas que se podem adequar às diferentes condições do seu jardim.

Criar um jardim com plantas nativas ajuda a preservar a biodiversidade, reduz a manutenção e apoia polinizadores, promovendo um ambiente saudável e equilibrado. Escolher espécies bem-adaptadas ao clima e ao solo da região torna o jardim mais sustentável e fácil de cuidar. Como cada região de Portugal tem as suas particularidades, estas sugestões, permitem-lhe criar um espaço verde em harmonia com o ecossistema local, aumentando a beleza e a longevidade do seu jardim.

Aproveite para partilhar as fotos do seu jardim nas redes sociais com #jardimtemático e no Instagram, comigo (@biodiversityinportuguese) e com a Wilder (@wilder_mag).


Carine Azevedo é Mestre em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal, com Licenciatura em Engenharia dos Recursos Florestais. Faz consultoria na gestão de património vegetal ao nível da reabilitação, conservação e segurança de espécies vegetais e de avaliação fitossanitária e de risco. Dedica-se também à comunicação de ciência para partilhar os pormenores fantásticos da vida das plantas. 

Para acções de consultoria, pode contactá-la no email [email protected]. E pode segui-la também no Instagram.

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