Malva-real. Foto: Agnieszka Kwiecień / Wiki Commons

O que procurar na Primavera: a malva-de-três-meses

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Por estes dias, as plantas com flor continuam a brindar-nos e encantam-nos com as suas cores vibrantes e exuberantes e aromas únicos. As temperaturas amenas e agradáveis marcam a mudança da paisagem e os polinizadores ficam mais ativos, pois a abundância de alimento é muito mais elevada. Para as abelhas, borboletas e muitos outros polinizadores, esta é sem dúvida uma época de festa.

Nos campos agrícolas, nos prados, nas bermas de caminhos e em muitos outros locais surgem agora, com flores muito marcantes, as malva-de-três-meses (Lavatera trimestris) – também vulgarmente conhecidas como lavatera-de-três-meses, malva-rosa ou malva-real.

A malva-de-três-meses

A malva-de-três-meses é uma planta herbácea e anual da família Malvaceae, uma das grandes famílias botânicas, com relevância ornamental. Esta é formada por plantas herbáceas, arbustos, árvores e lianas, algumas bem conhecidas dos nossos espaços verdes, como os hibiscos (Hibiscus spp.), as lanternas (Abutilon spp.) e as dombeias (Dombeya spp.).

Esta planta forma um pequeno arbusto, que pode chegar aos 90 a 100 cm de altura. Possui caules ramificados, eretos ou ascendentes, geralmente muito peludos, de cor verde, por vezes avermelhados. As folhas verdes ligam-se aos caules por longos pecíolos, dispõem-se de forma alternada e são de dois tipos. As folhas que se situam na parte superior são geralmente mais pequenas e trilobadas – em forma de triângulo – e as que se situam na parte inferior são cordadas – mais arredondadas, em forma de coração. A folhagem é contrastante com as flores, no entanto não possui características marcantes do ponto de vista ornamental. 

Foto: Agnieszka Kwiecień / Wiki Commons

A abundante floração da malva-de-três-meses ocorre entre os meses de abril e junho, com um coloração rosa forte e marcante. As flores são solitárias, hermafroditas (femininas e masculinas) e grandes, podendo chegar aos 10 cm de diâmetro. Surgem nas axilas das folhas superiores em pedúnculos, mais compridos que os pecíolos das folhas. São radialmente simétricas, possuem cinco pétalas em tons de rosa intenso ou pálido, por vezes lilás ou branco, com estrias mais escuras, criando um efeito e a textura de um leque. Assim como acontece com as folhas, as flores superiores são diferentes das que surgem nos andares inferiores dos caules. 

Além destas características particulares das flores, o conjunto floral é duplamente protegido. Para além de possuir 5 sépalas verdes, triangulares, que constituem o cálice, existe uma outra estrutura – o epicálice – situada abaixo do cálice, formada por 3 brácteas, também elas verdes e triangulares, que vão crescendo e protegendo o fruto até à sua maturação. 

Foto: Joanna Boisse / Wiki Commons

O fruto não tem características marcantes, passando despercebido. É do tipo esquizocarpo, dividido em poções equivalentes, em doze mericarpos, portadores de sementes e cobertos por um disco expandido do eixo central.

O nome genérico Lavatera é dedicado a Heinrich Lavater, médico e naturalista suíço do século XVII e aos seus filhos (Johann Heinrich Lavater e Johann Jacob Lavater) também eles médicos e naturalistas. A designação trimestris, deriva do latim e significa “três meses”, referindo-se ao rápido crescimento, desenvolvimento e floração desta planta – desde que nasce até que floresce bastam três meses.

Silvestre a ornamental

A malva-de-três-meses é uma espécie nativa da região do Mediterrâneo, de Marrocos, Espanha e sul da França até à Turquia e Levante, incluindo as Ilhas Baleares, Córsega, Sardenha, Sicília, Malta e Grécia. 

Em Portugal ocorre espontaneamente, sobretudo no Litoral Centro e no Sul do território continental, tendo sido introduzida no arquipélago dos Açores, onde também se tem desenvolvido muito bem. É frequente em campos de cultivo ou em pousio, em prados, em terrenos incultos, na berma de caminhos, taludes e em clareiras de matos.

Esta planta tem preferência por locais de exposição solar plena e é razoavelmente tolerante a diferentes tipos de solo. Desenvolve-se em solos argilosos, arenosos e calcários, desde que sejam bem drenados, não excessivamente férteis e que não sejam ácidos. Solos encharcados promovem o seu mau desenvolvimento e por consequência o apodrecimento das suas raízes, podendo levá-la à morte.

É uma espécie bastante resistente à seca. Em regiões mais frias não se desenvolve bem, não sendo tolerante ao frio nem às geadas.

Pela beleza e abundância de flores, por possuir uma ramificação volumosa que lhe confere um aspecto vivo e intenso e pelo rápido crescimento, a malva-de-três-meses é muito apreciada como planta ornamental, sendo muito cultivada em jardins, sobretudo de estilo mais campestre. 

É perfeita para a formação de maciços, bordaduras, floreiras e em vasos. O facto de ser uma espécie bastante resistente à seca tem conduzido a que seja amplamente empregue em jardins rochosos e áridos e também é frequente em misturas de sementes de flores silvestres. Pelo elevado interesse que tem revelado do ponto de vista ornamental, foram desenvolvidos numerosos cultivares que privilegiam um menor tamanho da planta e uma maior gama de cores das flores.

Foto: Joanna Boisse / Wiki Commons

A malva-de-três-meses também é muito importante do ponto de vista ecológico. As suas flores são bastante atrativas para abelhas e borboletas, que se alimentam do seu néctar.

Esta planta possuiu ainda outras qualidades e aplicações interessantes. As folhas mais jovens são comestíveis cozinhadas, adicionadas em sopas e em saladas. Do ponto de vista medicinal é reconhecida pelas suas propriedades antirrugas, calmante, anti-inflamatória, expetorante e hidratante. A tisana de folhas de malva-de-três-meses é útil em afecções do sistema digestivo, urinário e respiratório. Tem também aplicações na cosmética e na perfumaria.

Lavatera ou Malva

As espécies do género Lavatera podem ser muitas vezes confundidas com outras plantas da mesma família, pertencentes ao género Malva, com as quais também partilham por vezes os mesmos nomes comuns. As espécies destes dois géneros possuem uma folhagem e floração muito semelhantes, além de crescerem frequentemente nas mesmas condições edafo-climáticas.

As espécies do género Malva são nativas da região mediterrânica e da Eurásia e como o género Lavatera, podem possuir porte herbáceo, arbustivo ou arbóreo, e ciclos de vida anuais, bianuais ou perenes. 

A principal característica que distingue estes dois géneros tem a ver com uma característica morfológica particular. O epicálice, estrutura que se forma na base da flor, abaixo do cálice possui brácteas soldadas (fundidas) no género Lavatera e livres no género Malva. No entanto existe alguma controvérsia entre os taxonomistas nesta diferenciação de géneros, uma vez que o grau de fusão das brácteas é muito variável de espécie para espécie dentro de cada um dos géneros.

Foto: Joanna Boisse / Wiki Commons

Em Portugal, além destes dois géneros, surgem de forma espontânea outros géneros da família Malvaceae: o género Althaea e o género Hibiscus. 

A malva-de-três-meses é conhecida desde a antiguidade pelas suas propriedades medicinais e pelas suas qualidades ornamentais e é sem dúvida uma espécie silvestre bastante interessante. Na linguagem das flores, a malva-dos-três-meses evoca abundância, profusão e doçura. 


Dicionário informal do mundo vegetal: 

Trilobada – folha simples que possui margens profundamente recortadas que a dividem em três pequenos lobos, no entanto, menores que a metade do limbo (parte principal da folha)

Lobo – cada uma das partes do limbo da folha, largas e em regra arredondadas

Cordada – folha de limbo arredondado que possui um chanfro (corte em ângulo ou de esguelha) na base e com a forma de um coração 

Epicálice – estrutura formada por brácteas, situada na base do cálice, semelhante a outro cálice, em geral mais pequeno e que tem a principal função de proteção dos órgãos reprodutores

Esquizocarpo – fruto seco que na maturação se divide em frutos parciais

Mericarpo – porção do fruto formado a partir de cada carpelo e que se separa naturalmente, contendo uma semente

Carpelo – peça floral feminina que após a fecundação dará origem ao fruto

Bráctea – folha modificada, localizada na base da flor, que a protege enquanto está fechada


Todas as semanas, Carine Azevedo dá-lhe a conhecer uma nova planta para descobrir em Portugal. Encontre aqui os outros artigos desta autora.

Carine Azevedo é Mestre em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal, com Licenciatura em Engenharia dos Recursos Florestais. Faz consultoria na gestão de património vegetal ao nível da reabilitação, conservação e segurança de espécies vegetais e de avaliação fitossanitária e de risco. Dedica-se também à comunicação de ciência para partilhar os pormenores fantásticos da vida das plantas. 

Para acções de consultoria, pode contactá-la no mail [email protected]. E pode segui-la também no Instagram.

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