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Foto: Willfried Wende/Pixabay

Como ter um jardim de baixa manutenção

28.04.2023

Na série “Abra espaço para a natureza”, Carine Azevedo responde às dúvidas que temos quando pensamos em tornar um espaço mais amigo do mundo natural.

Gostaria de ter um jardim bonito, mas não tem tempo para cuidar dele? As folhas secas acumulam-se no solo, há infestantes por todo o lado e muitas plantas acabam por morrer? 

Manter um jardim exige algum tempo, cuidado e trabalho, mas existem várias formas de o tornar num espaço de baixa manutenção. Saibam como planear um jardim bonito e fácil de cuidar com a ajuda de algumas ideias práticas e simples, que vão desde a escolha das plantas aos sistemas de rega.

Escolha das plantas

A escolha das plantas para um jardim é um dos pontos chave para criar um espaço bonito e agradável. Numa primeira fase, é fundamental conhecer as plantas que se adequam melhor a determinadas condições edafo-climáticas.

A distribuição, disposição e quantidade também vai contribuir para uma mais fácil manutenção deste espaço verde. Como já referi num artigo anterior, a escolha das árvores, por exemplo, deve  ocorrer de forma a conseguir-se um conjunto harmonioso.

Foto: Joanna Boisse/Wiki Commons

Além disso, importa saber que há plantas mais sensíveis e outras que requerem mais cuidados. Espécies mais exigentes requerem mais dedicação e manutenção. Há também plantas que precisam mais de podas, limpezas, fertilizações e até mesmo de mais rega.

Em contrapartida, outras conseguem crescer praticamente sozinhas, sem necessidade regular de manutenção.

As plantas nativas

As plantas nativas são ótimas e respondem a esses requisitos, uma vez que são adequadas às condições edafo-climáticas da região, e dificilmente exigem muita manutenção. Estas plantas evoluíram para crescer no clima e no solo da sua região de origem, o que significa que são menos exigentes em água, fertilizantes e pesticidas do que as plantas não nativas.

Por outro lado, a sua utilização em jardins contribui para apoiar a vida selvagem local, fornecendo alimento e habitat para pássaros, abelhas, borboletas e outros insetos benéficos.

Algumas das espécies nativas que ficam bem em qualquer jardim em Portugal e que são extremamente resistentes são:

Os catos e as suculentas

Os catos e as suculentas também são plantas incríveis, que requerem pouca manutenção e que podem suportar condições adversas.

Estas plantas do “deserto” podem adicionar um ambiente exótico a qualquer jardim, crescem muito lentamente, gostam de lugares abrigados, luminosos e quentes, e de solos bem drenados.

O excesso de água prejudica o crescimento destas plantas, podendo levar ao seu apodrecimento e morte. A falta de luz e calor pode reduzir o seu desenvolvimento e causar deformações. Nas regiões mais frias são necessários alguns cuidados particulares para proteção no inverno, para que possam prosperar nos meses que atingem temperaturas mais baixas.

O umbigo-de-vénus (Umbilicus rupestris) e o arroz-dos-telhados (Sedum album) são algumas das espécies suculentas nativas de Portugal.

Como lidar com ervas daninhas e infestantes

Quanto às ervas daninhas e infestantes, são um dos maiores pesadelos para quem gosta de jardins. E, embora muitas até não sejam feias, como cresceram num local para onde não foram convidadas tornam-se um incómodo, pois muitas vezes acabam por ocupar o espaço disponível para as espécies plantadas.

A maneira mais comum de as controlar é removê-las à mão. No entanto, este é um trabalho demorado e inglório, pois faça-se o que se fizer, acabam sempre por voltar a aparecer.

Uma forma de impedir o crescimento de plantas indesejadas no jardim é o uso de telas anti-erva. Estas telas são colocadas sobre o solo e impedem o desenvolvimento das ervas daninhas e infestantes, no entanto, a tela assegura que a água e o ar passem através dela, para garantir condições de desenvolvimento das plantas a manter no jardim. Nos locais onde se pretende posicionar uma planta, a tela deve ser cortada para que a planta seja aí plantada.

Para tornar o espaço mais agradável, existem diversas alternativas de cobertura, que ajudarão a esconder a tela e a criar um jardim mais autêntico.

– A casca de pinheiro é um material orgânico que conserva a humidade no solo, contribuindo para economizar água e ajuda a proteger as plantas de eventuais oscilações térmicas que possam ocorrer ao longo do ano.

– A pedra decorativa é um material inerte e natural, que proporcionará designs únicos e espetaculares. Esta é uma alternativa mais durável e de baixa manutenção em comparação com outros materiais. Existe uma grande variedade de tamanhos e cores, que dependem apenas do gosto de cada um e do espaço disponível.

– Uma alternativa natural é o uso de plantas rastejantes, que não crescem muito em altura e que se espalham naturalmente sobre o solo. A flor-de-mel (Lobularia maritima subsp. maritima), a ajuga (Ajuga reptans), o tomilho (Thymus spp.), a uva-de-gato (Sedum hirsutum) e o alecrim-rasteiro (Salvia rosmarinus) são exemplos de plantas nativas, de cobertura do solo, que também possuem belas flores que ajudarão a tornar o jardim mais bonito e atraente para os polinizadores.

Outros pequenos (grandes) truques para a manutenção do jardim

Sejam quais forem as plantas, será sempre necessário regar. A instalação de um sistema de rega automatizado ajudará a minimizar o tempo gasto nessa tarefa, além de garantir que não se esquece de regar as suas plantas.

A rega gota-a-gota é uma solução de rega localizada muito eficaz. Permite fornecer água nas quantidades certas e com a regularidade adequada, quase sem desperdícios, garantindo que só se consome a água estritamente necessária.

O uso de vasos é também uma solução na criação de jardins de pouca manutenção, já que ajuda a limitar o crescimento das raízes, evitando que as plantas cresçam demasiado.

Esta particularidade é também vantajosa para jardins pequenos, varandas e terraços, já que oferece oportunidades de crescimento flexíveis. Cultivar plantas em vasos é também uma maneira fácil de criar ambientes instantâneos e mutáveis conforme a época do ano, já que permite deslocar as plantas de um lugar para o outro.

No entanto, importa ter em consideração que as plantas que crescem em vasos não têm acesso a tanta humidade quanto as que crescem no solo, por isso precisarão de ser regadas com mais frequência para garantir a humidade necessária ao seu bom desenvolvimento. 

Conclusão

Ter um jardim bonito e agradável não significa necessariamente que precisa de passar todo o tempo livre a cuidar dele. Além disso, o jardim não precisa de apresentar um aspeto regular e perfeito. Uma abordagem mais relaxada e informal pode tornar o jardim num espaço mais próximo da natureza e, simultaneamente, amigo da vida selvagem, como acontece com a escolha de sebes informais, das quais já falei num artigo anterior.

Uma folha ou duas caídas, ou uma erva daninha, não estragarão o cenário como fariam se esse espaço verde fosse mais formal. Abraçar as peculiaridades do mundo natural pode trazer uma grande satisfação.

Embora a baixa manutenção possa significar coisas diferentes para pessoas diferentes, o que interessa é não desistir de ter um jardim, pois existem inúmeras soluções. Basta ser criativo.


Todas as semanas, durante mais de dois anos, Carine Azevedo deu-lhe a conhecer novas plantas para descobrir em Portugal. Encontre aqui todos os artigos desta autora.

Carine Azevedo é Mestre em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal, com Licenciatura em Engenharia dos Recursos Florestais. Faz consultoria na gestão de património vegetal ao nível da reabilitação, conservação e segurança de espécies vegetais e de avaliação fitossanitária e de risco. Dedica-se também à comunicação de ciência para partilhar os pormenores fantásticos da vida das plantas. 

Para acções de consultoria, pode contactá-la no mail [email protected]. E pode segui-la também no Instagram.

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