Depois de uns dias de chuva nada como voltar a ver o sol brilhar e sair para explorar o que há de novo na natureza. Durante o meu passeio, na pequena mata que existe perto de casa, encontrei imensas flores de Bonina (Bellis perennis). Esta pequena planta rústica e espontânea está agora em flor e podemos encontrá-la junto a caminhos, nos prados, nos campos, nos jardins e até em relvados das cidades.
A bonina
A bonina, também conhecida como margarida ou rapazinhos, pertence à família das Asteraceae, uma das maiores famílias de plantas. Esta família compreende mais de 1.600 géneros e 23.000 espécies. Em Portugal, é representada por cerca de 118 géneros e 376 espécies, distribuídas um pouco por todo o país.
É uma pequena planta herbácea e perene que pode atingir até 20 cm de altura. As suas folhas, verde vivo, com uma só nervura e de margens serradas, têm forma espatulada e estão cobertas de pelos. Dispõem-se em roseta achatada, ou seja, as folhas dispõem de modo a formarem um círculo, todas situadas à mesma altura, junto ao solo.
As suas flores surgem acima das folhas, numa haste floral fina, com cerca de 15 a 20 cm de altura. São hermafroditas, aparecem dispostas em inflorescências – capítulos, e são de dois tipos: tubulares, que têm a forma de pequenos tubos amarelos, dispostos em capítulo (parte central, de cor amarela, da inflorescência) e as outras, surgem na zona marginal, que contorna esse disco amarelo de flores, e são denominadas de lígulas, ou flores brancas, rosadas ou avermelhadas, femininas, muitas vezes confundidas como pétalas.
O fruto é uma cipsela, ou fruto seco, com uma única semente, provido de um tufo de pelos que ajuda à sua dispersão pelo vento. As sementes são pequenas, ovadas, castanhas e pubescentes e as raízes são carnudas.
A denominação científica de Bellis perennis é muito intuitiva, está muito relacionada com a sua beleza e a sua profusão de flores ao longo de todo o ano. O nome do género Bellis, deriva do latim Bellus que significa “bela” ou “graciosa” e perennis, formada a partir da combinação de duas palavras, também do latim, per-+ – annuus que significa “durante todo o ano” ou “perene”, referente ao ciclo de vida da espécie. No entanto alguns autores referem que Bellis deriva da palavra latina Bellum, que significa “guerra”, em referência à sua capacidade de curar feridas.
Ornamental, comestível e medicinal
A bonina é uma planta nativa no continente europeu, sendo mais comum no centro e sul da Europa. Em Portugal surge um pouco por todo o território continental e é também espontânea nas ilhas da Madeira e dos Açores, onde terá sido introduzida no passado.
Tem preferência por uma exposição solar plena ou meia sombra, solos férteis, bem drenados e ricos em matéria orgânica. Tolerante ao frio, floresce abundantemente no inverno, no entanto não tolera geadas fortes, nem solos encharcados.
A profusão de flores e cores desta pequena e delicada planta, tornam-na muito interessante do ponto de vista ornamental, sendo muito utilizada em vasos, floreiras, em canteiros, bordaduras e maciços de jardins privados ou em espaços públicos. Por possuir hastes florais fortes e duráveis a bonina é também muito utilizada como flor-de-corte, na composição floral de arranjos e bouquets.
Além destas características ornamentais, esta planta é também comestível. As folhas jovens e as flores são comestíveis, cruas ou cozidas, utilizadas em saladas ou para decorar pratos.
Do ponto de vista medicinal, esta planta tem algumas propriedades terapêuticas. As suas folhas e flores têm sido usadas no tratamento de eczemas, acne, queimaduras, inflamações da pele, dores articulares, etc. Apresenta também propriedades cicatrizantes e depurativas, além de ser um excelente expectorante e antitússico. A infusão de flores e folhas pode servir como repelente de insetos.
A floração prolongada e o marcante disco floral tornam-na importante do ponto de vista ecológico, uma vez que atrai muito facilmente inúmeros insetos. As suas flores são muito visitadas por abelhas, abelhões, borboletas e escaravelhos, etc. e são uma excelente fonte de alimento fora da primavera. Quando surgem nos relvados, não é aconselhável o corte rente ou com muita frequência para não destruir as flores espontâneas.
Outras Bellis em Portugal
Em Portugal continental ocorrem, de forma espontânea, outras duas espécies do género Bellis.
A Bellis annua, vulgarmente conhecida como bonina-dos-prados, bonina-dos-campos ou margarida-anual, é uma planta anual de menor porte que as restantes do género. Distingue-se delas, sobretudo, pela forma das folhas, ligeiramente mais obovadas (forma oval, com parte mais estreita para baixo) e com margens mais crenadas, com recortes da folha mais arredondados. As inflorescências são mais pequenas e possui pelos mais rígidos. As suas raízes são muito finas. Esta espécie ruderal pode encontrar-se em zonas de prado, clareira de matos, bermas de estradas e caminhos e em locais com alguma humidade, um pouco por todo o território nacional, mas com maior predominância a sul.
A Bellis sylvestris, conhecida vulgarmente como margarida-brava ou margarida-do-monte, é uma planta vivaz, como a Bellis perennis. Distingue-se pelo caule praticamente inexistente e pelas folhas de cor verde-escura, compridas, com forma oblonga e com 3 nervuras. Os capítulos (inflorescências) são ligeiramente maiores que os da Bellis perennis e as flores líguladas são muitas vezes tingidas de púrpura, na parte posterior. As suas raízes são igualmente carnudas e ao contrário das outras espécies do género, o fruto desta planta, a cipsela, não apresenta um tufo de pelos que ajudará a dispersão pelo vento. As sementes caiem no solo, junto da planta, sendo as formigas as principais responsáveis pela sua disseminação. Esta espécie pode encontrar-se um pouco por todo o território nacional, em zonas de matos e em relvados húmidos.
Estas pequenas plantas encontram-se por todo o lado. Quem nunca colheu uma flor da bonina ou da margarida-do-monte e jogou “ama-me, não me ama?”. Um jogo que consiste em remover as lígulas (confundidas como pétalas) brancas ou rosadas, uma a uma, alternando as palavras “ama-me” e “não me ama” cada vez que se retira uma. O que é dito na última lígula (“pétala”) indicará a resposta à sua pergunta. Procurem-nas nas vossas caminhadas, joguem, divirtam-se.
Todas as semanas, Carine Azevedo dá-lhe a conhecer uma nova planta para descobrir em Portugal. Encontre aqui os outros artigos desta autora.
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