Esta série é uma parceria Wilder e Sociedade Portuguesa de Ecologia, que nos dá a conhecer diferentes ecólogos portugueses. Desta vez, ficamos a conhecer uma professora e investigadora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que trabalha com ecologia subterrânea.
“Gosto de andar ali às voltas, a ler, e a tentar encontrar explicação para algo que ainda não sabemos. Também gosto quando finalmente encontramos uma resposta, o que nem sempre acontece”, descreve Ana Sofia Reboleira sobre o que faz como investigadora, um trabalho ao longo do qual já descreveu muitas novas espécies para a ciência, em especial ligadas a grutas subterrâneas. “Talvez a parte mais interessante do trabalho seja quando os resultados contradizem aquilo que tínhamos previsto inicialmente como hipótese e quando não conseguimos explicar os resultados”, considera.
O que faz como ecóloga?
Sou professora na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde atualmente ensino Ecologia Numérica, Biodiversidade e Adaptação, e Ecologia Animal Terrestre, onde pertenço à comissão coordenadora do programa doutoral em Biologia e Ecologia das Alterações Globais. Lidero o grupo de investigação em Ecologia Subterrânea do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, que se debruça essencialmente sobre compreender a diversidade e evolução da vida, e os impactos das atividades antropogénicas nos ecossistemas, com abordagens multidisciplinares para o estudo da biodiversidade, ecologia, evolução, comportamento, fisiologia e ecotoxicologia.
Nestas investigações, utilizam-se como modelo artrópodes adaptados a ecossistemas subterrâneos e interações parasita-hospedeiro, principalmente ligadas a associações artrópodes-fungos e microbiomas de cavernas. Sou também curadora no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, da Universidade de Lisboa.
Como começou na ecologia?
Sempre tive muita curiosidade pela natureza e foi-me incutida, desde tenra idade, a importância da conservação da natureza, que está intrinsecamente ligada à ecologia. Depois, na Escola Secundária, tive professores de biologia muito bons que solidificaram o interesse nesta área. Destaco também uma palestra oferecida pelo Professor Jorge Paiva da Universidade de Coimbra, que se deslocou à escola onde estudava, e cujo impacto perdura até hoje e moldou bastante a minha perspectiva ecológica. Depois estudei biologia na Universidade de Aveiro e especializei-me em ecologia subterrânea.
Qual é a melhor parte do seu trabalho?
Gosto sobretudo de trabalhar em temas sobre os quais se sabe muito pouco (ou nada), tenho muita curiosidade pelo desconhecido. Talvez a parte mais interessante do trabalho seja quando os resultados contradizem aquilo que tínhamos previsto inicialmente como hipótese e quando não conseguimos explicar os resultados. Gosto de andar ali às voltas, a ler, e a tentar encontrar explicação para algo que ainda não sabemos. Também gosto quando finalmente encontramos uma resposta, o que nem sempre acontece. A melhor parte do trabalho são as pessoas, os alunos e os colegas, com os quais trabalhamos e com os quais partilhamos estas questões e a alegria da descoberta. Há algo na alegria da descoberta que anima muito. Depois há um sentido de dever cumprido quando vemos os resultados do nosso trabalho a contribuirem para a conservação da natureza.
Porque é a ecologia importante?
Em biologia, tudo está ligado, interconectado e é complexo. É sempre mais complexo a partir do momento em que começamos a aprofundar o conhecimento. Acho que nada em biologia se pode compreender desligado do contexto ecológico em que se insere, portanto a ecologia é central e fundamental para os biólogos.
O que gostaria de fazer mas ainda não fez?
Há muitas questões ecológicas que ainda não compreendemos, muita biodiversidade que ainda não conhecemos, o que gostaria de fazer vai um pouco no sentido de solucionar essas questões.
A série “À Conversa com um Ecológo” é uma parceria entre a revista Wilder e a Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO). Serão vários os investigadores portugueses, de todas as idades, que vão estar aqui a explicar o que fazem e o que é a Ecologia. Para celebrar o Dia da Ecologia, que se comemora em Setembro. Recorde os testemunhos de Filipa Coutinho Soares, Mário Santos, Susana C. Gonçalves, Zara Teixeira, Maria Amélia Martins-Loução, Carlos Vila-Viçosa, Hélia Marchante, Ruben Heleno, Ana Paula Portela e Pedro Anastácio.