ASOC foi escolhida pelo seu trabalho “na proteção de um dos mais cruciais e frágeis ecossistemas do mundo”. Vai receber 1 milhão de euros.
A Antarctic and Southern Ocean Coalition (ASOC) é a vencedora do Prémio Gulbenkian para a Humanidade 2025, anunciou esta semana a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), destacando o trabalho desta organização “na proteção de um dos mais cruciais e frágeis ecossistemas do mundo e na preservação de um dos territórios mais remotos do planeta”.
O prémio foi atribuído por um júri independente liderado por Angela Merkel, ex-chanceler da Alemanha. A ASOC foi escolhida entre um total de 212 nomeações de 115 países, “pela sua liderança na proteção de regiões vitais para a estabilidade climática global, a colaboração internacional e a advocacy sustentada na ciência”, sustenta a Fundação.
A ASOC começou a ser pensada em meados dos anos 1970 por iniciativa de James Barnes, depois de este advogado e conservacionista se ter apercebido de que as Partes do Tratado da Antártida se preparavam para admitir, secretamente, a prospeção de minerais e de gás. Este tratado tinha sido assinado em 1959 por 12 países – hoje o tratado conta com 57 partes – definindo aquele continente como um continente de paz e uma reserva científica e para fins pacíficos, proibindo a atividade militar.
Mas nos anos 1970, tudo isso estava em perigo de mudar. À medida que mais organizações ambientais eram alertadas para o que estava a suceder, começou a tornar-se claro que seria necessária uma resposta global, explica a ASOC no seu site. Foi assim que esta coligação nasceu, em 1978, juntando 25 membros fundadores. Atualmente, junta organizações ambientais de mais de 10 países – incluindo por exemplo o WWF, a Blue Nature Alliance e a Conservation International – “formando uma coligação resiliente e articulada de membros, parceiros, ativistas e apoiantes”, descreve a nota publicada pela sobre o prémio.
Uma vez que a Antártida está fora da jurisdição de um único Estado, tem sido protegida ao longo dos anos graças à cooperação multilateral. “Ao longo dos últimos 50 anos, a ASOC tem demonstrado, de forma consistente, como uma voz única, assente num objetivo partilhado e num compromisso a longo prazo, pode influenciar a governação e a preservação de um dos ambientes mais intocados do planeta.”
Prémio atribuído num “momento crítico”
A Antártida agrega cerca de 90% do gelo terrestre e cerca de 70% da água doce do planeta. O Oceano Antártico representa cerca de um décimo do oceano global e alberga quase 10.000 espécies únicas. As suas poderosas correntes regulam as temperaturas do planeta, impulsionam os ciclos de nutrientes e sustentam a biodiversidade marinha que constitui a base da cadeia alimentar global.
No entanto, nota a Fundação, esta região atravessa hoje “um momento crítico”, afetada por impactos climáticos acelerados como a ocorrência de fortes anomalias na temperatura, ondas de calor marinhas e ainda a diminuição do gelo marinho, com partes da Antártida a aquecerem mais do dobro da média global.
O Prémio é atribuído numa altura em que as Nações Unidas declararam 2025 como o Ano Internacional da Preservação dos Glaciares, lançando a Década de Ação para as Ciências da Criosfera (2025-2034).
“A comunidade internacional está finalmente a reconhecer o papel essencial da criosfera — os mantos de gelo, os glaciares e as calotes polares da Terra — na regulação do clima”, nota também a nota divulgada, que afirma que “a liderança da ASOC ajuda a transformar o conhecimento científico em ação global, salvaguardando os sistemas dos quais a vida na Terra depende”.