Dar nome à traça: As cinco espécies de Setembro

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Conte-nos que nome comum gostaria de dar a estas cinco espécies de borboletas que apenas têm nome científico. Submeta as suas propostas neste formulário e junte-se à iniciativa Dar nome à traça, da associação Rede de Estações de Borboletas Noturnas, em parceria com a Wilder. As borboletas de agosto receberam mais de 20 sugestões.

Antes de lhe apresentarmos as cinco espécies à procura de nome em Junho, aqui ficam os nomes selecionados do desafio de julho:

  • Falsa-esmeralda para Aplasta ononaria (Fuessly, 1783)
  • Delta-da-costa para Grammodes bifasciata (Petagna, 1786)
  • Delta-do-mato para Grammodes stolida (Fabricius, 1775)
  • Esfalerite-da-madressilva para Lophoterges millierei (Staudinger, 1870)
  • Tropa-das-gramíneas para Chlorothalpa graslini (Culot, 1913)

As propostas para o desafio de agosto ainda estão a ser selecionadas.

Chondrostega vandalicia (Millière, 1865)

A espécie Chondrostega vandalicia é endémica da Península Ibérica, pertencente à família Lasiocampidae, e ocorre no centro e norte ibéricos. Em Portugal continental surge desde o final de julho até setembro, observando-se apenas nas zonas da Beira Baixa, Beira Alta e Trás-os-Montes, em encostas e prados rochosos. As suas larvas são polifágas, ou seja, alimentam-se de um conjunto diverso de ervas e de gramíneas, desde as azedinhas (Rumex acetosella) e o nardo (Nardus stricta) ao feno-de-cheiro-anual (Anthoxanthum aristatum), entre outras.

Um facto curioso nesta borboleta é que apenas os machos são alados, com asas acastanhadas e uma envergadura entre 13 e 15 milímetros. Estes exibem também antenas com filamentos bastante desenvolvidos e um corpo bastante peludo, assumindo uma forma peculiar de repouso, com as asas fechadas e praticamente na vertical. Já as fêmeas são castanhas e ápteras (sem asas), não conseguindo voar, e por isso caminham como forma de locomoção.

Os nomes comuns desta espécie, tanto em francês – “Andalouse” – como em inglês – “Andalusian Eggar” – remetem ambos para a região espanhola da Andaluzia. No entanto, os relatos desta espécie para Granada, Jaén e Cáceres (Extremadura), são na realidade de outra espécie, Chondrostega escobesae, que apenas foi descrita em 2015. Outra possível justificação para essas escolhas poderá ser o nome dado à Península Ibérica no século VIII – Al-Andaluz ou Al-Ândaluz.

Cleorodes lichenaria (Hufnagel, 1767)

A espécie Cleorodes lichenaria pertence à família Geometridae, mas tem uma caraterística incomum para as borboletas desta família – alimenta-se de líquenes, em vez da folhagem de árvores e de herbáceas. Esta traça distribui-se desde a Península Ibérica pelo Sul e Centro da Europa até ao Cáucaso, estando presente nas regiões do Minho, Trás-os-Montes, Beira Alta e Beira Litoral de Portugal continental. Com uma envergadura entre 31 e 38 milímetros, voa de junho a agosto. Podemos encontrá-la principalmente em habitats florestais que contenham diferentes arbustos e árvores fortemente cobertas de líquenes.

O restritivo específico, lichenaria, deriva diretamente da sua dieta na fase larvar, baseada em líquenes. Quanto à aparência desta traça, com os seus tons amarelados, esverdeados e rosados, as duas linhas negras irregulares e recortadas e o seu pontilhado contrastante, trata-se de uma adaptação de camuflagem.

O seu nome comum em francês, “Boarmie des lichens”, remete para a alimentação das lagartas, enquanto o nome comum em inglês, “Brussels Lace”, remete para um tipo de renda que é desenvolvida na Bélgica, como renda de bilros, em que as formas centrais são desenvolvidas em primeiro lugar e posteriormente acrescenta-se a base em rede. Este nome comum pode assim estar relacionado com o destaque que têm os padrões desta espécie, em comparação à cor de fundo.

Trachea atriplicis (Linnaeus, 1758)

A borboleta Trachea atriplicis é da família Noctuidae. Distribui-se por toda a Europa, Norte de África e Ásia até ao Japão. Em Portugal ocorre apenas na metade norte. Prefere áreas ruderais húmidas, margens de rios, trilhos, margens de florestas e por vezes até prados geridos extensivamente.

O seu nome em latim está associado a uma das plantas de que a lagarta se alimenta – Atriplex (salgadeira) – apesar de ser polífaga e alimentar-se por isso de uma grande variedade de herbáceas. Curiosamente, os vernáculos inglês e francês fazem também referência à mesma planta. No padrão das asas anteriores, destacam-se a cor verde e uma vincada mancha branca central. Os adultos podem atingir uma envergadura entre os 38 a 42 milímetros.

Chloroclystis v-ata (Haworth, 1809)

Chloroclystis v-ata é uma borboleta que se distribui pela Europa (exceto no norte da Escandinávia) e pela Ásia temperada, até ao Japão. Em Portugal continental restringe-se à metade norte do território, vivendo em habitats diversos, como florestas e zonas abertas. As lagartas alimentam-se das flores de várias plantas, como o sabugueiro (Sambucus spp.), o trevo-cervino (Eupatorium cannabinum) e a vide-branca (Clematis vitalba), entre outras.

Esta é uma espécie da família Geometridae, com uma envergadura entre 14 e 19 milímetros. É fácil de identificar pelo seu tamanho pequeno, a cor verde e também a presença de marcas negras em formato de V. Além disso, coloca-se numa posição de repouso triangular.

O seu restritivo específico, v-ata, está diretamente relacionado com as marcas em V que esta traça exibe nas asas anteriores, traduzindo-se para “que tem V”. O mesmo sucede com o nome comum em inglês, “V-pug”. Aliás, o nome “pug” é utilizado para a generalidade das borboletas do género Eupithecia e de outros relacionados.

Calamodes occitanaria (Duponchel, 1829)

A espécie Calamodes occitanaria é outra borboleta que pertence à família Geometridae. Pode observar-se na Europa atlanto-mediterrânica, nomeadamente na Península Ibérica, em Andorra, França (excluindo Córsega) e Itália. Em Portugal continental, encontra-se distribuída um pouco por todo o território, exceto no Minho e Douro Litoral.

O restritivo específico desta traça, occitanaria, tem origem na sua área de distribuição, nomeadamente nos territórios que correspondiam à Occitânia, uma antiga região histórica no Sudeste da Europa onde a língua occitana era falada, e que se estendia pela maior parte do sul de França, parte de Espanha, pelo Mónaco e partes de Itália (Vales Occitanos). Tanto o seu nome comum em inglês, “Occitan lined”, como em francês, “Boarmie occitane”, fazem também referência a essa questão.

Trata-se de uma espécie relativamente pequena (machos com 27 a 29 milímetros e fêmeas com 29 a 30 milímetros de envergadura), com tons acastanhados, acinzentados ou esbranquiçados de base, e uma série de linhas negras tanto nas asas anteriores como posteriores, criando uma ilusão de zebrado em alguns indivíduos. Habita em matos e matagais, onde as suas lagartas se alimentam de diversas plantas, como tomilho (Thymus spp.), lavanda (Lavandula spp.), erva-mata-pulgas (Dorycnium pentaphyllum), entre outras.


Descubra mais sobre a iniciativa “Dar nome à traça” . E recorde aqui todas as outras borboletas que já foram batizadas, no âmbito deste projeto.

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