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LIFE Aegypius Return: Já há 34 crias de abutre-preto marcadas com emissores

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As equipas do projeto marcaram este Verão mais 19 crias de abutre-preto (Aegypius monachus) com emissores GPS/GSM, que poderão ser seguidas à distância quando começarem a explorar os territórios longe do ninho.

“Incluindo as 15 crias relativas a 2023, temos agora um total de 34 crias de abutre-preto já marcadas “, explicou à Wilder Milene Matos, coordenadora deste projeto que pretende acelerar a recolonização natural do território pelo maior abutre da Europa, classificado como Em Perigo de extinção em Portugal. Além da colocação dos pequenos emissores, as crias são também medidas e pesadas e os técnicos recolhem sangue e outras amostras biológicas, num processo complexo que exige a retirada temporária do ninho.

abutre em voo
Abutre-preto (Aegypius monachus) em voo. Foto: Artemy Voikhansky/Wiki Commons

Foi no Parque Natural do Tejo Internacional que se marcaram mais crias este ano, num total de sete – incluindo a cria de um dos abutres fundadores desta colónia, Aravil. Esta área protegida na Beira Baixa foi a primeira onde os abutres-pretos voltaram a nidificar em 2010, depois de se terem extinguido no país na década de 1970. De acordo com os números do projeto, este ano foram aqui contados 61 casais nidificantes (ou seja, que fizeram ninho, embora isso não signifique que chegam a reproduzir-se), incluindo 15 do outro lado da fronteira.

Já na Herdade da Contenda, onde está o terceiro núcleo mais antigo da espécie, foram agora marcadas três crias, que assim passarão a ser seguidas à distância quando deixarem os ninhos. Nesta colónia que fica no concelho de Moura, Baixo Alentejo, foram detetados agora 20 casais nidificantes, incluindo cinco do lado espanhol da fronteira.

A colónia mais isolada e uma jaula de aclimatação

Mais a norte, a equipa do projeto marcou outras três crias na zona do Parque Natural do Douro Internacional – incluindo uma em território espanhol, pois esta colónia continua do outro lado da fronteira. Existe agora aliás um número recorde de casais nidificantes, indicou a coordenadora do LIFE Aegypius Return: cinco do lado português e outros três em Espanha, no Parque Natural de Arribes del Duero.

Uma das crias de abutre-preto marcadas este ano no Douro Internacional. Foto: Palombar

Tendo em conta os últimos anos, no entanto, os números de abutre-preto nesta região de fronteira têm crescido bem devagar: desde a deteção do primeiro casal nidificante, em 2012, passaram-se sete anos até juntar-se mais um casal da espécie. “Esta é a colónia mais isolada de todas, pois fica situada a mais de 100 quilómetros de outra colónia de abutre-preto”, justificou Milene Matos. É dessa colónia distante que seria mais provável chegarem ao Douro Internacional outras aves em idade de reprodução, em busca de novos territórios para se se estabelecerem, mas o número de quilómetros a que fica tem sido um travão nesse processo.

E por isso, no final de maio, os responsáveis do LIFE Aegypius Return inauguraram na zona do Douro Internacional uma jaula de aclimatação, no concelho de Freixo de Espada à Cinta, esperando-se que incentive mais abutres-pretos a ficarem nesse território. Neste momento estão aí quatro juvenis vindos de outros núcleos populacionais, que em setembro ou outubro serão libertados, num processo conhecido como ‘soft release’, e também marcados com emissores.

Cria de abutre-preto na Serra da Malcata. Foto: VCF

Quanto à Serra da Malcata, na fronteira entre a Beira Baixa e a Beira Alta, foram marcadas cinco crias das seis que estavam planeadas, uma vez que os técnicos se aperceberam de que a sexta era ainda demasiado jovem. Nos próximos tempos, irá ser vigiada à distância, até que se confirme se é possível ser marcada com um emissor. Este núcleo da espécie, detetado apenas em 2021, tem tido um rápido crescimento: começou com a observação de apenas quatro casais, há três anos, e conta atualmente com 19 casais nidificantes.

Por fim no concelho alentejano da Vidigueira, onde este ano foi encontrado um quinto núcleo populacional de abutres-pretos, com 10 aves adultas, foi observado apenas um casal reprodutor confirmado. A cria foi já marcada.

Total de casais sobe para 109

No total, adiantou Milene Matos, foram observados este ano 109 casais nidificantes, mais do que os 80 casais que eram a meta final deste projeto, que termina em 2027. Mas a responsável da equipa prefere ser cuidadosa: “Estes são bons indícios de que a espécie está a recuperar, mas pode ainda acontecer uma grande tempestade ou outro evento que deite tudo a perder”, ressalvou.

Quanto ao futuro, nos próximos tempos haverá mais abutres-pretos marcados com emissores GPS/GSM, uma vez que o orçamento do LIFE Aegypius Return prevê que tal aconteça com 60 abutres-pretos. Com um total de 34 crias já marcadas, os alvos são agora os juvenis que serão libertados em ‘soft release’, no Douro, e também adultos acolhidos em centros de reabilitação.

Iniciado no final de 2022, o LIFE Aegypius Return é co-financiado por fundos comunitários e liderado pela Vulture Conservation Foundation. Além dessa ONG europeia, estão envolvidos outros nove parceiros beneficiários, incluindo a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, a Liga para a Proteção da Natureza, a Palombar e a espanhola Fundación Naturaleza Y Hombre. Nos trabalhos que têm vindo a ser feitos, o projeto conta ainda com o apoio de outras entidades, como o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, a Quercus, a Rewilding Portugal e as universidades do Alto Douro e Trás-os-Montes, de Oviedo e de Murcia.


Saiba mais.

Recorde a história de Aravil, um dos primeiros abutre do Tejo Internacional, cuja cria foi agora anilhada. E leia aqui mais notícias e histórias sobre esta espécie icónica, a maior ave necrófaga do continente europeu.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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