A migração é um fenómeno que diz respeito a um grande número de espécies e, em muitos casos, é um verdadeiro espectáculo. A Sociedade de Ornitologia Espanhola (SEO/Birdlife) destaca algumas espécies espantosas que estão de regresso.
Ainda que as andorinhas, os andorinhões e as cegonhas sejam as aves que têm maior reconhecimento popular, há outras que realizam viagens espantosas. Por estes dias são centenas de milhares as aves que revoluteiam ou planam pelas nossas latitudes à procura de um lugar para se reproduzir.
Entre elas está o abutre-do-egipto (Neophron percnopterus), o mais pequeno dos abutres-ibéricos e o único totalmente migratório.
Esta ave de aspecto um tanto ou quanto “excêntrico” voa até à África Ocidental para passar o Inverno. É lá que os jovens passam os seus primeiros anos de vida, antes de regressar para a Península Ibérica para se reproduzir. A partir de então, e durante o resto das suas vidas, repetirão esta rota migratória.
O abutre-do-egipto é uma das primeiras aves para as quais se descreveu o uso de ferramentas, neste caso de pedras que usam para quebrar ovos de avestruz nos seus locais de invernada, um comportamento herdado e não aprendido.
Nos arquipélagos das Canárias e da ilhas Baleares, as populações desta espécie são sedentárias, como adaptação a um ambiente comparativamente mais estável e ao risco de atravessar grandes superfícies de mar aberto.
Outra ave, desta vez nocturna, também está de volta. O mocho-pequeno-d’orelhas (Otus scops) é uma das rapinas mais pequenas da Europa e está de regresso das florestas da África Ocidental, desde a Mauritânia à Serra Leoa. Este pequeno mocho, que é um grande consumidor de insectos, pode ser muito difícil de observar graças à sua eficiente camuflagem.
Em Portugal, esta espécie está classificada como Vulnerável e começa a chegar ao Sul do país a partir de Fevereiro.
Entre as rapinas que estão de volta à Península Ibérica está uma espécie talvez mais desconhecida, a ógea (Falco subbuteo). Este pequeno falcão está classificado como Vulnerável em Portugal e Em Perigo de extinção em Espanha. Na Primavera, esta ave que, “à primeira vista, pode fazer lembrar um andorinhão gigante”, segundo o portal Aves de Portugal, regressa à Península Ibérica depois de ter passado o Inverno na África sub-saariana.
É nesta estação do ano que recebemos de volta o peneireiro-das-torres (Falco naumanni), espécie Em Perigo em Portugal e Vulnerável em Espanha. Vem, sobretudo, da zona do Senegal, onde há dormitórios que acolhem dezenas de milhares de aves.
Do Sahel voltam os tartaranhões-caçadores (Circus pygargus) para se reproduzir nas grandes planícies agrícolas e pastagens da Europa. Esta espécie Em Perigo de extinção tem a decorrer o projecto LIFE SOS Pygargus que está a implementar acções urgentes de conservação.
Entre as espécies provavelmente mais conhecidas e fáceis de observar está o milhafre-preto (Milvus migrans) que, pelo seu comportamento gregário e pelo seu hábito de se aproximar de estradas, podemos ver com alguma facilidade. Por estes dias está a voltar da África subsaariana.
A águia-calçada (Hieraaetus pennatus) também atravessa o Estreito de Gibraltar, juntamente com centenas de milhares de rapinas de tamanho médio.
No mesmo patamar de tamanho encontra-se uma das águias mais espectaculares, a águia-cobreira (Circaetus gallicus). Esta é outra migradora que, nesta altura do ano, regressa dos seus territórios de invernada no Sahel para se reproduzir em Portugal e Espanha.
Esta ave de olhos amarelos e que se especializou na captura de répteis, chega geralmente em Março e parte em Setembro, segundo o Aves de Portugal.
Por seu lado, os bútios-vespeiros (Pernis apivorus) cruzam os nossos céus aos milhares vindos de uma faixa que vai desde o Senegal à Nigéria rumo ao resto da Europa. Passam muito desapercebidos. Segundo o portal Aves de Portugal, esta rapina pouco comum “é um nidificante estival que chega bastante tarde, pelo que as melhores épocas para observar a espécie vão de Maio a Setembro ou início de Outubro”.