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Grifo-de-Rüppell (Gyps rueppelli)
Grifo-de-Rüppell (Gyps rueppelli). Foto: Charles J. Sharp/WikiCommons

Grifo-de-Rüppell encontrado morto no Alentejo

21.07.2025

Um grifo-de-Rüppell (Gyps rueppelli), espécie relativamente rara em Portugal, foi encontrado morto a 3 de Julho perto de Beja. As causas da morte ainda estão a ser apuradas mas há suspeitas de este ser um caso de envenenamento.

A ave foi encontrada graças ao emissor GPS/GSM que o GREFA (Grupo de Rehabilitación de la Fauna Autóctona y su Hábitat, da região de Madrid, Espanha) lhe tinha colocado para estudar os seus movimentos.

A 2 de Julho, técnicos do GREFA deram o alerta porque o emissor GPS/GSM indicava que o abutre poderia estar morto ou que o emissor tinha caído.

A última localização registada era perto de Beja, o que levou a equipa espanhola a contactar o projeto LIFE Aegypius Return para obter ajuda.

Na manhã de 3 de julho, uma patrulha do Núcleo de Proteção Ambiental (NPA) de Beja da GNR localizou o abutre, que estava morto. O cadáver foi recolhido seguindo o Protocolo Antídoto – o procedimento formal que garante a recolha e o processamento adequados das provas, em casos de suspeita de envenenamento – e foi transportado para o Hospital Veterinário da Universidade de Évora, instituição de referência para realização de necrópsias e análises forenses na região.

As patrulhas caninas do Grupo de Intervenção Cinotécnico (GIC) perscrutaram a área onde o abutre foi encontrado e todos os locais que a ave tinha visitado nos dias anteriores.

“Durante as buscas, foram encontrados dois gaios (Garrulus glandarius) mortos, o que aumenta as suspeitas de se tratar de um caso de envenenamento. Estas aves serão analisadas juntamente com o abutre para se investigar a causa da morte”, segundo um comunicado da Liga para a Protecção da Natureza (LPN).

Este grifo foi marcado no norte de Marrocos a 2 de maio de 2025. A 12 de junho, atravessou o Estreito de Gibraltar, em direção à Europa. Voando para norte, passou pela Andaluzia e chegou perto de Mérida, na Estremadura (Espanha), onde permaneceu durante cerca de uma semana.

No dia 28 de junho, entrou em Portugal, sobrevoando Serpa e Beja.

“Os dados do emissor GPS/GSM evidenciavam um comportamento normal. No entanto, no dia 29 de junho, começou a mostrar padrões de movimento invulgares – voando distâncias curtas e mudando de local de repouso num raio de um quilómetro. A ave morreu na manhã de 30 de junho, a apenas 60 metros da árvore onde tinha pernoitado”, acrescentou a LPN.

A investigação sobre a morte do grifo-de-Rüppell no distrito de Beja ainda está em curso e será coordenada entre as autoridades portuguesas e espanholas.

“Este caso prova mais uma vez a importância da colaboração internacional na conservação dos abutres. Os resultados da investigação contribuirão para se compreender melhor as ameaças que esta espécie recém-chegada à Europa enfrenta e como podemos contribuir ativamente para a sua sobrevivência.”  

O grifo-de-Rüppell é uma espécie de abutre africana. A nível global, está classificada como Criticamente em Perigo, mas vai sendo cada vez mais comum na Europa.

Apesar do rápido declínio na sua área de distribuição nativa em África, o número de grifos-de-Rüppell na Europa está a aumentar, especialmente em Espanha e Portugal. Esta tendência crescente levou a região de Andaluzia a acrescentar a espécie à sua lista de abutres, tornando o grifo-de-Rüppell a quinta espécie de abutres da Europa.

Todos os anos, uma média de 70 jovens grifos-de-Rüppell seguem os seus parentes próximos, os grifos (Gyps fulvus), na sua migração das zonas de invernada em África para a Europa. Várias aves, como a que morreu recentemente no Alentejo, integram um programa internacional de monitorização da espécie na Europa. O Grupo de Trabalho para o grifo-de-Rüppell, envolve as entidades Junta de AndaluziaIUCN-MEDGREFAFundacion MigresAssociation Marocaine pour la Protection des Rapaces AMPRWildlife-lab Estación Biológica de DoñanaVulture Conservation Foundation SEO BirdLife

As quatro espécies autóctones ibéricas são o grifo (Gyps fulvus), o abutre-preto (Aegypius monachus), o abutre-do-egipto (Neophron percnopterus) e o quebra-ossos (Gypaetus barbatus). 

Mas a observação de espécies africanas de abutres – Grifo-de-rüppell (Gyps rueppelli) e Grifo-africano (Gyps africanus) – na Península Ibérica tem aumento nos últimos anos, lembram os autores de um estudo científico publicado em 2024 na revista Journal of Ornithology. Também tem sido registado o abutre-de-capuz (Necrosyrtes monachus), ainda que mais raramente.


Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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