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Flamingos na Ria de Aveiro. Foto: João Nunes da Silva

Aves migradoras: flamingos já chegaram à Ria de Aveiro e João Nunes da Silva já os fotografou

23.09.2024

Todos os anos por esta altura, o número de flamingos aumenta na Ria de Aveiro com as aves que chegam para ali passar os meses mais frios. O fotógrafo João Nunes da Silva já foi fotografar as suas aves preferidas.

WILDER: Quando começaram a chegar os flamingos à Ria de Aveiro?

João Nunes da Silva: Aquilo que tenho constatado ao longo dos anos é que a altura pode variar, mas habitualmente é entre Agosto e Setembro que o número de flamingos aumenta substancialmente na Ria. Por vezes podem-se observar largos grupos junto à cidade de Aveiro, como os que fotografei recentemente no princípio de Agosto. Com o tempo os flamingos dispersam-se ao longo da Ria de Aveiro e podem ser observados em diferentes locais.

Flamingos na Ria de Aveiro. Foto: João Nunes da Silva

W: Chegam à procura de um local para passar os meses mais frios ou estão apenas de passagem?

João Nunes da Silva: Não sei o que acontece à maioria dos flamingos que chegam à Ria de Aveiro, para isso talvez fosse interessante fazer-se um estudo com mais detalhe sobre os seus movimentos. É possível que alguns indivíduos se desloquem mais para sul como, por exemplo, o Baixo Mondego, mas há sem dúvida um número substancial de flamingos que permanece ao longo da Ria de Aveiro durante os meses mais frios.

W: Porquê a Ria de Aveiro?

João Nunes da Silva: A Ria de Aveiro é uma grande área húmida, é tranquila e tem alimento em abundância. Com a seca que tem afectado muitas zonas húmidas que eram importantes para os flamingos em Espanha, sobretudo na Andaluzia, é normal que estes procurem outras zonas para se estabelecerem. Dessa forma, a Ria de Aveiro tem-se tornado, sobretudo nos últimos anos, numa área relevante para os flamingos, assim como outras áreas em Portugal.

Flamingos na Ria de Aveiro. Foto: João Nunes da Silva

W: Desde quando fotografa flamingos no Outono/Inverno na Ria de Aveiro? E porquê?

João Nunes da Silva: Uma das primeiras fotografias que fiz de um grupo de flamingos na Ria de Aveiro foi em 1999, numa altura em que a sua ocorrência era rara. O flamingo foi, desde sempre, a ave que mais admiro e comecei a fotografá-los em diversos locais, sobretudo em Portugal. Posteriormente, senti necessidade de conhecer algumas zonas importantes de nidificação de flamingos na Europa como a Reserva Natural de la Laguna de Fuente de Piedra, Parque Nacional de Doñana e o Parc Naturel Régional de Camargue, entre outras. A ideia de fotografar flamingos nunca foi simplesmente colecionar fotografias bonitas da espécie, mas sim publicar histórias sobre as áreas relevantes para a conservação dos flamingos, como é o caso das salinas. Posteriormente, com a presença contínua de flamingos na Ria de Aveiro, quis aprofundar o trabalho nesta zona húmida, que consolidei no livro “Flamingos e o Sal da Ria de Aveiro” publicado em 2023.

Flamingos na Ria de Aveiro. Foto: João Nunes da Silva

W: Tinha o desejo de conhecer melhor de onde vêem esses flamingos. Já tem mais dados?

João Nunes da Silva: Depois de já ter inúmeras imagens de flamingos feitas na Ria de Aveiro em que se conseguia ver algumas anilhas nas patas, achei que poderia ser interessante saber a proveniência desses flamingos. Após consolidar alguns dados com a informação das anilhas que tinha recolhido, pedi a ajuda a alguns ornitólogos na identificação dessas anilhas e desta forma conseguiu-se identificar que sete flamingos fotografados na Ria de Aveiro, entre os anos de 2013 e 2017, provinham de locais tais como: região da Andaluzia (Espanha), 4 aves; Sardenha (Itália), 1 ave; França, 1 ave; Turquia, 1 ave.

W: Normalmente, como se processa um dia de fotografia na Ria de Aveiro? Como funciona, para quem quiser experimentar ir fotografar aves à Ria?

João Nunes da Silva: Como qualquer tipo de saída que faço, espero pela melhor altura para tentar fotografar aquilo que me interessa. Primeiro informo-me sobre se já existem ocorrências da espécie, ou seja, se já encontra por cá. Saio cedo e habitualmente escolho ou o princípio da manhã, ou o final da tarde para fotografar na Ria de Aveiro devido às condições de luminosidade. Começo sempre pela zona de Ovar (Torrão do Lameiro) e vou percorrer a Ria ao longo do dia, observando com uns binóculos, acabando normalmente ao fim da tarde em Aveiro na zona das salinas. Por vezes, quando me apercebo que possa haver algo interessante na minha passagem e se não estiverem as melhores condições de luz para fotografar, tento regressar mais tarde. Se alguém fizer um percurso ao longo da Ria de Aveiro nesta altura do ano, em locais como as ribeiras do Manchão, Teixugueiras ou Nancinho em Estarreja, a zona da Béstida na Murtosa, ou na zona das salinas em Aveiro, consegue sempre fotografar algumas aves, e nesta altura quase sempre os flamingos. É importante ter em conta que por vezes, mesmo a partir do carro, se fazem excelentes fotos já que funciona como abrigo. É importante, para além de uma teleobjectica como uma 500 mm ou 600 mm, ter um bom apoio para poder colocar na janela do carro. Por exemplo, os flamingos, na maioria das vezes que se encontram a alimentar-se nas margens da Ria na zona da Bestida, não se incomodam muito com o aproximar devagar de uma viatura.

Flamingos na Ria de Aveiro. Foto: João Nunes da Silva

W: Que outras espécies de aves migradoras gosta de fotografar nesta época do ano?

João Nunes da Silva: Normalmente aprecio bastante a migração de aves limícolas e sempre que me desloco à Ria de Aveiro estou atento, nesta altura do ano, às espécies que por lá andam. Aprecio imenso fazer imagens de grandes bandos de aves limícolas em voo.


Saiba mais aqui sobre a migração de Outono das aves.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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