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Toutinegra-de-barrete (Curruca capirotada). Foto: Rafa Irusta/Shutterstock

Saiba mais sobre a migração de Outono das aves

13.09.2024

O Verão está quase a terminar e os voos buliçosos dos andorinhões desapareceram das cidades e aldeias. Milhares de aves estão a atravessar o Estreito de Gibraltar rumo a África, onde terão alimentação assegurada durante os meses de Inverno. Saiba mais sobre uma das épocas mais importantes para as aves.

Em cada Primavera e Outono, as aves empreendem longas e arriscadas viagens entre as suas áreas de reprodução e de invernada. A Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife) é uma das organizações que estuda este fenómeno – já o faz há 70 anos -, uma vez que a migração é um processo que “permite conhecer melhor o funcionamento dos ecossistemas e dos processos ecológicos, sendo além disso uma ferramenta de alerta para alterações ambientais globais, como a perda de habitats ou alterações climáticas”, explica a organização em comunicado.

Bútio-vespeiro. Foto: Dennis Jacobsen/Shutterstock

Nem todas as espécies e nem todas as populações começam a sua viagem migratória ao mesmo tempo. Por exemplo, os bútios-vespeiros (Pernis apivorus), que começaram a ir-se embora nos últimos dias de Agosto, vão continuar a chegar desde o Norte da Europa nas próximas semanas. Segundo a SEO/Birdlife, chegam a atravessar o Estreito de Gibraltar um total de 60.000 indivíduos todos os anos. Esta será a segunda ave de rapina que em maior número se desloca até África, depois do milhafre-preto (Milvus migrans) que, praticamente quadruplica este número, com mais de 200.000 aves.

O Estreito de Gibraltar é uma ponte crucial para as aves já que liga a Península Ibérica ao Norte de África mas também o Mediterrâneo ao Atlântico. Neste caso, são as pardelas que constituem o maior contingente. Os adultos começam primeiro a migração e os juvenis seguem a mesma rota alguns dias depois.

Dezenas de milhares de pardelas-baleares (Puffinus mauretanicus), espécie Criticamente Em Perigo, pardelas-sombrias (Puffinus puffinus) e cagarras-do-mediterrâneo (Calonectris diomedea) atravessam este braço de mar até ao oceano, onde se expandem até chegar, inclusivamente, às costas do continente americano.

Mas também existe uma importante migração latitudinal que afecta outras aves marinhas que nidificam nas ilhas do Norte da Europa. Entre estas destacam-se os gansos-patolas (Morus bassanus) – a maior ave marinha que ocorre habitualmente em águas portuguesas, segundo o portal Aves de Portugal -, que podem ser observados a partir da costa cantábrica e atlântica, sobretudo a partir dos cabos mais proeminentes, como o Cabo Carvoeiro, o Cabo Espichel e o Cabo Sardão.

Ganso-patola. Foto: Kuttelvaserova Stuchelova/Shutterstock

Estas aves deslocam-se em grupos de centenas de indivíduos e lançam-se nas águas marinhas como setas para perseguir as suas presas debaixo de água.

A SEO/Birdlife lembra que “as mais pequenas das aves migratórias – passeriformes como os papa-moscas, as toutinegras, as felosas, entre muitas outras – não se vêm tão obrigadas como as grandes aves planadoras a utilizar esse estreito”. Mas ainda assim, e apesar do seu tamanho pequeno, cruzam enormes superfícies de mar onde não podem pousar nem alimentar-se. “Muitas chegam exaustas a terra, com frequência a ilhas ou ilhéus do Mediterrâneo e no oceano Atlântico, onde conseguem recuperar forças para continuar a sua viagem extenuante.”

Toutinegra-de-barrete (Curruca capirotada). Foto: Rafa Irusta/Shutterstock

Se quiser saber mais sobre estas e muitas outras aves, o portal Aves de Portugal tem informação sobre cada uma das espécies, incluindo alguns dos melhores locais para as observar. E pode ainda aproveitar para as ver de perto no Birdwatching Festival – Festival de Observação de Aves e Atividades de Natureza em Sagres, que acontece de 3 a 6 de Outubro.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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