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O que podemos desenhar na Primavera

09.06.2015

O ilustrador Marco Nunes Correia sugere-lhe quais os melhores objectos naturais por onde pode começar a desenhar a natureza. 

 

A primeira coisa a reter é que qualquer época do ano é óptima para desenhar. Até desenhamos à chuva e ao vento. Mas a Primavera, com as suas temperaturas amenas e dias de Sol, é mais agradável para estarmos ao ar livre, na natureza, com os nossos cadernos e lápis, canetas ou aguarelas. E há muitas coisas a acontecer, desde as flores às aves. O mundo natural anda num corrupio. E seria um desperdício não o desenharmos.

 

Ilustração: Marco Nunes Correia
Ilustração: Marco Nunes Correia

 

Assim, nesta altura do ano, há uma série de desafios e truques à nossa espera. Estes são apenas alguns:

 

Folhas: podemos começar por desenhar folhas de árvores, para quebrar o gelo com o papel e o lápis. São mais simples porque são planas. Se as desenharmos vistas de cima ou de baixo, não nos esqueçamos que as nervuras do plano inferior e superior não são iguais. Podemos desenhar de um lado e depois do outro e comparar as diferenças.

 

Maçã Royal Gala. Ilustração: Marco Nunes Correia
Maçã Royal Gala. Ilustração: Marco Nunes Correia

 

Um truque para nos ajudar a desenhar a estrutura da folha que temos à nossa frente é abstrairmo-nos do conceito “folha” e observá-la com muita atenção para encontrarmos formas estruturais: círculos, ovais, triângulos, trapézios ou rectângulos, ou seja, formas simplificadas que facilitem um registo mais real. E para termos atenção às proporções. Sem elas, o desenho corre o sério risco de não nos parecer tão bem. E isto aplica-se a qualquer modelo.

Devemos tentar representar a folha o mais fiel possível mas despreocupadamente; não precisamos desenhar todas as curvinhas que vemos, para não desanimar. E se não ficarmos satisfeitos logo no início, isso é natural. O desenho é uma arte que requer treino.

 

Ilustração: Marco Nunes Correia
Ilustração: Marco Nunes Correia

 

Árvores: Podemos começar por desenhar os frutos, ramos ou a textura do tronco de uma árvore que nos chame a atenção. Para os mais ambiciosos, desenhar toda a árvore é um bom desafio. Mas como a textura da folhagem pode ser difícil de representar, há um truque que podemos utilizar. Antes de irmos para o campo, podemos pegar em fotografias da árvore que queremos desenhar, como por exemplo castanheiros ou carvalhos, ou do local onde queremos ir. Estudamos a árvore a diferentes distâncias. Depois, com a ajuda de papel vegetal por cima da fotocópia, tentamos representar a textura da folhagem, que varia em função da distância do observador. Isto ajuda-nos a entender melhor a sua textura e perceber quanto detalhe decidimos pôr na folhagem, criando linhas, manchas ou um efeito ondulado para simular a concentração das folhas.

Ilustração: Marco Nunes Correia
Ilustração: Marco Nunes Correia

 

Flores: Primeiro é preciso escolher uma planta com flor que seja do nosso agrado, ou pela cor, ou pelas pétalas ou simplesmente porque é fácil de entender. Pode estar no campo, no jardim do bairro ou até na floreira na nossa janela. Um desafio muito interessante é irmos várias vezes ao mesmo local e perceber a evolução da flor ao longo da estação. Do botão até caírem as pétalas ou até ao fruto. Assim, no nosso caderno de campo registamos um ciclo, fazemos a ilustração do tempo. E se quisermos dar um valor acrescentado ao desenho podemos colocar a data e o local.

No desenho de flores, há alguns truques a aproveitar. Escolha uma flor que não seja muito pequena para não perder o detalhe. Quanto maior, melhor. E depois observe a flor de vários ângulos e perceba as alterações que o objecto sofre segundo a perspectiva: de frente, de lado, de cima e de baixo. E esteja atento à forma das pétalas centrais e dos estames.

 

Ilustração: Marco Nunes Correia
Ilustração: Marco Nunes Correia

 

Outras sugestões para desenhar são pequenos ramos com várias folhas ou flores – veja como as folhas se projectam em diferentes direcções, sendo necessário representá-las de forma diferente -, insectos e caracóis. A escolha do que vamos desenhar é extremamente importante. Procure objectos naturais com essência, com os quais possamos criar empatia, para podermos desenvolver a capacidade de observação e registo. Nada de demasiado simples, nem demasiado complicado. Sempre algo entusiasmante.

 

[divider type=”thin”]Série Atelier de Desenho:

Para celebrar esta estação do ano, começamos hoje uma pequena série de artigos sobre desenho de natureza. O ilustrador Marco Nunes Correia vai estar neste atelier virtual para lhe ensinar truques, dicas e formas de estar para que ninguém fique com o caderno de campo em branco.

O próximo artigo será sobre os materiais mais indicados, desde cadernos a lápis, canetas e aguarelas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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