PUB

Ilustração: Viktor Kochetkov

Conheça as ilustrações naturalistas e científicas que venceram a 12ª Illustraciencia

30.05.2025

As aves das marismas do Guadalquivir e a aliança entre as formigas azteca e algumas plantas americanas são as protagonistas das obras premiadas pela 12ª edição do certame internacional Illustraciencia, anunciadas a 29 de Maio.

Foram cerca de 600 as obras a concurso nesta edição do Illustraciencia, galardão internacional que quer dar visibilidade ao trabalho dos ilustradores, organizado pelo Conselho Superior espanhol de Investigações Científicas (CSIC) e pela Associação Catalã de Comunicação Científica (ACCC). 

O prémio na categoria “Ilustração Científica” foi atribuído à obra “Mutualismo Cecropia-Azteca” da autoria de Sofía García Marín (Colômbia).

Esta ilustração digital representa a relação mutualista entre as plantas do género Cecropia, que crescem no Centro e Sul do continente americano, e as formigas Azteca. Nela, a ilustradora mostra como aquelas plantas oferecem refúgio e alimento às formigas através de estruturas especializadas (na ilustração, referentes a 1h e 1a). Em troca, as formigas defendem agressivamente a planta de herbívoros e outras ameaças, o que favorece o seu crescimento e sobrevivência.

Esta aliança não só é positiva para os dois organismos como também contribui para a regeneração da floresta, já que as plantas Cecropia são espécies pioneiras que ajudam a recuperar ecossistemas perturbados.

O primeiro lugar na categoria “Ilustração Naturalista” foi para a ilustração “Aves de las marismas del Guadalquivir”, de Carmen Chofre García (Espanha).

A ilustração apresenta cinco aves que frequentam as marismas e arrozais do Guadalquivir: a garça-real (Ardea cinerea), de 90-100 cm, cores cinza, cabeça branca e preta, bico recto e robusto e penas ornamentais na cabeça (a); o papa-ratos (Ardea ralloides), de 40-48 cm, tons entre o acastanhado e o laranja, com bico grande azulado e negro na ponta e grandes penas ornamentais na nuca (b); a garça-vermelha (Ardea purpurea), um pouco menor (75-90 cm) e mais elegante do que a garça-real, de tons acastanhados, alaranjados e acinzentados com linhas escuras no pescoço e penas ornamentais na nuca (c); o abibe (Vanellus vanellus), de 30 cm, branco e negro com tons esverdeados e avermelhados e com uma crista na cabeça (d); e a íbis-preta (Plegadis falcinellus), de 55-65 cm, uma íbis muito escura de bico curvo (e).

O júri atribuiu ainda menções especiais a várias ilustrações.

Uma delas, na categoria “Ilustração Científica”, foi à obra Echeveria cuquitae, do ilustrador mexicano H. David Jimeno Sevilla.

A Echeveria cuquite é uma planta suculenta recentemente descrita para a Ciência. Originária das altas montanhas do centro de Veracruz, México, habita em paredes de rocha volcânica en florestas nublosas. Apenas se conhece uma única população, com muito poucos indivíduos, pelo que se considera estar Criticamente Em Perigo de extinção. As suas flores abertas e de cor de vinho fazem-na única no seu género. O seu nome é uma homenagem a María del Refugio Vázquez Velazco, ‘Cuquita’, ilustradora científica do Instituto de Botânica da Universidad de Guadalajara.

Outra das menções especiais nesta categoria vai para a obra “Life on Ice / La vida en el hielo”, da ilustradora italiana Ylenia Vimercati.

Nela está representado o lago Untersee (A, B, C, E), na Antárctida, um grande lago de água doce permanentemente coberto de gelo. É considerado um ambiente análogo à lua Encédalo (N), que orbita o planeta Júpiter. Os investigadores mergulham nesse lago (D) para recolher amostras de comunidades microbianas que geram estruturas minerais (estromatolitos) em forma de cones e pináculos no fundo (H, I). Para isso, instalam um acampamento e perfuram um buraco na espessa camada de gelo, com 2,8 metros (F, G). As amostras, nas quais predominam dois tipos de cianobactérias (M), são recolhidas com um tubo (J, L). A camada superior é muito colorida por causa da abundância de organismos foto-sintéticos (K).

Outra ilustradora italiana, Annalisa Durante, foi distinguida com uma menção especial, desta vez na categoria “Ilustração Naturalista”, com a obra “Life in a Pond / La vida en un estanque”.

A ilustração mostra a vida dentro e fora de água num pequeno lago: plantas como o nenúfar branco europeu (Nymphaea alba) ou a fava-de-água (Menyanthes trifoliata); a alga Chara vulgaris; invertebrados em forma de tubo do género Dugesia ou o caracol Planorbarius corneus; insectos aquáticos como a libélula tira-olhos-imperador (Anax imperator), o escaravelho-de-água (Dytiscus marginalis), o escorpião de água (Nepa cinérea), a libelinha Calopteryx splendens, os alfaiates (Gerris sp.), as moscas-grua (Tipulidae), os barqueiros (Corixa punctata); anfíbios como o sapo-verde-europeu (Bufotes viridis); o peixe olho-vermelho (Scardinius erythrophthalmus); e aves como o pato-real (Ana platyrhinchos).

O ilustrador do Cazaquistão, Viktor Kochetkov, mereceu uma menção especial na categoria “Ilustração Naturalista”, com a sua ilustração “Remiz pendulinus Nest / Nido de Remiz pendulinus“.

O chapim-de-mascarilha (Remiz pendulinus)​ é uma espécie de ave muito pequena, com cerca de 10 centímetros, que vive, principalmente, na Eurásia. Constrói um ninho único em forma de bolsa nos ramos de salgueiros, o que oferece refúgio às aves mais jovens.

O júri, que lamentou ter de deixar de fora da selecção trabalhos de muito valor, teve em conta o rigor científico e a capacidade de divulgação das obras apresentadas.

A obra “Mesofauna del suelo”, de Miriam Barahona Laguía (Espanha) venceu a menção especial do público.

O solo alberga aproximadamente 60% de todas as espécies da Terra. É um enorme sistema de diversidade e habitat de diferentes espécies, como as que compõem a mesofauna: ácaros (1), colémbolos (2) e outros invertebrados (3) que trituram e consomem materiais orgânicos e os transformam em húmus e substâncias que as plantas conseguem assimilar. Segundo a Illustraciencia, “a mesofauna é um elemento chave para a saúde e qualidade dos solos e, por isso, também para as espécies e ecossistemas que vivem graças a eles”.

A ‘Illustraciencia’ nasceu em 2009 com o objetivo de divulgar e premiar a ilustração científica, mostrar o trabalho das personas que se dedicam a este trabalho e aproximar a Ciência da sociedade.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

Don't Miss