Daniel Veríssimo, um economista fascinado pela natureza, dá-nos a conhecer esta palmeira que pode chegar aos 30 metros de altura e que dá frutos, as tâmaras, até aos 60 ou 80 anos. O clima mais quente pode propiciar a chegada desta espécie.
A tamareira (Phoenix dactylifera) é uma espécie de palmeira famosa pelas deliciosas tâmaras e pelas imagens de Oásis. Está presente, de forma mais ou menos natural, desde as zonas áridas e desérticas do Médio Oriente e Península Arábica até ao Norte de África e Sul de Espanha.
É uma planta com algumas características curiosas. A tamareira pode chegar aos 30 metros de altura, o tronco mede cerca de 50 centímetros de diâmetro, não possuí anéis de idade no tronco e as raízes são longas e profundas. Precisa de exemplares machos e fêmeas para polinizar a flor e dar fruto; produz tâmaras desde os 12 ou 15 anos até aos 60 a 80 anos de idade.
Está numa situação idêntica à da figueira, do castanheiro ou da oliveira, espécies de árvores que foram provavelmente introduzidas há milhares de anos na Península, vindas de outras regiões próximas, e que hoje estão naturalizadas e são parte do ecossistema.
Hoje, apenas existe uma espécie de palmeira nativa na Europa, a palmeira de vassouras (Chamaerops humilis). Mas com as alterações climáticas, a tamareira pode chegar a esta região, uma vez que o clima da Península Ibérica está a ficar cada vez mais idêntico ao do Norte de África, com períodos mais quentes e secos e wadis, linhas de água intermitentes, ribeiras que secam pelo menos uma vez durante o ano.
A capacidade das plantas se adaptarem às alterações climáticas está extremamente reduzida devido à ausência de boas populações de herbívoros, à redução do número de aves e à fragmentação de corredores ecológicos.
A colonização assistida é uma categoria prevista nos manuais da IUCN (Organização Internacional para a Conservação da Natureza), que considera o seguinte: “colonização assistida é o movimento deliberado e libertação de um organismo fora da sua área de distribuição histórica, para evitar a extinção da populações da espécie em causa” e é uma possibilidade cada vez mais discutida. Apesar de a tamareira não estar ameaçada na sua distribuição histórica pode ser uma parte importante dos novos ecossistemas que as alterações climáticas irão trazer para a Península Ibérica.
Numa época de rápidas mudanças é necessária uma visão flexível, adaptável e dinâmica para os ecossistemas. Uma coisa são espécies que vêm da outra parte do planeta, como a Austrália ou a América do Sul, outra são espécies que vêm de zonas geográficas próximas como o Norte de África ou o Médio Oriente.
Existem várias maneiras de a tamareira colonizar Portugal. Algumas ideias incluem criar alimentadores para espécies selvagens, para aves e mamíferos, com o objetivo de espalhar sementes, plantar algumas palmeiras já adultas em certas zonas para criar novas populações ou até espalhar frutos maduros por uma determinada área para dispersar sementes.
Imaginemos descer uma colina em direção a um ribeiro e, com o cheiro ainda suave e primaveril no ar, chegar a uma zona húmida. Com tamareiras, loendros e figueiras, encontrar camaleões camuflados na vegetação, com tartarugas, perdizes e coelhos na erva ainda verde e encontrar pegadas de burros selvagens e veados. Ver um lince-ibérico deitado à sombra de uma tamareira.
Esta podia ser a descrição de um ecossistema que já existe, em parte, no Norte de África e que com as alterações climáticas pode vir a existir na Península Ibérica. Talvez em zonas como as Serras do Algarve, Vale do Guadiana, Estuário do Sado, Tejo ou até partes do Douro Internacional.
Num período de emergência planetária, da sexta extinção em massa de espécies, é preciso mais respostas para além da clássica “monitorização”. É preciso aceitar a incerteza e passar à ação.
A tamareira pode chegar a Portugal.