Embondeiro na Tanzânia. Foto: Haplochromis/Wiki Commons

Cofre-Forte de Svalbard recebe 120.000 sementes de árvores nativas africanas

27.02.2025

Sementes de embondeiro e de outras espécies vão ficar armazenadas dentro deste depósito construído no interior de uma montanha gelada da Noruega, que guarda variedades vindas de todo o mundo.

A funcionar desde 2008 num arquipélago norueguês situado a norte do Círculo Polar Ártico, o Cofre-Forte de Sementes de Svalbard recebeu sementes de 13 árvores nativas de África, incluindo o icónico embondeiro, como é conhecida em Moçambique e Angola esta árvore africana, também chamada de baobá.

O anúncio foi feito esta semana pelo Center for International Forestry Research and World Agroforestry (CIFOR-ICRAF), um centro de investigação internacional, que entregou desde 2008 mais de 1,1 milhões de sementes em Svalbard, pertencentes a um total de 177 espécies diferentes. O objetivo do cofre-forte de Svalbard, que funciona como um serviço à comunidade mundial sob a tutela do Ministério da Agricultura e Alimentação norueguês, é assegurar o sustento alimentar da humanidade no caso de uma catástrofe.

“Este novo depósito marca um momento crucial no nosso compromisso para salvaguardarmos o futuro das espécies de árvores nativas – pilares chave da segurança alimentar, dos meios de subsistência e da saúde dos ecossistemas”, disse Éliane Ubalijoro, diretora-executiva (CEO) do CIFOR-ICRAF. “Ao conservarmos as sementes destas árvores majestosas, estamos não só a proteger a biodiversidade mas também a reforçar a resiliência das paisagens e comunidades contra um clima em mudança.”

Entrada para o cofre-forte de Svalbard, no ‘permafrost’ da Noruega. Foto: CIFOR-ICRAF

As espécies entregues em Svalbard são consideradas muito importantes para a adaptação climática dos países africanos, mas também para a reflorestação e a nutrição alimentar. O embondeiro africano (Adansonia digitata), por exemplo, é muitas vezes chamado de ”Árvore da Vida”, e fornece comida, medicamentos e benefícios económicos a milhões de pessoas. As folhas são usadas para tratar doenças de rins, asma, diarreias e mordidelas de insetos, entre outras.

Além do embondeiro, segundo o jornal The Guardian, as novas sementes são de árvores como a Faidherbia albida, importante para a fixação de nitrogénio nos solos; a Acacia polyacantha, da família das acácias, usada para tratar mordidelas de cobra e infeções do gado por salmonela; ou ainda a Cordia africana, uma árvore do Sudão cuja maeira é considerada resistente e com boa durabilidade.

Em África, a salvaguarda e reforço das árvores nativas é especialmente importante, sublinha o CIFOR-ICRAF, porque ao longo de muitos séculos de domínio colonial se deu primazia a espécies exóticas, vindas de outros continentes. Essas árvores tiveram efeitos negativos nos ecossistemas em várias partes do continente, “alterando o ciclo da água e levando à deslocação de plantas nativas, habitats de vida selvagem e comunidades locais”.

Hoje, mais de uma em cada três árvores conhecidas mundialmente estão em risco de extinção – 38% do total – de acordo com a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, da União Internacional para a Conservação da Natureza.


Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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