Foto: Associação Verde

Rede de 210 voluntários mapeia e protege as gigantes verdes. E quer chegar a mais concelhos

Início

Foi em 2018 que nasceu em Lousada o projeto Gigantes Verdes, que envolve os cidadãos na conservação das árvores de grande porte e já se expandiu para mais 10 concelhos. Neste Dia Internacional das Florestas, saiba como funciona e porque são importantes estas árvores.

João Gonçalo Soutinho, fundador e dirigente da VERDE, contou numa entrevista escrita à Wilder o que tem vindo a ser feito por esta associação e quais são os planos para o futuro.

WILDER: Como é que nasceu a associação VERDE e os principais projetos que a suportam, Gigantes Verdes e Carbono Biodiverso? 

João Gonçalo Soutinho: A VERDE – Associação para a Conservação Integrada da Natureza nasceu da necessidade de se criar um modelo sustentável e eficaz para a proteção da biodiversidade e do património natural em Portugal. Percebi que era essencial envolver as comunidades na conservação da natureza e criar soluções que fossem economicamente viáveis e sustentáveis a longo prazo. 

O projeto Gigantes Verdes começou em 2018, quando iniciei o mapeamento das árvores de grande porte de Lousada. O objetivo inicial era apenas identificar e valorizar estas árvores, mas rapidamente se tornou evidente que muitas delas estavam em risco devido a fatores como a expansão urbana, a exploração florestal e a falta de reconhecimento do seu valor. Com o tempo, percebemos que o mapeamento era apenas o primeiro passo – precisávamos de um projeto que envolvesse a comunidade na sua conservação. 

A VERDE foi fundada em 2021, precisamente para estruturar e expandir este projeto, garantindo que a conservação da natureza não seja apenas um esforço isolado, mas sim um movimento coletivo, capaz de integrar a conservação da biodiversidade no dia a dia das pessoas. 

Já o projeto Carbono Biodiverso surgiu como uma ferramenta para que cidadãos e empresas pudessem apoiar diretamente a conservação destas árvores, permitindo que os proprietários recebam incentivos para manter estas Gigantes Verdes em pé. As Gigantes Verdes sequestram 50 quilos de carbono da atmosfera por ano e têm em si mais de 1500 quilos armazenados. Criámos o Carbono Biodiverso para ajudar na tomada de ações, compensando as emissões de carbono e garantindo que estas árvores continuem a cumprir o seu papel essencial no equilíbrio climático. 

Uma das árvores de grande porte já identificadas pelo projeto. Foto: Associação VERDE

W: Qual é a importância destas árvores, em comparação com outras mais pequenas? 

João Gonçalo Soutinho: As Gigantes Verdes são árvores de grande porte que desempenham um papel essencial nos ecossistemas. Enquanto uma árvore jovem pode demorar 15 anos a capturar tanto carbono como uma Gigante Verde num só ano, estas árvores maduras armazenam grandes quantidades de carbono e ajudam a combater as alterações climáticas. Além disso, criam habitats essenciais para a biodiversidade, regulam o clima e contribuem para a retenção de água no solo, reduzindo os efeitos das ondas de calor. 

Para além da sua importância ecológica, estas árvores têm também um valor cultural e patrimonial, muitas existindo há séculos e integrando a identidade das comunidades. Podem ser encontradas em florestas, campos agrícolas, parques urbanos e propriedades privadas, sendo essenciais tanto em áreas naturais como em cidades, onde funcionam como refúgios de biodiversidade e ajudam a melhorar a qualidade do ar.

Um exemplo notável é o Carvalho de Calvos, o maior e mais antigo carvalho-galego (Quercus robur) de Portugal. Situado na Póvoa de Lanhoso, tem 7 metros de perímetro de tronco, sendo necessárias cinco pessoas para o abraçar. Com cerca de 550 anos, está classificado desde 1997. Nos seus ramos e tronco, que se expandem por 35 metros, alberga 25 microhabitats diferentes, sustentando uma enorme biodiversidade. Este é um exemplo perfeito do impacto ecológico e cultural que as Gigantes Verdes representam e da importância da sua preservação. 

Carvalho de Calvos, situado na Póvoa de Lanhoso, distrito de Guarda. Foto: Associação VERDE

W: Quantos Gigantes Verdes conseguiram mapear até hoje, no âmbito do projeto?

Até agora, e sem contar com as Gigantes Verdes de Lousada, conseguimos mapear mais de 2700 Gigantes Verdes em Portugal. Com a expansão do projeto, este número está a crescer à medida que envolvemos novas comunidades e municípios. Atualmente, o projeto está ativo em Lousada, Seia, Fornos de Algodres, Valongo, Gondomar, Paredes, Penafiel, Felgueiras, Paços de Ferreira, Manteigas e Sabugal. 

Uma das gigantes verdes já mapeadas. Foto: Associação VERDE

Neste grupo de árvores, já foram registadas cerca de 85 espécies, sendo as mais comuns os sobreiros, carvalhos, castanheiros e plátanos. E até agora, a maior árvore mapeada através do projeto é um castanheiro (Castanea sativa) localizado em Souto, no Sabugal, com 9,50 metros de perímetro de tronco – um verdadeiro gigante que testemunha séculos de história e resiliência. 

Em que fase está o projeto dos Gigantes Verdes nos concelhos para os quais já foi possível estenderem as vossas ações?

Estamos numa fase de expansão ativa. Com o apoio da Fundação EDP e de parceiros locais, conseguimos levar o projeto a novos concelhos, onde já começámos a formar embaixadores de Gigantes Verdes – cidadãos capacitados para mapear e proteger estas árvores. 

Já terminamos as 10 sessões de formação para estes Embaixadores e o próximo passo é realizar caminhadas interpretativas, onde a comunidade pode aprender mais sobre estas árvores e ajudar na sua identificação. Estas caminhadas são essenciais porque envolvem as pessoas diretamente na conservação, tornando as árvores parte do seu quotidiano e não apenas elementos paisagísticos esquecidos. 

Mapeamento de árvores com a ajuda do telemóvel. Foto: Associação VERDE

W: Quantos embaixadores têm neste momento e em que concelhos?

João Gonçalo Soutinho: Temos 210 embaixadores nos concelhos em que está agora o projeto . 

W: E de que forma é que a VERDE trata da conservação dos Gigantes Verdes que são mapeados e como é esta financiada? 

João Gonçalo Soutinho: A conservação de Gigantes Verdes envolve um conjunto de ações para garantir que estas árvores continuam a desempenhar o seu papel ecológico e cultural. Além da monitorização regular para avaliar o seu estado de saúde, fornecemos apoio técnico aos proprietários para garantir que a gestão destas árvores seja sustentável e segura. Também promovemos ações de sensibilização e ciência cidadã, envolvendo a comunidade através de atividades de voluntariado, como os Dias Verdes, onde qualquer pessoa pode participar na identificação, preservação e valorização destas árvores. 

O financiamento vem do Carbono Biodiverso, um mecanismo inovador que permite a compensação de carbono através da preservação de Gigantes Verdes. Empresas e cidadãos podem apoiar diretamente a conservação destas árvores, garantindo que os proprietários recebem pagamentos periódicos pelos serviços ecológicos que estas árvores prestam. Isto permite que, em vez de serem vistas como um custo ou um obstáculo ao desenvolvimento, as Gigantes Verdes sejam reconhecidas pelo seu valor ambiental, social e económico, incentivando a sua proteção a longo prazo.  

Carvalho do Padre Zé, situado em Reguengo do Fetal, no concelho da Batalha. Foto: Associação Verde

W: Por fim, quais são os próximos passos que estão previstos? 

João Gonçalo Soutinho: Nos próximos meses, queremos expandir o mapeamento para mais concelhos que se queriam tornar nossos parceiros e envolver novas comunidades como embaixadores de Gigantes Verdes. Quanto ao Carbono Biodiverso, está atualmente focado em Lousada, onde nasceu este projeto piloto. A ideia é expandir este modelo para mais territórios onde existam Gigantes Verdes já mapeadas pelos nossos embaixadores.


Saiba mais.

Pode conhecer melhor a associação VERDE aqui, tal como o projeto das Gigantes Verdes e o projeto Carbono Biodiverso.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

Don't Miss