O leitor José Mário Félix reparou nuns filamentos, como se fossem “barbas”, numa árvore que gosta muito, e pergunta para que servem e porque nem todas as árvores os têm. Carine Azevedo responde.
“Peço mais uma vez a vossa ajuda no esclarecimento de uma questão sobre a qual tenho há muito tempo uma enorme curiosidade”, escreveu o leitor à Wilder.
“Há uma espécie de árvore, o metrosidero, da qual muito gosto, que tem uma particularidade que me suscita curiosidade. Esta árvore possui um conjunto de filamentos pendentes (como se fossem umas “barbas”) que se destacam em volta do caule da árvore. Ora, chegado aqui nesta introdução prévia, duas questões sobre as quais tenho especial curiosidade: qual a função destes filamentos? Pois se existem, e dado que a natureza nada faz ao acaso, devem ter alguma função específica para a árvore. Porque razão nem todas as árvores apresentam estes filamentos? estará relacionado com algum tipo de dimorfismo sexual desta espécie?”
Segundo Carine Azevedo, “os filamentos pendentes que observa no Metrosideros são, na verdade, raízes aéreas ou raízes adventícias. Estas estruturas são comuns em várias espécies do género Metrosideros, especialmente em árvores adultas e bem estabelecidas”.
“A principal função destas raízes é ajudar a planta a captar humidade do ar e, em alguns casos, a absorver nutrientes. Além disso, em determinadas situações, estas raízes podem crescer até ao solo, enraizando e contribuindo para a estabilização da árvore, bem como para uma maior captação de águas e nutrientes.”
“Embora nem sempre desempenhem uma função vital em todos os habitats, constituem adaptações úteis em ambientes onde a disponibilidade de água ou a necessidade de suporte adicional são fatores importantes.”
Relativamente à segunda questão (porque razão nem todas as árvores apresentam estes filamentos), “deduzo que a sua dúvida se refere a diferentes indivíduos de Metrosideros, isto é, árvores da mesma espécie ou género. Neste caso, a presença ou ausência de raízes aéreas não está relacionada com o sexo da planta, já que o metrosidero é uma espécie hermafrodita (cada flor possui simultaneamente órgãos masculinos e femininos)”.
“A formação destas raízes depende, sobretudo, da idade da árvore, das condições ambientais (humidade, exposição do tronco, disponibilidade de nutrientes) e do espaço para o seu desenvolvimento. Árvores mais jovens, ou cultivadas em ambientes secos ou protegidos, podem não desenvolver tantas raízes aéreas, enquanto exemplares adultos em ambientes naturais ou húmidos tendem a exibi-las com maior frequência.”
No entanto, “caso a sua dúvida se refira ao conjunto de todas as árvores (de todas as espécies). As raízes aéreas são uma característica adaptativa presente apenas em algumas espécies específicas (por exemplo, metrosideros, figueiras, mangais, entre outras). A maioria das espécies arbóreas não desenvolve raízes aéreas, pois não necessitam dessa adaptação para sobreviver nos seus habitats naturais”.