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Primavera em casa: Açores e Madeira estão a contar águias sem sair à rua

07.04.2020

O Covid-19 não suspendeu o Censo de Mantas e Milhafres nos Açores e Madeira mas obrigou a adaptações. Este ano, a Spea desafia os cidadãos a contar estas aves da janela da sua casa durante o mês de Abril.

 

Desde 2006 que todos os anos os açorianos e madeirenses ajudam a contar as mantas (Buteo buteo harterti) e os milhafres (Buteo buteo rothschildi) nas suas ilhas, durante um fim-de-semana de Abril.

Este ano, tudo é diferente por causa do plano de contingência para evitar a propagação do Covid-19. “Pela primeira vez, este ano (o censo) não poderá ser realizado nos moldes habituais”, explica a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea), em comunicado enviado hoje à Wilder.

Em vez de se realizar no fim-de-semana de 4 e 5 de Abril, o censo decorre durante todo o mês de Abril. E em vez de sair de casa, os voluntários estão a fazer as contagens a partir das suas janelas, varandas ou jardins.

“A proposta é dedicar algum tempo, preferencialmente entre as 10h00 e as 14h00, a observar o céu e contar os milhafres ou mantas que podem ser vistos do seu domicílio”, explica a Spea.

Esta informação poderá ser enviada para a Spea até 30 de Abril, através da aplicação PortugalAves/eBird, por e-mail ou directamente no evento do Facebook criado para o efeito.

“Embora esta iniciativa não permita avaliar a tendência populacional da espécie este ano, uma vez que não será possível repetir a metodologia de anos anteriores, os dados recolhidos contribuirão para um melhor conhecimento da distribuição da espécie.”

Nos Açores estas águias são chamadas milhafres; na Madeira, chamam-lhe mantas. Têm uma envergadura de asa entre 110 e 130 centímetros e podem ser vistas sozinhas ou em grupo, a voar, pairar, pousadas no solo ou, muito frequentemente, em cima de muros, postes e nos seus poisos de caça.

As mantas ou milhafres são espécies emblemáticas dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, sendo os autênticos protagonistas do céu diurno no mês de Abril e tendo um papel importante no controlo de pragas, como por exemplo os roedores.

No caso dos Açores, o milhafre ou queimado é a única espécie de ave de rapina diurna que reside no arquipélago. Na Madeira, além da manta, existem outras três espécies de rapina: o fura-bardos, o francelho e a coruja-das-torres.

“Com esta contagem, pretendemos fomentar a observação de aves em espaços urbanos e continuar a treinar observadores para o censo dos próximos anos”, comentou Cátia Gouveia, coordenadora da Spea-Madeira.

“É, sem dúvida, uma excelente oportunidade de disfrutar da natureza desde o conforto e segurança do seu lar.”

Em 2019, o Censo de milhafres/mantas contou com 214 voluntários (135 observadores nos Açores e 79 observadores na Madeira), muitos dos quais realizaram vários percursos. O total de aves registadas nos dois arquipélagos foi de 634 aves (476 nos Açores e 158 na Madeira).

Desde 2006 até 2019, registaram-se 8.692 observações: 7.488 nos Açores e 1.204 no arquipélago da Madeira.

A média de avistamentos de milhafres nos Açores é de cerca de 535 indivíduos por ano, sendo São Miguel e Terceira as ilhas com mais milhafres avistados. A Graciosa é a ilha em que se observaram menos aves.

No arquipélago da Madeira, contabilizaram-se mais mantas no ano 2011 do que em qualquer um dos restantes anos, e 2016 foi aquele com menos observações. No total dos 14 anos, avistaram-se uma média de 86 no arquipélago da Madeira.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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