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Mais de 500 espécies de aves enfrentam a extinção no próximo século

25.06.2025

As alterações climáticas e a perda de habitat poderão causar a extinção de mais de 500 espécies de aves nos próximos 100 anos, alertam investigadores da Universidade britânica de Reading num novo estudo.

O estudo, publicado a 24 de Junho na revista Nature Ecology & Evolution, revela que este número é três vezes mais elevado do que todas as extinções de aves registadas desde 1500.

Filepita-de-barriga-amarela (Neodrepanis hypoxantha) no Parque Nacional Ranomafana, Madagáscar. Foto: Frank Vassen/WikiCommons

Extinções a esta escala poderão alterar de forma muito profunda o conjunto da avifauna global, reduzindo potencialmente a diversidade funcional, alertam os investigadores.

A extinção de aves vulneráveis – como a cotinga-de-gravata-nua (Cephalopterus glabricollis, Em Perigo), o calau-de-elmo (Rhinoplax vigil, Criticamente Em Perigo) e a filepita-de-barriga-amarela (Neodrepanis hypoxantha, Vulnerável) – irá reduzir muito a variedade dos tamanhos e formas das aves por todo o mundo, prejudicando ecossistemas que dependem de aves únicas como aquelas para manterem as suas funções vitais.

Os investigadores descobriram que mesmo com uma protecção completa de ameaças causadas por humanos – como a perda de habitat, caça e alterações climáticas – cerca de 250 espécies de aves poderão desaparecer.

“Muitas aves já estão tão ameaçadas que reduzir apenas os impactos humanos não as vai salvar”, comentou Kerry Stewart, principal autor do estudo na Universidade de Reading. “Para sobreviver, essas espécies precisam de programas de recuperação especiais, como projectos de reprodução em cativeiro e restauro de habitats.”

Cotinga-de-gravata-nua (Cephalopterus glabricollis). Foto: Mauricio Calderon/WikiCommons

Kerry Stewart alertou que “hoje enfrentamos uma crise de extinção de aves sem precedentes nos tempos modernos”. “Precisamos de acção imediata para reduzir as ameaças humanas em todos os habitats e programas de resgate para as espécies mais ameaçadas e únicas.”

Ameaças maiores para aves maiores

Os investigadores analisaram cerca de 10.000 espécies de aves usando dados da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Eles previram o risco de extinção com base nas ameaças que cada espécie enfrenta.

O estudo concluiu que aves de maior dimensão são as mais vulneráveis à caça e alterações climáticas, enquanto que aves com asas mais largas sofrem mais com a perda de habitat.

Esta investigação também identificou quais as acções de conservação que melhor preservam tanto o número de espécies de aves como as suas funções ecológicas.

Calau-de-elmo (Rhinoplax vigil). Foto: David Pangaribuan/WikiCommons

“Travar ameaças não é suficiente”, defendeu Manuela Gonzalez-Suarez, uma das autoras do estudo e investigadora da mesma universidade. “Entre 250 e 350 espécies vão exigir medidas de conservação complementares, como programas de reprodução e restauro de habitats se quisermos que sobrevivam ao próximo século.”

Segundo esta investigadora, “dar prioridade a programas de conservação para apenas 100 das aves mais ameaçadas e únicas poderá salvar 68% da variedade das formas e tamanhos das aves. Esta abordagem poderá ajudar a manter os ecossistemas saudáveis”.

Parar a destruição de habitats é aquilo que vai salvar mais aves, no geral. Contudo, reduzir a caça e evitar mortes acidentais irá salvar aves com características mais raras e que são especialmente importantes para a saúde dos ecossistemas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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