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Andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica). Foto: Standbild-Fotografie/WikiCommons

Para procurar no Verão: as andorinhas

06.07.2022

Anunciam a chegada próxima da Primavera e por aqui ficam até ao final do Verão, quando partem numa arriscada jornada para África. Mónica Costa, da SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, fala-nos destas pequenas viajantes formidáveis.

Dizem que a primavera chega quando começamos a ver as primeiras andorinhas. Os seus voos acrobáticos e chamamentos estridentes enchem os céus a partir de fevereiro, depois das longas migrações desde os locais onde passam o inverno, em África.

Sempre vivi na cidade, mas desde nova que me lembro de as ver chegar. No caminho de regresso da escola, mesmo à saída do metro, as andorinhas em alvoroço, por baixo das varandas dos prédios altos do meu bairro. Aí se encontravam os seus ninhos, em forma de taça, feitos de lama e pequenos detritos e de onde mais tarde se veriam várias cabecinhas a espreitar, à espera da próxima ‘leva’ de comida.

Era uma espécie de ritual anual – em meados de março começava a levantar a cabeça quando chegava àquele sítio, à espera de as ver sobrevoar, e uma pequena alegria brotava em mim. Era o sinal evidente de que a primavera e o bom tempo (e os gelados!) tinham vindo para ficar!

Os fins de tarde pela Ameixoeira eram presenteados pelos sons e malabarismos que estas aves fazem enquanto se alimentam dos insectos que também eles inundam os céus. Hoje, os meus fins de tarde continuam a ter esta pequena alegria. Neste sítio tão urbano, basta ir até ao lago no Parque Oeste e, ao fim do dia, posso vê-las a fazer voos rasantes na água. O ritual de levantar a cabeça para as ver continua subrepticiamente bastante presente. E não há melhor sensação.

Migradoras diurnas

Em Portugal existem cinco espécies de andorinhas, uma das quais se encontra presente todo o ano: a andorinha-das-rochas (Ptyonoprogne rupestres). As restantes  – andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica), andorinha-dáurica (Cecropis daurica), andorinha-dos-beirais (Delichon urbicum) e andorinha-das-barreiras (Riparia riparia) – deslocam-se de vários pontos do Norte e Centro de África.

Empreendem as suas viagens durante o dia, podendo percorrer mais de 300 quilómetros de uma só vez. E, ao contrário de outras aves que passam por um período de ‘engorda’ antes de embarcarem nestas jornadas, as andorinhas alimenta-se ao longo do percurso, o que as pode tornar especialmente vulneráveis a eventos extremos.

Por sua vez, à noite tendem a aglomerar-se em pontos de paragem já conhecidos, aproveitando o efeito de grupo para se protegerem.

Viagens ameaçadas

Um dos efeitos mais generalizados da ação humana ao longo do último século são as alterações climáticas. Não é surpreendente que estas alterações tenham um impacto num processo tão intimamente ligado às variações sazonais como é a migração. 

E estas alterações podem ir desde mudanças na altura de chegada aos locais de reprodução, diminuição da disponibilidade alimentar tanto ao longo da rota migratória como nos locais de chegada, dificuldades ao longo do caminho devido a estados do tempo imprevistos…

E, infelizmente, estas alterações têm sido demasiado rápidas e cada vez mais frequentes, ameaçando muitas destas espécies.

Se ao chegarem são os arautos do bom tempo, a sua partida anuncia o fim do verão.  Os dias mais curtos, os indícios de que o tempo vai mudar e a diminuição da disponibilidade de alimento são os sinais inequívocos de que é altura para partir. São interessantes as grandes concentrações de andorinhas antes de migrarem para Sul, formando grandes bandos em zonas húmidas, por exemplo, onde encontram alimento. Resta-nos continuar a fazer o nosso melhor para preservar e proteger o planeta e as espécies que dele dependem, para que estes avistamentos continuem a acontecer anualmente e nos seus tempos certos…


Conte as Aves que Contam Consigo

A série Conte as Aves que Contam Consigo insere-se no projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, dinamizado pela SPEA em parceria com a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA) e financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian, em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.

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