O Natal está a chegar e é altura de tratar das decorações típicas desta quadra.
Cá em casa, temos a tradição de pintar pinhas para usá-las na nossa decoração de Natal. Adoro pinhas, tenho exemplares de todos os tamanhos e feitios, mas estas que escolhi para pintar são de uma espécie nativa muito especial e que se encontra em risco.
O Pinheiro-silvestre (Pinus sylvestris), também conhecido como Pinheiro-de-casquinha, é uma das espécies que serve de Árvore de Natal em muitos lares por esse mundo fora.
As suas pequenas pinhas são elementos decorativos perfeitos para arranjos natalícios, quer em estado natural quer pintadas. E é o aroma das suas agulhas que faz despertar o espírito natalício em qualquer casa.
O Pinheiro-silvestre
O pinheiro-silvestre é considerado a espécie do seu género com a mais ampla distribuição por todo o mundo. Surge naturalmente nas regiões do norte da Península Ibérica, na Escócia, Escandinávia, Sibéria e Mongólia. Em Portugal, vegeta espontaneamente na Serra do Gerês e pode encontrar-se ainda noutras serras do norte e centro, como na Serra da Cabreira, Marão, Estrela e Lousã.
É uma árvore de grande porte, podendo atingir os 40 metros de altura. Apresenta uma copa piramidal quando jovem, que se vai tornando irregular e com uma ramificação pouco densa, nos exemplares mais velhos. As suas folhas são persistentes, em forma de agulha, e estão agrupadas aos pares. São pequenas, com 3 a 7 cm de comprimento, e apresentam uma cor verde-glauca.
O pinheiro-silvestre é uma espécie de floração monoica, ou seja, apresenta flores masculinas e femininas no mesmo indivíduo. Dispostas em inflorescências, as flores masculinas surgem agrupadas em espigas na extremidade dos rebentos do ano e são amarelas e por vezes avermelhadas. As flores femininas surgem em grupos de 1 a 3 flores na extremidade dos gomos anuais e são vermelhas. A floração ocorre abundantemente entre maio e junho.
Os frutos são na verdade uma infrutescência – conjunto de frutos provenientes das flores agrupadas e dispostas numa inflorescência – e são vulgarmente conhecidos como pinhas.
As pinhas surgem solitárias ou em grupos de 2 a 3, e só amadurecem no outono do ano seguinte à sua formação, daí se dizer que tem uma maturação bienal. Quando maduras, as pinhas apresentam uma cor castanho-clara, e libertam inúmeras sementes, vulgarmente designadas por penisco ou pinhão. As sementes são negras e são prolongadas por uma pequena asa que facilita a sua dispersão pelo vento.
As pinhas começam a cair e a libertar os pinhões a partir de novembro, até março.
Espécie pioneira
É uma espécie pioneira, sendo a primeira colonizadora de áreas degradadas, facilitando o processo de formação do solo para que outras espécies mais exigentes se possam aí instalar.
Adapta-se a habitats com características ecológicas bastante diferenciadas, preferindo zonas de luz plena, solos bem drenados, soltos e arenosos, embora tolere solos secos. É bastante tolerante aos ventos, à seca e ao gelo. Suporta verões secos, quentes e prolongados, a poluição atmosférica e a exposição marítima.
É uma espécie de grande longevidade, podendo viver vários séculos, chegando a viver entre 400 a 600 anos. Na Suécia, por exemplo, foram encontradas árvores desta espécie com cerca de 1000 anos. Apresenta um crescimento rápido e pode crescer cerca de 8 metros durante os primeiros 10 anos de vida com a primeira frutificação a ocorrer aos 15 anos de idade.
O pinheiro-silvestre é uma espécie com interesse florestal e muito utilizada como espécie ornamental, sobretudo em encostas, por ser uma espécie resistente ao vento e pelas suas raízes profundas protegerem os solos contra a erosão.
A sua madeira é considerada como a melhor de todos os pinheiros. Elástica e duradoura, a madeira desta espécie tem usos muito diversos em carpintaria, mobiliário, construção naval e civil.
Mitos e lendas
Da família Pinaceae, a designação científica desta espécie é muito fácil de interpretar. O nome do género Pinus é o nome clássico, em latim, dado ao pinheiro, e sylvestris também deriva do latim, de sylvestris-e, que significa “selvagem”, que cresce nas florestas, em locais selvagens.
O pinheiro-silvestre tem uma longa história envolta em mitos e lendas. Alguns povos consideravam-no uma espécie sagrada, devendo as suas florestas serem veneradas em silêncio por respeito aos deuses e aos espíritos que nelas habitavam.
Os Druidas adornavam os seus ramos com objetos brilhantes, tradição que se pensa estar na origem das árvores de Natal. Nas celebrações do solstício de inverno, faziam grandes fogueiras com os seus troncos, marcando a passagem das estações e evocando o regresso do sol.
Os romanos e os gregos viam-na como símbolo de imortalidade e utilizavam as suas pinhas como símbolo de fertilidade. Outras tradições europeias consideravam que esta espécie representava um mau presságio, pois abrigava espíritos demoníacos.
O pinheiro-silvestre é sem dúvidas uma caixinha de surpresas, mas as suas populações nativas, em Portugal, já são muito reduzidas e encontram-se isoladas e ameaçadas. Por isso, e apesar do cheiro a Natal que ele transmite, deverão ponderar se vale a pena sacrificar uma árvore apenas para decorar a casa durante algumas semanas.
É fundamental refletir sobre aquilo que a natureza nos dá, e que muitas vezes dela retiramos sem retorno. Para continuarmos a ter lendas e histórias para contar, temos de proteger espécies como esta.
Todas as semanas, Carine Azevedo dá-lhe a conhecer uma nova planta para descobrir em Portugal. Encontre aqui os outros artigos da autora.
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