Foto: Samuel Infante

O que está a acontecer no Inverno: os grifos cuidam dos seus ovos

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Por estes dias, os grifos já iniciaram há bastante tempo o período de reprodução. Samuel Infante, do Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens (CERAS), conta-lhe o que estão a fazer estas majestosas aves necrófagas.

Ainda falta mais de um mês para terminar a estação mais fria do ano e já muitos casais de grifos estão na fase de postura, a pôr e a cuidar dos ovos, enquanto alguns constroem ainda os ninhos, explica Samuel Infante, coordenador do CERAS, na zona de Castelo Branco.

É isto que está a suceder no Parque Natural do Tejo Internacional, junto à fronteira com Espanha, na região onde se situa este centro de recuperação de vida selvagem. É nesta área protegida com mais de 26.000 hectares que habitam cerca de 170 casais de grifos – a segunda maior população nacional da espécie, logo a seguir ao Parque Natural do Douro Internacional.

Foto: Samuel Infante

O grifo (Gyps fulvus) está classificado como uma espécie Quase Ameaçada de extinção, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005). Apesar de estar hoje em recuperação, “está ainda longe da área de distribuição original”, adianta o responsável do CERAS, centro gerido pela Quercus. “No passado criava em todo o Alentejo e em várias zonas do país, mas hoje está muito limitado ao Tejo e ao Douro.”

Dança nos ares

São aves que pertencem ao grupo dos abutres, muito grandes, necrófagas, que vivem associadas em colónias, e os adultos permanecem no mesmo território ao longo do ano. E ao longo da vida, que pode somar mais de 30 anos, costumam ser monogâmicos, permanecendo com o mesmo parceiro – embora existam estudos “que indicam que existem cópulas extra-casal  em cerca de três por cento de algumas populações.”

Foto: Samuel Infante

É ainda em Outubro, durante o Outono, que os casais dão sinal de que a época de reprodução está finalmente a começar. É nessa altura que fazem os seus voos de acasalamento, descreve Samuel Infante, que os considera fascinantes: “Macho e fêmea fazem voos simultâneos, sincronizados, em que se aproximam um do outro. É como se fosse uma dança aérea em voo planado, em que quase se tocam nas extremidades.”

Chega depois a altura de construir ou reconstruir os ninhos, em escarpas ou em pequenas depressões rochosas. São compostos por ramos e folhas, têm cerca de 60 centímetros de diâmetro e “não são muito volumosos, são relativamente pequenos.”

Foto: Samuel Infante

Facto curioso, nota o mesmo responsável, é que às vezes estes abutres – tal como outras aves do mesmo grupo – “usam ramagens ainda verdes de árvores e arbustos ‘aromáticos’, como o alecrim e por vezes o eucalipto, que se pensa terem efeitos repelentes para insectos e parasitas”.

Seguem-se as cópulas e mais tarde as posturas, que se iniciam “entre a segunda quinzena de Dezembro e a primeira de Fevereiro” – normalmente apenas com um ovo, embora haja registos de ninhos com dois ovos. De aspecto esbranquiçado, estes são “bastante grandes”, com cerca de 10 centímetros de comprimento.

Cuidados a dois

Por estes dias, os dois membros do casal partilham os cuidados necessários para que os ovos não arrefeçam: “No início a fêmea passa mais tempo a cuidar do ovo, mas com o passar das semanas o macho vai aumentando progressivamente o tempo que passa na incubação”, descreve o coordenador do CERAS.

Foto: Samuel Infante

Para já, falta ainda algum tempo até surgirem as primeiras crias, o que costuma acontecer em média cerca de 50 dias – quase dois meses – após os ovos estarem no ninho.

Quando finalmente nascerem, os pequenos grifos terão ainda cerca de quatro meses pela frente até começarem os primeiros voos, preparando-se para os movimentos dispersivos que estas aves costumam fazer quando são juvenis.

“No final de Outubro deixam as suas colónias e iniciam movimentos dispersivos para sul, chegando a atravessar o estreito de Gibraltar para África. Alguns indivíduos também dispersam por diferentes colónias na Península Ibérica e sul de França”, explica o coordenador do CERAS.

Só dentro de quatro a seis anos, quando começarem a reproduzir-se, é que as novas crias nascidas este ano irão finalmente escolher um parceiro e estabelecer-se numa colónia, construindo os primeiros ninhos e fazendo as primeiras coreografias aéreas.


Saiba mais.

Como reconhecer um grifo? Aprenda a identificar estas aves, com a ajuda de algumas características descritas pelo portal Aves de Portugal:

São aves maiores do que as águias e voam a planar e quase sem bater as asas;

– São maiores do que as águias e têm a plumagem acastanhada. Os “dedos” das asas são facilmente visíveis;

– Costumam juntar-se em bandos de várias dezenas de aves;

– Podem confundir-se com o abutre-preto, mas podemos diferenciá-los através de três características: tons castanho-creme das coberturas,  pescoço claro, extremidade das asas claramente revirada para cima.


Já que está aqui…

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Marco Nunes Correia é ilustrador científico, especializado no desenho de aves. Tem em mãos dois guias de aves selvagens e é professor de desenho e ilustração.

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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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