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Foto: Pexels/Pixabay

Como uma app e milhões de cidadãos estão a mudar a ciência da biodiversidade global

29.07.2025

Uma rã coaxa num trilho. Um caminhante tira uma fotografia e partilha-a no iNaturalist. Este simples gesto está a transformar a ciência da biodiversidade global.

Lançado em 2008, o iNaturalist permite a qualquer pessoa captar e partilhar imagens ou sons de organismos vivos — como plantas, insetos, aves ou fungos — com localização e data. O que começou como uma ferramenta de ciência cidadã é hoje uma base de dados mundial usada por cientistas para mapear espécies, estudar comportamentos e monitorizar ameaças à biodiversidade.

De aplicação para curiosos a ferramenta científica

Um novo estudo internacional, liderado pela Universidade da Flórida e publicado a 28 de Julho na revista BioScience, analisou o crescimento do impacto científico da plataforma, mais concretamente no número de artigos científicos que utilizaram os seus dados. Segundo Brittany Mason, autora principal, “o uso científico do iNaturalist cresceu dez vezes em cinco anos”.

O estudo mostra que estas observações e registos vêm de 128 países e envolvem 638 grupos de espécies. “Milhões de pessoas estão a moldar como compreendemos e protegemos a biodiversidade”, comentou Corey Callaghan, coautor do estudo.

Segundo este artigo, a aplicação está a transformar a Ciência a três níveis. Um é o mapeamento de espécies, reunindo dados de milhões de observações; outro é fornecer novos dados sobre comportamentos e ecologia – como padrões de coloração ou preferências de habitat – e, finalmente, fazendo crescer o número de artigos científicos, graças aos dados que disponibiliza.

O iNaturalist é também usado por instituições como a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) para avaliar o estado de espécies ameaçadas e acompanhar o avanço das espécies invasoras.

Entre as plataformas de Ciência Cidadã que contribuem com dados sobre a biodiversidade, o iNaturalist destaca-se pela sua escala e cobertura geográfica. Até Setembro de 2024, o iNaturalist reunia mais de 200 milhões de observações únicas de 3.3 milhões de pessoas em todo o mundo.

O papel dos cidadãos na conservação

As observações carregadas para o iNaturalist são revistas por uma comunidade global e, se forem validadas como “Grau de Investigação”, passam a integrar a Global Biodiversity Information Facility (GBIF), a maior base de dados científica de biodiversidade do mundo.

Dentro do GBIF, o iNaturalist é um dos maiores contribuidores de dados sobre biodiversidade mundial em todos os taxa, ao lado da plataforma Observation.org. As suas maiores contribuições dizem respeito a plantas, mamíferos, répteis e anfíbios.

O eBird contribui com o maior volume de observações para o GBIF mas os seus dados limitam-se às aves.

“Agora, cidadãos comuns tornam-se protagonistas na luta contra a perda de biodiversidade”, acrescentou Corey Callaghan.

Isto porque o iNaturalist é fácil de usar e gratuito. Está disponível em app e site, em Português, permite carregar fotos ou sons de qualquer ser vivo, com data e local e é gratuito, portanto qualquer pessoa pode começar a contribuir.

Como resume Carrie Seltzer, da equipa iNaturalist, “cada pessoa com um telemóvel pode agora contribuir para a Ciência”.

O desafio que se segue é integrar os dados do iNaturalist com outras fontes de informação científica, para ajudar a orientar políticas de conservação mais eficazes.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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