Da andorinha-dos-beirais ao andorinhão-real, em 2023 e 2024 o projeto Andorin recebeu informações sobre 10 espécies diferentes. A equipa apela ao envio dos registos desta primavera.
As 175 pessoas que em 2024 contribuíram para o projeto Andorin registaram 1027 observações de locais de nidificação de andorinhas e de andorinhões, espalhados um pouco por todo o país. Tendo em conta também os números de 2023, os primeiros dois anos desta campanha de ciência cidadã contaram com o envolvimento de 248 cidadãos, que resultaram em 2020 observações, adianta o primeiro relatório do projeto, agora enviado a todos os voluntários.
De acordo com os dados divulgados pela associação Vita Nativa, coordenadora do Andorin, foram feitas observações um pouco por todo o país: em mais de dois terços dos concelhos de Portugal continental (191 de um total de 278) e em seis dos 11 concelhos do arquipélago da Madeira. De fora ficou o arquipélago dos Açores, onde não é conhecida a reprodução destas espécies.
Aqui chegados, “estamos outra vez em plena primavera e prontos para receber registos de ninhos e colónias“, apela também a equipa do projeto, que sugere aos voluntários de anos anteriores que participem novamente em 2025, “registando os mesmos ninhos do ano anterior e atualizando a informação sobre eles, ou registando outros” que encontrem. Dessa forma, e recebendo também informação de novos participantes, será possível obter um retrato cada vez mais claro sobre a situação destas aves em Portugal, muitas delas migradoras.
Graças aos registos recebidos em 2023 e 2024, o Andorin conseguiu obter “dados valiosos” sobre os locais de reprodução de andorinhas e andorinhões em Portugal, “contribuindo para a sua conservação”, indica o relatório agora divulgado, com os resultados dos primeiros dois anos da campanha do Andorin. O projeto foi lançado em outubro de 2022, com o objetivo de criar uma rede de parceiros para o estudo destas aves, sensibilizar a população e também fornecer ferramentas e medidas práticas que sejam importantes para a conservação destas aves.
Segundo o novo relatório, estima-se a presença de cerca de 24.000 ninhos, que pertencem a cinco espécies de andorinhões (andorinhão-real, andorinhão-preto, andorinhão-pálido, andorinhão-da-serra e andorinhão-cafre) e cinco espécies de andorinhas (andorinha-das-chaminés, andorinha-dáurica, andorinha-dos-beirais, andorinha-das-barreiras, andorinha-das-rochas).
Educação ambiental precisa-se
Dos locais de nidificação já identificados em 2024 e também no ano anterior, a grande maioria (três quartos) dizem respeito a andorinhas – em especial à andorinha-dos-beirais (Delichon urbicum), cujos ninhos são bastante mais visíveis por serem construídos no exterior dos edifícios, nota o documento. Os restantes 25% estão relacionados com as diferentes espécies de andorinhões que se reproduzem em Portugal.
No total, foram identificados 1800 diferentes edifícios e estruturas que abrigam ninhos destas aves. Desses, mais de 60% são prédios e moradias de habitação, o que reforça a importância da educação ambiental, “especialmente na relação entre a comunidade e a biodiversidade em ambiente urbano”, sublinha o relatório agora divulgado. “É fundamental sensibilizar a população para a importância ecológica destas aves, promovendo a aceitação e mitigação dos eventuais incómodos causados pela sua presença”, afirmam os autores.
Por outro lado, os dados obtidos mostram como são relevantes para algumas destas aves determinados tipos de edifícios e de estruturas. Exemplos? “A forte associação entre edifícios históricos e o andorinhão-preto (Apus apus) ou entre viadutos e espécies como o andorinhão-real (Tachymarptis melba) e a andorinha-dáurica (Cecropis rufula)”, indica o documento, que apela à necessidade de “estabelecer protocolos de manutenção e restauro para estas infraestruturas, garantindo a preservação das condições de nidificação, mesmo fora da época reprodutora”.
Resultados já visíveis em Vila Franca de Xira e no Porto
Para já, os trabalhos de inventariação realizados no âmbito do Andorin resultaram em pelo menos dois projetos que estão a contribuir de forma ativa para a conservação destas espécies.
O primeiro dos casos diz respeito a uma colónia de andorinhões-reais (Tachymarptis melba) em Vila Franca de Xira. Devido às obras de restauro de um viaduto realizadas em 2023, ficaram obstruídas as cavidades que estas aves utilizavam para construir os ninhos. Para que os andorinhões tivessem uma alternativa, foram ali instaladas as primeiras caixas-ninho para a espécie, em Portugal, que foram ocupadas logo no ano seguinte. Esta medida foi tomada graças ao alerta de um cidadão e ao envolvimento de várias entidades – além da Vita Nativa, a SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves e o grupo Brisa.
“Outro caso relevante é a adaptação de um edifício no centro do Porto, que alberga uma colónia de andorinhão-da-serra (Apus unicolor)”, acrescenta o relatório, que recorda que a identificação dessa colónia no âmbito da campanha de ciência cidadã “foi fundamental para que se pudesse articular esforços com o município do Porto e o dono de obra, que se prontificou a adotar as medidas propostas para proteger os ninhos”.
Saiba mais.
Fique a conhecer melhor o projeto Andorin, aqui.