No âmbito da 1ª Semana Nacional sobre Espécies Invasoras, Maria João Verdasca e Albano Soares, investigadores, falaram à Wilder sobre sete espécies cujo comportamento levanta preocupações em Portugal.
Em causa, estão insectos que constam da lista oficial portuguesa de espécies invasoras, mas também espécies que estão assim classificadas no âmbito da União Europeia e outras que, apesar de não serem formalmente consideradas invasoras, são alvo de planos nacionais de acção para o seu controlo.
1. Vespa asiática (Vespa velutina)
“Esta é uma espécie nativa do Sudeste Asiático, que em 2004 foi detectada pela primeira vez em França”, lembra Maria João Verdasca, da cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Como é que a vespa terá chegado ao território francês? Acredita-se que “uma única fêmea fecundada por vários machos terá sido transportada acidentalmente num carregamento de loiças para bonsais e estará na origem de todo o processo de invasão na Europa”, indica a investigadora, que está a trabalhar numa tese de doutoramento sobre este insecto.
A espécie entrou em Portugal pela região de Viana do Castelo, em 2011, “através de um carregamento de madeiras importadas de França.” Apenas nove anos depois, “já está estabelecida ao longo de uma faixa contínua desde o Norte até à região de Lisboa”, recorda, adiantando que está agora presente em Portugal, Espanha, França, Itália, Bélgica, Alemanha, Luxemburgo e Inglaterra.
Assim, desde 2016 a vespa asiática é considerada “uma espécie
exótica invasora pela União Europeia e que requer que os diferentes países adoptem medidas para o seu controlo”.
Mas quais são os impactos que tem? “Na fase adulta a vespa asiática alimenta-se de substâncias açucaradas (néctares e frutos), predando
ainda vorazmente a abelha do mel e polinizadores selvagens.” O objectivo é obter as fontes de proteína de que precisa para alimentar as suas larvas que estão no ninho, descreve Maria João Verdasca, salientando que isso “naturalmente põe em risco a actividade apícola e a produção agrícola”.
Mais: “Só a mera presença da vespa em frente dos apiários faz com que as abelhas acabem por não sair da colmeia para se alimentarem, diminuindo
consequentemente a produção de mel e enfraquecendo a saúde geral da colmeia.”
Este insecto é também encarado como “um perigo para a saúde pública”, uma vez que “quando sente o ninho ameaçado pode reagir atacando em grande número”.
Em caso de avistamento, lembra a investigadora, deve informar-se as autoridades, ou através da plataforma STOPvespa ou pela linha SOS Ambiente (808 200 520), “que irá depois articular com a câmara municipal e Proteção Civil para a validação do registo e remoção do ninho.”
2. Escaravelho-da-batata (Leptinotarsa decemlineata)
Este escaravelho originário da América do Norte já chegou há muitos anos a Portugal, onde “foi detectado pela primeira vez em 1943”, indica Maria João Verdasca. A espécie está hoje dispersa por todo o país.
“É desde há muito uma grave praga da batateira devido à sua voracidade e ao grande poder de multiplicação, o que leva a perdas de produção. Está presente na lista de espécies invasoras de Portugal Continental (DL565/99)”, adianta.
É na Primavera e Verão que este coleóptero “se pode encontrar mais facilmente pelos campos”, diz também a investigadora, lembrando que “o ciclo de vida do escaravelho acompanha o ciclo de vida da batateira”. Assim, quando chega o Inverno, “entra numa espécie de ‘hibernação’ (diapausa), enterrado entre 30 a 40 cm de profundidade.”
Mas quais são os problemas que provoca? Como se alimenta das folhas das batateiras ao longo da vida – quer em larva quer em adulto – “reduz a sua capacidade de fazer a fotossíntese e de produzir batatas de qualidade”, explica.
O tratamento faz-se sobretudo com produtos químicos, pois “os resultados ainda não são satisfatórios” quanto à investigação sobre soluções biológicas, como parasitóides, fungos e bactérias. A alternativa tem sido procurar “um equilíbrio entre a eficácia do pesticida e os efeitos que possa causar no meio ambiente”.
3. Escaravelho-da-palmeira (Rhynchophorus ferrugineus)
Conhecido também por escaravelho vermelho, este coleóptero “alimenta-se de folhas de palmeiras, provocando estragos importantes que podem conduzir à morte das plantas.”
Maria João Verdasca lembra que o escaravelho-da-palmeira é nativo das zonas tropicais da Ásia e Oceânia. “Foi detectado pela primeira vez na Europa em 1996 (Espanha), possivelmente introduzido através de palmeiras importadas do Egipto”, mas actualmente já está presente “em quase todos os países da bacia mediterrânica”, incluindo Portugal.
Aqui, recorda, 2007 foi o ano em que foi registado pela primeira vez, no Algarve, mas está agora “disperso por diversas regiões do território nacional”.
“A rápida dispersão da praga associada à sua elevada nocividade levou a União Europeia a considerá-la como de luta obrigatória.” Em 2007, a Decisão da Comissão 2007/365/CE definiu as medidas para evitar a introdução e propagação deste escaravelho no território europeu. Em Portugal, “há actualmente um plano de acção nacional para combate ao Rhynchophorus ferrugineus coordenado pela Direcção Geral de Alimentação e Veterinária.”
O que se deve fazer um proprietário, público ou privado, de palmeiras que apresentem sinais ou sintomas suspeitos da presença deste escaravelho? “Devem informar a Direcção Regional de Agricultura e Pescas da sua área geográfica ou a Câmara Municipal respectiva – incluindo casos suspeitos ou confirmados – para que seja avaliada a possibilidade de recuperação ou a necessidade de abate e destruição da palmeira e respectivo acompanhamento do processo.”
Ainda assim, a espécie não é considerada invasora, pelo menos no continente, ressalva esta bióloga, que explica: “Apesar de se ter tornado uma importante praga de jardinagem, destruindo as palmeiras cultivadas em jardins e zonas verdes urbanas, não se conhecem ainda quaisquer impactos em espécies autóctones ou em ecossistemas naturais.”
4. Vespa-das-galhas-do-castanheiro (Dryocosmus kuriphilu)
“Esta espécie, originária da China, tem vindo a estabelecer-se noutras regiões asiáticas (Japão, Coreia), na América do Norte e em grande parte da Europa”, indica a investigadora do cE3c, adiantando que em Portugal “foi detectada em Junho de 2014”.
Acima de tudo, é uma dor de cabeça para os produtores de castanha, pois “leva ao aparecimento de galhas nos ramos e folhas de castanheiros, a partir de meados de Abril/Maio, o que prejudica o normal desenvolvimento vegetativo e se traduz numa quebra de produção de castanhas que pode ir até aos 60%.”
Desde 2017 que está em vigor um plano de acção e combate coordenado pela Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária, refere Maria João Verdasca, que sublinha que “a vespa das galhas do castanheiro é actualmente considerada uma das pragas mais prejudiciais para os castanheiros em todo o mundo”. “Na Europa, particularmente na região mediterrânica, pode constituir uma séria ameaça à sustentabilidade dos soutos e castinçais.”
5. Mosca-do-Mediterrâneo (Ceratitis capitata)
Nativa da Africa subsariana, esta mosca “ataca os frutos de variadíssimas espécies fruteiras – pêssegos, damascos, nectarinas, maçãs, peras, laranjas, tangerinas, figos, diospiros, nêsperas, uvas e muitos outros – e pode causar a perda total da produção”, avisa Maria João Verdasca, acrescentando que “é referenciada pela CABI – Invasive Species Compedium como espécie invasora”.
A solução é fazer “uma monitorização permanente dos pomares com colocação de armadilhas selectivas para esta espécie”. Quando nada é feito, estas moscas surgem “com densidades populacionais elevadas no Verão e Outono, tornando a luta contra a mosca-do-Mediterrâneo extremamente difícil e dispendiosa.”
No entanto, sublinha a mesma responsável, “o combate só terá sucesso se for organizado coletivamente entre fruticultores, pois a mosca passa muito facilmente e com grande rapidez de uns pomares para os outros e mesmo de umas regiões para as outras”.
6. Formiga-argentina (Linepithema humilis)
Albano Soares, entomólogo da equipa do Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal, lembra que a formiga-argentina chegou ao território português há muitos anos, através da ilha da Madeira.
Com dois a três milímetros de comprimento, estas pequenas formigas castanhas são nativas da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Segundo os especialistas em espécies invasoras ligados à União Internacional para a Conservação da Natureza, estão espalhadas por vários países do mundo – como os Estados Unidos e a Austrália – onde terão chegado agarradas a embarcações e a outros meios de transporte de mercadorias.
Na Europa, além de Portugal – onde são parte da lista oficial de espécies invasoras – encontram-se hoje em Itália, França, Suíça, Reino Unido e Espanha. Neste último país, os cientistas já provaram aliás que obrigou ao abandono de colónias locais por formigas nativas, numa área ecologicamente sensível.
Com efeito, destaca Albano Soares, um dos grandes problemas da formiga-argentina é que “acaba com as espécies nativas de formigas”, quando algumas destas podem ter papéis importantes na dispersão de sementes e na polinização de plantas.
Mas não só. No Hawai, segundo a UICN, a espécie está a reduzir as populações de muitos insectos naturais do arquipélago, incluindo polinizadores importantes, o que coloca em risco plantas já ameaçadas. Noutras partes do mundo, há também relatos de que ataca colónias de abelhas e ninhos de aves.
7. Formiga-faraó (Monomorium pharaonis)
Apontada pelo CABI – Invasive Species Compedium como espécie invasora, a formiga-faraó terá chegado a países de todo o mundo principalmente à boleia de vasos de plantas. Nativa de África, mede entre dois a quatro milímetros de comprimento e pode ter várias cores, desde o castanho-claro ao vermelho.
Em todos os países, incluindo Portugal, depende dos ambientes humanos para sobreviver. É aliás uma devoradora voraz de reservas de comida, aponta Albano Soares. Exemplos? Ataca doces, mel, bolos – daí ser conhecida também por formiga-do-açúcar – e ainda manteiga e mesmo carne.
Segundo o Grupo de Especialistas em Espécies Invasoras da UICN, “faz ninho frequentemente dentro de estruturas humanas mas raramente obriga à deslocalização de espécies nativas fora dos ambientes urbanos.” É considerada uma peste em muitos locais populosos do mundo, onde se reproduz dentro de casas particulares, mercearias e restaurantes, até aos hospitais onde a sua presença “é uma forte preocupação” por ser um vector importante de patogéneos que costumam infectar os pacientes.
Agora é a sua vez.
Tenha cuidado para não confundir a vespa-asiática com espécies de vespas nativas, como a Vespa crabro. Cinco ajudas aqui.
Inscreva-se e participe numa das mais de 100 acções no âmbito da Semana Nacional sobre Espécies Invasoras, que estão a decorrer até domingo dia 18, organizadas com a coordenação da plataforma Invasoras.pt.
Fique a conhecer estas espécies invasoras de plantas em Portugal e ajude a saber onde estão.