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Saias-verdes (Pseudoips prasinana). Foto: Dar Nome à Traça

Há 285 espécies de borboletas noturnas que já têm nome comum graças aos cidadãos

23.06.2025

Saias-verdes e manto-real são apenas duas das 285 espécies de borboletas noturnas que ganharam nomes comuns, no âmbito da iniciativa “Dar Nome à Traça”, que aconteceu de Março de 2024 a Fevereiro de 2025 e na qual participaram 254 pessoas.

O desafio era simples: dar um nome comum a todas as macro-borboletas noturnas de Portugal Continental, mais de 950, que até então apenas tinham nome científico.

Pistácia (Ophiusa tirhaca). Foto: Dar Nome à Traça

O primeiro ano do “Dar Nome à Traça” – uma parceria da Rede de Estações de Borboletas Noturnas (REBN), da associação Biodiversity4all e da revista Wilder – envolveu 254 pessoas que propuseram um total de 2008 nomes. 

“Estamos muito satisfeitos com o nível de adesão a este projecto”, comentou à Wilder  João Nunes, da REBN. Participaram neste desafio alunos de escolas, sócios de associações de conservação da natureza, técnicos de instituições públicas e participantes do projeto de monitorização da REBN. 

Caduca-sulfúrea (Cirrhia icteritia). Foto: Dar Nome à Traça

Ao longo dos 12 meses, a revista Wilder publicou desafios mensais com cinco espécies sem nome comum reconhecido. Nesses artigos, os leitores puderam participar preenchendo um formulário com as suas propostas. No total, a equipa da REBN recebeu 413 respostas aos formulários. 

Um dos resultados do projeto é o número de espécies que passaram a ter um nome comum, além do científico: 285 no total. Destas, 60 são resultado dos desafios apresentados mensalmente ao público e 225 do trabalho da equipa do “Dar Nome à Traça” (20 das quais são resultado da avaliação dos vernáculos já existentes).

Manto-real (Leucochlaena oditis). Foto: Dar Nome à Traça

Entre os nomes comuns propostos pelo público, João Nunes destaca a pistácia (Ophiusa tirhaca), a saias-verdes (Pseudoips prasinana), a falsa-esmeralda (Aplasta ononaria) e a manto-real (Leucochlaena oditis).

Por seu lado, a equipa do “Dar Nome à Traça” propôs, por exemplo, a caduca-sulfúrea (Cirrhia icteritia), a ervilha-caiada (Earias albovenosana) e a guerreira-dos-amieiros (Ennomos alniaria).

Este projecto centra-se nas cerca de 950 espécies de macro-borboletas noturnas registadas para Portugal, distribuídas por 15 famílias. 

Guerreira-dos-amieiros (Ennomos alniaria). Foto: Dar Nome à Traça

A Rede de Estações de Borboletas Noturnas identificou recorrentemente em actividades com o público “uma dificuldade nos participantes em referir-se às espécies de borboletas noturnas, em grande medida pela incapacidade de fixar os seus nomes”, salientou João Nunes. “Isto é mais significativo nos participantes mais jovens, cuja sensibilização é ainda mais importante. Não conseguindo aludir a uma determinada espécie, muito dificilmente conseguirão atingir empatia pela mesma.”

Na sua opinião, “o grau de afinidade dos naturalistas e do público em geral para com as espécies que observam e registam dependerá sempre também da existência de um nome comum (…), isto é, um termo pelo qual se consigam referir à espécie sem ser o nome científico”.

Por isso, “este trabalho permitirá sensibilizar e atrair interesse para este grupo que, por sua vez, potenciará o seu estudo e conservação em Portugal”.

Falsa-esmeralda (Aplasta ononaria). Foto: Dar Nome à Traça

Agora, o “Dar Nome à Traça” vai apresentar uma Proposta de Vernáculo para todas as espécies de macroborboletas noturnas de Portugal continental. “A curto-prazo pretendemos divulgar os nomes propostos, fomentando a sua utilização, através dos nossos meios de comunicação (e.g. redes sociais, Borboletim, site) e através da sua inclusão na rede social INaturalist, estando o seu representante nacional, a associação Biodiversity4all, envolvida no projeto”, adiantou o responsável. “A longo-prazo, após a proposta estar finalizada, pretendemos publicar a mesma em revista, ficando formalmente disponível também para a comunidade científica.”

De momento, há 674 espécies de macro-borboletas que ainda não foram avaliadas pela equipa do “Dar Nome à Traça”. Para 54 dessas foram encontrados vernáculos já existentes.

Ervilha-caiada (Earias albovenosana). Foto: Dar Nome à Traça

A equipa vai continuar a trabalhar para dar nomes comuns a estes animais. “O próximo passo é continuar o trabalho deste primeiro ano de projeto, isto é, a preparação dos conteúdos de divulgação ao público com espécies que ainda têm falta de um vernáculo português, abrindo de novo espaço para o recebimento de propostas, em plataforma ainda a decidir, e continuar o desenvolvimento da proposta para as espécies que não serão colocadas ao público”, explicou João Nunes.


Agora é a sua vez.

Como podemos ajudar as borboletas noturnas?

Para começar, podemos adoptar comportamentos que beneficiam toda a biodiversidade: como evitar o uso de herbicidas, utilizar espécies de plantas autóctones nos nossos espaços verdes, evitar a propagação de espécies de plantas invasoras e estabelecer zonas de cortes mais espaçados no tempo.

Depois, podemos gerir melhor a luz artificial nos nossos espaços. “A conhecida atração das borboletas noturnas pela luz é um comportamento que, em paisagens iluminadas à noite, como são as nossas cidades, vilas e aldeias, é prejudicial para as espécies, pois quando atraídas, as atividades de alimentação e reprodução ficam em suspenso, ao mesmo tempo que ficam mais vulneráveis à predação”. 

Algumas medidas a considerar são, por exemplo, a instalação de sensores de movimento associados às luzes exteriores, evitando que as mesmas fiquem ligadas desnecessariamente toda a noite, a adaptação das luzes exteriores para que estas apenas iluminem para baixo, e não para cima, evitando que os insetos que sobrevoem sejam imediatamente atraídos, e a redução de pontos de iluminação. Aqui pode obter mais informação.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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