Na série “Abra espaço para a natureza”, Carine Azevedo responde às dúvidas que temos quando pensamos em tornar um espaço mais amigo do mundo natural.
Com a chegada da primavera é típico plantarem-se árvores, arbustos e outras plantas mais pequenas, o que pode levar-nos a pensar que esta estação é perfeita para qualquer projeto. Bons tempos esses, em que plantar na primavera era sinónimo de sucesso.
Na verdade, quando se trata de plantar árvores e até mesmo arbustos, seja de espécies nativas ou exóticas, é fundamental garantir que esses esforços não sejam em vão, especialmente agora, considerando as alterações climáticas sem precedentes.
Qual a melhor época de plantação?
Quanto mais tempo ocorrer entre a plantação e a chegada do calor típico do verão, mas que atualmente começa cada vez mais cedo, ainda durante a primavera, melhor. Isto faz do outono e até mesmo do inverno as melhores épocas do ano para plantar.
O tempo mais fresco é o melhor para plantar árvores ou arbustos uma vez que, nessa altura, a maioria destas espécies encontram-se em repouso vegetativo, logo também menos propensas a agressões. Além disso, plantar cedo, bem antes da chegada do calor, dará à árvore oportunidade suficiente de estabelecer as raízes.
Atualmente, plantar uma árvore no final da primavera ou no verão, quando as raízes estão em plena atividade, pode aumentar as probabilidades desta secar ou morrer. Se por um lado as árvores estão a fortalecer os seus sistemas radiculares para se adaptarem às condições ambientais, por outro lado, é nesse período que iniciam o desenvolvimento de nova folhagem, flores e até de frutos. Se as raízes jovens não se desenvolverem e se adaptarem rapidamente às condições ambientais, e simultaneamente ocorrer uma onda de calor, por exemplo, muito provavelmente as árvores não estarão preparadas para sobreviver. Numa situação dessas, é fundamental regar. A rega ajudará a compensar o risco de a árvore secar ou morrer.
Plantas de raiz nua ou de torrão!
Durante o período de planeamento da plantação, também é fundamental ter em conta que as árvores e os arbustos a plantar podem ser apresentados de duas formas, e que isso também implica uma maior ou menor taxa de sobrevivência, em função da época do ano em que se executa a operação. São as chamadas plantas de raiz nua ou plantas de torrão.
As plantas de raiz nua são aquelas que se vendem com as raízes expostas, sem substrato a protegê-las. Estas plantas são geralmente mais baratas, no entanto, é necessário algum cuidado na sua manipulação, já que as raízes se encontram desprotegidas.
Por outro lado, as plantas de torrão são produzidas, transplantadas e plantadas com as raízes envolvidas em substrato. Estas plantas são geralmente mais resistentes na hora da plantação. No caso de virem em recipientes ou envolvidas num saco de plástico devem ser cuidadosamente manuseadas de forma a retirar os mesmos, evitando desfazer o torrão de terra aderente às raízes.
Profundidade de plantação
Outro dos aspetos a ter em conta, no planeamento da plantação, prende-se com a perfeita instalação das raízes.
Para isso, é fundamental verificar a profundidade de solo disponível, de forma a garantir que a árvore ou o arbusto crescerão de forma saudável e sem o risco de atrofiamento das raízes.
Assim, as covas de plantação devem ser abertas a uma profundidade e comprimento superior ao das raízes. Simultaneamente, deve mobilizar-se o solo no fundo da cova para facilitar a drenagem e o arejamento, pois isso ajudará também à fixação das raízes.
Para facilitar na hora de abrir covas para plantação, podemos tomar-se em consideração a seguinte referência:
- Plantas com torrão: covas com pelo menos uma vez e meia do volume do torrão que envolve as raízes
- Plantas de raiz nua: covas com pelo menos uma vez e meia do volume das raízes
As plantas devem ficar cobertas com solo até à marca já existente no tronco, ou seja, devem ficar à mesma profundidade a que se encontravam no viveiro, geralmente na zona do colo (zona limite entre o caule e as raízes).
Espaçamento entre plantas
Também o espaçamento entre plantas é fundamental para que estas cresçam adequadamente.
Durante a fase de seleção das diferentes espécies para o jardim, é importante ter em consideração a sua altura, o volume da copa e o sistema radicular quando crescerem. Isso permite um planeamento correto e evitará problemas no futuro.
As árvores devem manter um espaçamento mínimo de 3 metros entre si. No entanto, esse espaçamento pode aumentar para 6 metros no caso de árvores de maior porte.
No caso de arbustos que não atinjam mais de dois metros de altura, recomendo uma distância mínima de 50 a 60 centímetros. Já se os arbustos forem maiores, devem plantar-se pelo menos a um metro de distância.
Na instalação de sebes, para garantir o fechamento mais imediato e uma barreira verde mais densa, é fundamental ter em atenção os seguintes compassos:
- Plantas mais altas (que possam atingir mais de 1,5 metros de altura) devem ser plantadas a uma distância de 60 a 70 centímetros entre si
- Plantas mais pequenas (que atinjam até 1,5 metros de altura) podem ser plantadas a uma distância menor, entre 30 a 50 centímetros
Também é elementar ter em atenção as distâncias de plantação quer de árvores, quer de arbustos, em relação às infraestruturas envolventes, nomeadamente esgotos, canalizações de água, muros e habitações, sem esquecer os vizinhos, para que no futuro não venham a causar problemas. As raízes podem danificar condutas de esgotos, canalizações, fundações e estruturas de suporte de muros, entre outros; os ramos das árvores que se situam próximas dos limites das propriedades podem incomodar os vizinhos com a sombra e com as folhas que caem no outono ou até obstruir a área adjacente.
Não há nada mais satisfatório do que plantar uma árvore ou um arbusto e vê-los crescer nos anos que se seguem, mas é importante garantir que cresçam sem qualquer constrangimento, quer para eles, quer para as pessoas.
Todas as semanas, durante mais de dois anos, Carine Azevedo deu-lhe a conhecer novas plantas para descobrir em Portugal. Encontre aqui todos os artigos desta autora.
Carine Azevedo é Mestre em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal, com Licenciatura em Engenharia dos Recursos Florestais. Faz consultoria na gestão de património vegetal ao nível da reabilitação, conservação e segurança de espécies vegetais e de avaliação fitossanitária e de risco. Dedica-se também à comunicação de ciência para partilhar os pormenores fantásticos da vida das plantas.
Para acções de consultoria, pode contactá-la no mail [email protected]. E pode segui-la também no Instagram.