Uma maior diversidade de árvores e arbustos nos olivais pode favorecer a abundância e a diversidade de aves sem afectar negativamente a produção, demonstrou um novo estudo publicado na revista Ecological Applications.
O estudo, publicado a 9 de Julho, parte de uma realidade bem conhecida no Mediterrâneo: os olivais são uma das paisagens agrícolas mais emblemáticas da região, ultrapassando os 11 milhões de hectares.
Mas são também uma das mais transformadas nas últimas três décadas. Este cultivo milenar sofreu alterações profundas com a intensificação agrícola, o que deu lugar a olivais cada vez mais extensos, com menor cobertura herbácea e rodeados de um meio menos natural. Agora, este trabalho analisou até que ponto é possível compatibilizar a produtividade do olival com a conservação da biodiversidade.
A equipa de investigadores – coordenada pela Estação Biológica de Doñana (EBD-CSIC) e a Universidade de Jaén – analisou como respondem as aves à intensificação agrícola em 50 olivais do Sul de Espanha, nomeadamente na Andaluzia, Castela-La Mancha e Extremadura. A lista destes olivais inclui explorações intensivas e outras que mantiveram o coberto herbáceo e o habitat natural.
O estudo analisou uma série de variáveis ambientais relativas ao grau de intensificação agrícola em diferentes escalas espaciais. E descobriu os limites críticos a partir dos quais a abundância e diversidade de aves diminui ou aumenta.
As espécies de aves mais comuns foram a toutinegra-de-cabeça-preta (Curruca melanocephala), o tentilhão-comum (Fringilla coelebs), o pintassilgo (Carduelis carduelis) e o verdilhão (Chloris chloris).
Em geral, as aves responderam de forma positiva a níveis mais baixos de intensificação agrícola. Ao aumentar a cobertura de vegetação e a diversidade de plantas – tanto herbáceas como lenhosas – também aumentou a abundância e a diversidade de aves.
“Esta resposta positiva não foi limitada a determinados grupos. Espécies com uma ecologia muito diferente em termos de dieta ou estratégia de captura de alimento registaram um padrão semelhante”, comentou, em comunicado, Vicente García-Navas, investigador da Estação Biológica de Doñana e o principal autor do estudo.
Segundo os investigadores, a abundância de aves não se alterou de forma brusca perante a mudança nos ecossistemas mas foi algo que foi acontecendo gradualmente, com um elevado grau de sincronia entre as espécies. O que leva os investigadores a acreditar que existem limites críticos. Em concreto, o estudo defende que conseguir um número mínimo de 85 plantas herbáceas e 15 plantas lenhosas por exploração pode trazer ganhos de biodiversidade para os olivais sem praticamente efeitos negativos.
“Não há receitas mágicas mas estes dados podem orientar futuras decisões de gestão”, defendeu Pedro J. Rey, catedrático da Universidade de Jaén. “Estabelecer objectivos claros na hora de incentivar a manutenção de um mínimo de espécies vegetais no âmbito da Política Agrícola Comum pode melhorar a sua eficácia na hora de preservar a biodiversidade.”
Esta investigação salienta ainda que estes efeitos positivos acontecem a escalas diferentes, tanto ao nível da propriedade como ao nível da paisagem. Por isso, os investigadores defendem que as acções para preservar a biodiversidade nos olivais não se devem limitar à zona produtiva do cultivo mas também à área circundante e à paisagem, na medida do possível.
O estudo foi realizado no âmbito dos projetos LIFE Olivares Vivos e Olivares Vivos+ que procuram aumentar a rentabilidade do olival a partir da recuperação da sua biodiversidade.