Pelo menos 30% das espécies de árvores conhecidas no mundo enfrenta a extinção na natureza, segundo uma nova avaliação feita pela organização Botanic Gardens Conservation International (BGCI).
Os peritos dizem que 17.500 espécies de árvores estão em perigo, um número duas vezes superior ao número de espécies ameaçadas de mamíferos, aves, anfíbios e répteis juntas.
Árvores bem conhecidas, como as magnólias e as árvores tropicais da família Dipterocarpaceae, estão entre as mais ameaçadas, com carvalhos, áceres e ébanos também em risco.
Grupos conservacionistas estão a apelar a esforços urgentes de protecção, num cenário de inúmeras ameaças, como a desflorestação, abate ilegal de árvores e alterações climáticas.
“Temos quase 60.000 espécies de árvores no planeta e, pela primeira vez, sabemos quais destas espécies estão a precisar de conservação, quais são as maiores ameaças que enfrentam e onde estão”, disse Malin Rivers, da organização Botanic Gardens Conservation International em Kew, Londres, citado pela BBC.
Para um mundo saudável, precisamos de diversidade de espécies de árvores, acrescentou Sara Oldfield, co-directora do Global Tree Specialist Group da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
Estima-se que uma em cada cinco espécies de árvores sejam usadas directamente pelos humanos, para combustível, alimento, madeira, medicamentos, horticultura, entre outros usos.
“Cada espécie de árvore tem um papel ecológico único a desempenhar”, disse a responsável. “Com 30% das espécies de árvores do mundo ameaçadas de extinção, precisamos urgentemente de melhorar as acções de conservação.”
O relatório State of the World’s Trees – resultado de cinco anos de trabalho de mais de 500 peritos para compilar informação sobre o risco de extinção de 58.497 espécies de árvores em todo o mundo – concluiu que, pelo menos, 30% das espécies conhecidas de árvores estão ameaçadas de extinção.
Hoje, 142 espécies já desapareceram da natureza, enquanto que outras 442 estão no limiar da extinção com menos de 50 indivíduos. Estas espécies encontram-se por todo o mundo, desde o cedro de Mulanje no Malawi – com apenas algumas árvores nas Montanhas Mulanje – à pequena árvore Sorbus arvonensis da qual só restam 30 indivíduos na costa Norte do País de Gales.
As ameaças
As maiores ameaças às árvores do mundo são a desflorestação para fins agrícolas (com impacto em 29% das espécies), o abate para a exploração de madeira (27%), a desflorestação para criação de gado (14%) e para urbanização residencial e comercial (13%) e os incêndios (13%).
Segundo este relatório, uma em cada três espécies de árvores actualmente exploradas pela indústria madeireira estão ameaçadas de extinção.
As alterações climáticas, eventos climatéricos extremos e o aumento do nível do mar são ameaças crescentes para as árvores por todo o mundo. Pelo menos 180 espécies são directamente ameaçadas desta forma, em especial nas ilhas, como as magnólias nas Caraíbas. “À medida que a temperatura e o clima do mundo muda, muitas árvores arriscam-se a perder áreas de habitat adequado para elas”, explica a BGCI, em comunicado. “Isto afecta tanto as espécies de habitats temperados como as de tropicais, estando as espécies de árvores das florestas nebulosas da América Central em particular perigo.”
Na Europa, 58% das árvores nativas estão ameaçadas de extinção na natureza. As árvores do género Sorbus – onde se inclui, por exemplo, a tramazeira (Sorbus aucuparia) – são as mais ameaçadas. O Brasil – que tem algumas das florestas mais biodiversas do planeta – tem o número mais elevado de espécies de árvores (8.847) e também o número mais elevado de espécies ameaçadas (1.788).
Mas é nas ilhas que as árvores estão, proporcionalmente, mais em perigo. As ilhas com a maior percentagem de árvores ameaçadas são Santa Helena (com 69% das árvores ameaçadas), Madagáscar (59%) e Maurícias (57%).
Os autores do relatório dizem que com acções de conservação ainda há esperança para o futuro.
“O relatório dá-nos um plano para mobilizar a comunidade conservacionista e outros agentes para garantir que a conservação das árvores está no topo da agenda mundial da conservação”, disse Malin Rivers.
Hoje, pelo menos 64% de todas as espécies de árvores podem ser encontradas em pelo menos uma área protegida e cerca de 30% estão em jardins botânicos, bancos de sementes ou outras colecções ex-situ.
Ainda assim é preciso fazer mais, dizem.
Os peritos pedem várias medidas, entre elas a preservação das florestas actuais e a expansão de áreas protegidas.
Defendem também manter as espécies ameaçadas em jardins botânicos ou em bancos de sementes na esperança de um dia poderem ser devolvidas à natureza.
Segundo os peritos, é importante sensibilizar as pessoas para garantir que a reflorestação e os projectos de plantação de árvores são feitos cientificamente, com a árvore certa no lugar certo, incluindo as espécies raras e ameaçadas.
Por fim, e não menos importante, é preciso mais financiamento para a conservação das árvores.
A BGCI lançou um novo GlobalTree Portal, uma base de dados online que acompanha os esforços de conservação dedicados às árvores a nível global, nacional e por espécie.
A situação em Portugal
No nosso país, estão registadas 103 espécies nativas de árvores. Destas, 17 são endémicas e nove estão ameaçadas, segundo a UICN.
A árvore mais ameaçada é o mocano (Pittosporum coriaceum), que já se extinguiu nas Canárias e tem sobrevivido na ilha da Madeira. Está classificada como Criticamente Em Perigo de extinção.
Em Perigo estão quatro espécies: o cedro-da-madeira (Juniperus cedrus), o buxo-da-rocha (Chamaemeles coriacea), o azereiro ou loureiro-de-Portugal (Prunus lusitanica) e o marmulano (Sideroxylon mirmulans).
Com a classificação Vulnerável estão outras quatro espécies: o dragoeiro (Dracaena draco), o cedro-das-ilhas (Juniperus brevifolia), o aderno (Heberdenia excelsa) e o sabugueiro-da-Madeira (Sambucus lanceolata).
Das 103 espécies de árvores, 102 estão em jardins botânicos, arboretos ou em bancos de sementes; e 90 espécies estão em pelo menos uma área protegida.