Podia gostar do gato-bravo, do urso ou do javali mas é o lobo-ibérico que fascina Bruno Arrojado desde criança. Teve uma ideia, contactou várias pessoas e, juntamente com três biólogos que dedicam a vida ao último grande predador português, lançou em Junho a plataforma loboiberico.pt. Saiba o que esta faz e como está a ajudar aquela espécie ameaçada.
Bruno Arrojado, 40 anos e programador informático, quis criar um espaço para o lobo-ibérico (Canis lupus signatus) na Internet para ajudar activamente a conservar esta espécie classificada Em Perigo de extinção em Portugal.
O fascínio pelo lobo nasceu quando, em criança, ouvia o avô falar-lhe da existência do lobo na Serra de São Mamede. “Gosto do lobo, diz-me bastante e desde cedo suscitou a minha curiosidade”, explicou à Wilder.
Por isso teve uma ideia de criar-lhe um espaço que fizesse a diferença, para combater as notícias falsas (fake news), as crenças e os medos infundados. “Contactei várias pessoas e houve algumas que se juntaram.” São elas Francisco Álvares, doutorado em Biologia da Conservação e investigador no BIOPOLIS-CIBIO; Lemuel Silva, biólogo e intérprete ambiental, criador de conteúdos, conservacionista (rewilder) e educador ambiental; e Sílvia Ribeiro, bióloga e mestre em Etologia, estando a concluir o doutoramento em comportamento canino.
Uma das apostas da plataforma loboiberico.pt é reunir informação que está dispersa e que é baseada na informação científica mais recente para promover a coexistência pacífica do lobo com o ser humano. Dá destaque, por exemplo, a medidas de protecção do gado e a normas de conduta em território de lobo e a informação sobre o lobo, desde a bioecologia do lobo e a sua relação com os humanos, à situação actual da espécie e as principais ameaças.
Inclui também documentos e registos antigos, assim como várias imagens e vídeos de lobos obtidas na natureza.
Outro elemento da plataforma é a aplicação “Eu vi um lobo” que desafia qualquer pessoa a enviar os seus registos e observações de lobo, seja avistamentos do animal ou rastos (pegadas ou fezes, por exemplo). De momento, a aplicação já recebeu 30 registos válidos.
“O objectivo não é dizer às pessoas para andarem a correr atrás do lobo no campo, mas tão simplesmente ajudarem a conhecer melhor a espécie com as suas observações. É ajudar, tirar a fotografia e seguir caminho”, explicou Bruno Arrojado.
Paralelamente, a Plataforma apoia ações de conservação no terreno, doando uma parte dos lucros da venda de produtos da sua Loja, promovendo também o envolvimento direto da sociedade, que tem a oportunidade de contribuir para os projetos de conservação apoiados pela Plataforma. A Loja inclui artigos exclusivos e serviços alusivos ao lobo e ao seu ecossistema, como sejam produtos locais e atividades turísticas, dando prioridade a artistas nacionais e a produtores que adotem boas práticas de coexistência com o lobo.
Bruno Arrojado acredita que é importante “olhar para o lobo não apenas como dando prejuízos económicos mas também como tendo potencial económico”, através de um “turismo sustentável”.
De momento, a plataforma está a apoiar dois projectos: o programa Cão de Gado, do Grupo Lobo, e o projecto LIFE WolFlux, da Rewilding Portugal. “Já fizemos a doação de um cão de gado ao Grupo Lobo” desde o lançamento da plataforma, disse Bruno Arrojado. Adiantou que no final deste ano irão fazer outras doações.
Para 2024, o desejo é internacionalizar a plataforma, disponibilizando tradução em Inglês e Espanhol, continuar a actualizar a plataforma e “aumentar o leque de projectos para doação”.
Até aos anos 30 do século XX, o lobo-ibérico distribuía-se por todo o país, até ao Algarve. Com o passar dos anos, foi sendo empurrado para norte, concentrando-se hoje em núcleos no Alto Minho, Trás-os-Montes e numa região a Sul do Douro.
O lobo-ibérico é a única espécie da fauna portuguesa que tem uma legislação específica, pela qual é protegida. É uma espécie Em Perigo de extinção, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal Continental, com cerca de 300 indivíduos, menos de metade dos quais são animais reprodutores capazes de contribuir para a continuidade da população.
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