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Lobo-ibérico. Foto: Arturo de Frias Marques/Wiki Commons

Espanha: Censo do lobo regista 333 alcateias, longe das 500 necessárias para a sua viabilidade genética

27.06.2025

O novo censo nacional espanhol do lobo (2021-2024), divulgado hoje, registou um total de 333 alcateias, longe das 500 que os cientistas consideram necessárias para garantir a viabilidade genética da espécie a longo prazo.

Este número de 333 alcateias representa um aumento de 12% em relação ao censo anterior (2012-2014), quando se registaram 297 alcateias, revela, em comunicado, o Ministério espanhol para a Transição Ecológica e para o Desafio Demográfico (Miteco).

A maior parte da população de lobo em Espanha está em Castela e Leão (193 alcateias), Galiza (93), Astúrias (45) e Cantábria (23). O País Basco (2), Madrid (5), Castela-La Mancha (4), La Rioja (5) e Extremadura (1) formam os territórios em expansão e que registam um número muito reduzido de alcateias.

Não foram encontradas alcateias estáveis nem Aragão nem na Catalunha, apesar de existir a presença esporádica de exemplares, mas sem provas de reprodução. Em 2024 detectou-se, pela primeira vez em décadas, uma alcateia reprodutora na Extremadura.

Os investigadores, lembra o ministério, consideram que devem existir 500 alcateias para garantir a viabilidade genética da espécie a longo prazo.

“Estes resultados parecem assinalar que o lobo se encontra numa situação estável em Espanha, com um crescimento e expansão moderada nos limites da sua distribuição, e uma estabilização dos seus efectivos nas áreas de distribuição histórica da espécie: Galiza, Astúrias e Castela e Leão”, considerou o ministério espanhol.

Os dados deste censo vão servir para perceber se o estado de conservação da espécie é favorável ou desfavorável de acordo com os critérios definidos pela União Europeia.

O período do censo coincidiu com um momento em que a espécie beneficiou de protecção especial em toda a Espanha, tendo estado incluída na Lista de Espécies Selvagens em Regime de Protecção Especial. “Este facto, sem dúvida, contribuiu para a melhoria populacional observada.”

Mas a recente alteração normativa “propicia que várias comunidades autónomas já tenham anunciado a sua intenção de retomar a caça ao lobo”, notou o ministério. No caso da Cantábria já foram abatidos pelo menos nove lobos, em época de reprodução, dos 41 previstos na temporada 2025/2026. Astúrias informou que, no âmbito do seu Plano de Gestão, vai autorizar até 31 de março de 2026, a extracção de 53 exemplares.

A Estratégia para a Conservação e Gestão do lobo (Canis lupus) e a sua convivência com as actividades em meio rural, aprovada em 2022, recomendou actualizar o censo nacional a cada seis anos, no mínimo.

Este censo nacional foi realizado entre 2021 e 2024; o trabalho de campo foi feito pelas comunidades autónomas, com uma coordenação técnica regional da qual fizeram parte técnicos e peritos na espécie. O Miteco compilou a informação e fez a coordenação nacional.

Para este censo foram consideradas as áreas onde a espécie está presente, formando núcleos reprodutores, e zonas onde há a presença esporádica de animais dispersantes e, normalmente, isolados.

Em Portugal existem cerca de 58 alcateias, segundo o último censo dedicado a esta espécie e divulgado em Dezembro de 2024. O censo anterior estimava a existência de 63 alcateias.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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