lobo ibérico
Foto: Joana Bourgard

Conservacionistas europeus lançam campanha para travar redução na protecção do lobo

20.02.2025

Cerca de 70 organizações conservacionistas participam na campanha European Action Wolves (Acção Europeia pelos Lobos) para exigir que não seja reduzida a categoria de protecção do lobo, uma decisão que irá entrar em vigor a 6 de Março.

 

A campanha, lançada a 10 de Fevereiro, tem por objectivo travar a redução do estatuto de protecção do lobo na Europa, passando de espécie Estritamente Protegida para ser reclassificada como apenas Protegida.

A decisão de alterar o estatuto de protecção do lobo foi votada a 3 de Dezembro passado pelo Comité Permanente da Convenção de Berna.

Apenas cinco países se opuseram formalmente a esta reclassificação – Reino Unido, Albânica, Montenegro, Bósnia-Herzegovina e Mónaco -, que foi apoiada pelos 27 Estados membros da União Europeia e também pelo Liechtenstein, Andorra, Suíça, Noruega, Macedónia, Sérvia, Arménia, Islândia e Ucrânia. A Tunísia e a Turquia preferiram abster-se da votação.

Os conservacionistas nesta campanha alertam que os lobos precisam de uma “acção urgente”, já que as populações de lobo na Europa estão “muito frágeis”.

Lembram o caso da Suécia que “não esperou pela alteração de estatuto de protecção para aumentar drasticamente as quotas de caça desta espécie”, o que levou cinco associações a apresentar uma queixa no Tribunal de Justiça da União Europeia.

“A partir de 6 de Março de 2025, se nada for feito, os lobos vão perder o seu estatuto de espécie estritamente protegida e tornar-se-ão, meramente, espécie protegida, expondo estes animais e os ecossistemas a riscos consideráveis”, escrevem as ONG responsáveis por esta campanha.

Para mobilizar os cidadãos, as ONG que participam nesta iniciativa criaram um site específico com o nome da campanha e um vídeo que chama a atenção com mensagens de personalidades públicas de 18 países.

A campanha apela às pessoas para escreverem aos membros do Parlamento Europeu, aos delegados da Convenção de Berna e aos ministros da Agricultura e Ambiente da União Europeia e a divulgarem a campanha nas redes sociais.

“Através desta campanha, será produzido e distribuído conteúdo por artistas, influenciadores, parceiros das ONG e celebridades, permitindo a todos expressarem os seus pontos de vista e fazer ouvir a voz da Ciência.”

Um inquérito realizado em Novembro de 2023 a 10.000 pessoas de comunidades rurais de 10 países europeus – Alemanha, França, Espanha, Países Baixos, Itália, Bélgica, Polónia, Dinamarca, Suécia e Roménia – revelou que os inquiridos estavam “maioritariamente a favor” de proteger os lobos e outros grandes carnívoros como o lince e o urso. Na verdade, 72% dos inquiridos considerou essencial manter protecções estritas para estas espécies, consideradas vitais para o equilíbrio dos ecossistemas.

Mais tarde, em Novembro de 2024, 693 cientistas e especialistas em vida selvagem manifestaram a sua preocupação e alertaram a União Europeia para o perigo desta decisão.

“Além do seu papel ecológico, os lobos têm o direito intrínseco à vida”, escrevem as ONG. “Este direito está previsto na Convenção de Berna mas os legisladores decidiram ignorá-lo. É por isso que temos de agir.”

O lobo-ibérico (Canis lupus signatus), espécie protegida, é o único membro que resta da família dos grandes predadores de Portugal.

Desde os anos 30 do século XX, a espécie tem vindo a recuar até ao Norte do país, desaparecendo de zonas como o Algarve e o Alentejo. Hoje a área de distribuição concentra-se acima do rio Douro – ainda que exista uma população mais restrita a Sul do rio – e é considerada estável.

Os resultados obtidos durante o último censo sobre a espécie (2019/2021), finalmente divulgados vários anos após a sua conclusão, revelam que foram estimadas um total de 58 alcateias, quando no censo anterior estimava-se a existência de 63.

A nível ibérico, a população de lobo está estimada em cerca de 2.000 lobos em 350 alcateias, num território de 140 mil quilómetros quadrados.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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