Cerca de 70 organizações conservacionistas participam na campanha European Action Wolves (Acção Europeia pelos Lobos) para exigir que não seja reduzida a categoria de protecção do lobo, uma decisão que irá entrar em vigor a 6 de Março.
A campanha, lançada a 10 de Fevereiro, tem por objectivo travar a redução do estatuto de protecção do lobo na Europa, passando de espécie Estritamente Protegida para ser reclassificada como apenas Protegida.
A decisão de alterar o estatuto de protecção do lobo foi votada a 3 de Dezembro passado pelo Comité Permanente da Convenção de Berna.
Apenas cinco países se opuseram formalmente a esta reclassificação – Reino Unido, Albânica, Montenegro, Bósnia-Herzegovina e Mónaco -, que foi apoiada pelos 27 Estados membros da União Europeia e também pelo Liechtenstein, Andorra, Suíça, Noruega, Macedónia, Sérvia, Arménia, Islândia e Ucrânia. A Tunísia e a Turquia preferiram abster-se da votação.
Os conservacionistas nesta campanha alertam que os lobos precisam de uma “acção urgente”, já que as populações de lobo na Europa estão “muito frágeis”.
Lembram o caso da Suécia que “não esperou pela alteração de estatuto de protecção para aumentar drasticamente as quotas de caça desta espécie”, o que levou cinco associações a apresentar uma queixa no Tribunal de Justiça da União Europeia.
“A partir de 6 de Março de 2025, se nada for feito, os lobos vão perder o seu estatuto de espécie estritamente protegida e tornar-se-ão, meramente, espécie protegida, expondo estes animais e os ecossistemas a riscos consideráveis”, escrevem as ONG responsáveis por esta campanha.
Para mobilizar os cidadãos, as ONG que participam nesta iniciativa criaram um site específico com o nome da campanha e um vídeo que chama a atenção com mensagens de personalidades públicas de 18 países.
A campanha apela às pessoas para escreverem aos membros do Parlamento Europeu, aos delegados da Convenção de Berna e aos ministros da Agricultura e Ambiente da União Europeia e a divulgarem a campanha nas redes sociais.
“Através desta campanha, será produzido e distribuído conteúdo por artistas, influenciadores, parceiros das ONG e celebridades, permitindo a todos expressarem os seus pontos de vista e fazer ouvir a voz da Ciência.”
Um inquérito realizado em Novembro de 2023 a 10.000 pessoas de comunidades rurais de 10 países europeus – Alemanha, França, Espanha, Países Baixos, Itália, Bélgica, Polónia, Dinamarca, Suécia e Roménia – revelou que os inquiridos estavam “maioritariamente a favor” de proteger os lobos e outros grandes carnívoros como o lince e o urso. Na verdade, 72% dos inquiridos considerou essencial manter protecções estritas para estas espécies, consideradas vitais para o equilíbrio dos ecossistemas.
Mais tarde, em Novembro de 2024, 693 cientistas e especialistas em vida selvagem manifestaram a sua preocupação e alertaram a União Europeia para o perigo desta decisão.
“Além do seu papel ecológico, os lobos têm o direito intrínseco à vida”, escrevem as ONG. “Este direito está previsto na Convenção de Berna mas os legisladores decidiram ignorá-lo. É por isso que temos de agir.”
O lobo-ibérico (Canis lupus signatus), espécie protegida, é o único membro que resta da família dos grandes predadores de Portugal.
Desde os anos 30 do século XX, a espécie tem vindo a recuar até ao Norte do país, desaparecendo de zonas como o Algarve e o Alentejo. Hoje a área de distribuição concentra-se acima do rio Douro – ainda que exista uma população mais restrita a Sul do rio – e é considerada estável.
Os resultados obtidos durante o último censo sobre a espécie (2019/2021), finalmente divulgados vários anos após a sua conclusão, revelam que foram estimadas um total de 58 alcateias, quando no censo anterior estimava-se a existência de 63.
A nível ibérico, a população de lobo está estimada em cerca de 2.000 lobos em 350 alcateias, num território de 140 mil quilómetros quadrados.