Em reacção aos incêndios dos últimos dias, a WWF Portugal apresenta duas soluções para as florestas portuguesas: uma gestão activa por equipas de sapadores no terreno durante todo o ano e a criação de corredores de espécies nativas que ajudem a retardar o avanço das chamas.
Este ano, o início do Verão coincide com o início do período crítico de incêndios. Segundo uma portaria assinada ontem pelo secretário de Estado das Florestas, Amândio Torres, o período crítico no âmbito do Sistema de Defesa da Floresta contra Incêndios vigora de 22 de Junho a 30 de Setembro, 10 dias antes do que acontecia até agora.
Mas para a organização não governamental WWF – Portugal, a preocupação com a floresta deve durar todo o ano.
Em comunicado divulgado ontem, a WWF pede ao “Governo e às autoridades competentes que passem das palavras ao actos”, tanto mais que “os problemas e soluções para a floresta nacional estão identificados”.
A implementação de um serviço florestal “que antecipe o movimento do fogo no Verão e trabalhe em prevenção no Inverno” é uma das soluções defendidas pela WWF para a floresta portuguesa.
“Não estamos a inventar a roda. O Serviço Florestal já existiu no passado, com equipas de sapadores que trabalhavam a floresta durante todo o ano, fazendo uma gestão activa”, disse hoje à Wilder Rui Barreira, especialista em florestas na WWF Portugal.
“Eram pessoas que estavam sempre na floresta. No Inverno faziam a limpeza da floresta, preparando-a para o tempo mais quente, e no Verão, quando surgiam os fogos, estavam muito habilitados para o combater porque conheciam muito bem o terreno, em especial as zonas tampão.”
A organização entende que é obrigação do Estado utilizar mecanismos como o Fundo Ambiental para criar essas equipas de sapadores e assim ajudar os pequenos proprietários a fazer a prevenção. “Há uma intenção de responsabilizar os proprietários pelas suas florestas, o que entendo, mas como o conseguir se não há cadastros actualizados (e muitas vezes não se sabe de quem são os terrenos) e se frequentemente os proprietários não têm a capacidade económica necessária?”, questiona. Para Rui Barreira, “é fundamental haver um novo investimento. É para isso que pagamos impostos”.
A outra solução para a floresta portuguesa assenta na criação de corredores florestais de espécies autóctones, como carvalho e o sobreiro, mais resistentes ao fogo e adaptadas ao nosso clima, capazes de servir de barreira às alterações climáticas.
“É preciso criar zonas tampão, com carvalhos ou sobreiros, no meio das zonas de produção. Mas alguém tem de as plantar e para isso devem ter viabilidade económica”, acrescentou Rui Barreira. Este planeamento do uso do solo e o seu retorno financeiro deve ser previsto pelo Estado. “Será necessário o Estado dar incentivos a quem planta carvalhos, por exemplo”, através do Fundo Ambiental.
Actualmente, a WWF trabalha para promover a certificação de florestas geridas de forma sustentável, com o certificado FCS (Forest Stewardship Council), uma ferramenta de mercado que incentiva as indústrias a preferirem madeira destas florestas. Além disso tem a decorrer o projecto Green Heart of Cork, lançado em 2011, uma plataforma de empresas que apoiam a WWF na conservação do montado na região de Coruche, através da compensação aos proprietários pela melhoria dos serviços dos ecossistemas que prestam.
[divider type=”thick”]Que soluções para a floresta portuguesa?
O período crítico para os incêndios em Portugal já começou. Por isso, decidimos lançar uma nova série Wilder, “Que soluções para a floresta portuguesa?”. Vamos falar com várias pessoas ligadas às florestas e também queremos saber a sua opinião. Pode enviar as suas ideias sobre o futuro da conservação da nossa floresta para o email [email protected]. O que é necessário fazer? Como gostaria que fosse a floresta portuguesa?
E para se inspirar, releia a série Cuidadores de Florestas, onde lhe mostramos os portugueses que estão a cuidar das florestas ao longo de todo o ano. Conte-nos o que está a fazer para ajudar as árvores de Portugal ([email protected]).