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o sobreiro
O "Sobreiro assobiador" que venceu a competição europeia em 2018. Foto: UNAC

Sobreiro português vence Árvore Europeia do Ano 2018

21.03.2018

O sobreiro assobiador, árvore com mais de 200 anos que vive no concelho de Palmela, reuniu mais de 26.600 votos e venceu o concurso europeu, ficando à frente de árvores espanholas e russas.

 

O vencedor do concurso deste ano, da espécie Quercus suber, foi anunciado hoje em Bruxelas. O sobreiro na aldeia de Águas de Moura (Palmela) ficou em primeiro lugar, com 26.606 votos. Em segundo ficaram os “ulmeiros ancestrais” de Cabeza Buey, em Espanha, com 22.323 votos. O terceiro lugar foi para o “ancião das florestas de Belgorod”, um carvalho da Federação Russa, com 21.884 votos.

Chamam-lhe sobreiro assobiador “devido ao som produzido quando as muitas aves que pousam na sua copa enorme começam a cantar, o que acontece em especial ao final da tarde”, explicou em Fevereiro à Wilder Nuno Calado, secretário-geral da UNAC-União para a Floresta Mediterrânica, organizadora da participação portuguesa neste concurso.

As pessoas da aldeia de Águas de Moura chamam-lhe também ‘casamenteiro’, pois dizem que dá sorte a quem se casar à sua sombra. Uma sombra que tem um grande alcance, uma vez que a copa tem quase 30 metros de diâmetro e a árvore mede mais de 16 metros, o equivalente a um terceiro andar.

Hoje com uma idade de 235 anos, a árvore foi plantada em 1783, quando D. Maria I reinava em Portugal e tinham passado menos de 30 anos desde o grande sismo. Mas foi só em 1820 que o sobreiro assobiador forneceu cortiça pela primeira vez, o que acontece de nove em nove anos.

Desde então, já foi descortiçado mais de 20 vezes. A última aconteceu em 2009, quando o resultado foram 825 quilos de cortiça ‘crua’, suficiente para as rolhas de 100.000 garrafas, indica o Guiness Book of Records. Em média, um sobreiro produz cortiça suficiente para cerca de 4.000 garrafas.

Nuno Calado recebeu hoje o prémio, em nome do sobreiro, um troféu em madeira que passa de vencedor para vencedor todos os anos. “Estamos extremamente felizes por levar o reconhecimento da Árvore Europeia do Ano para Portugal”, disse Nuno Calado. “Esta é a primeira vez que Portugal participa no concurso. Além disso, este foi um ano difícil para nós. Este sobreiro representa uma enorme contribuição para os serviços dos ecossistemas, para combater as alterações climáticas e para a economia portuguesa”, acrescentou.

O objectivo da Árvore Europeia do Ano é “destacar a importância das árvores antigas na herança cultural e natural”, explica o site da iniciativa, promovido pela Environmental Partnership Association desde 2011. “Ao contrário de outros concursos, a Árvore Europeia do Ano não se foca na beleza, no tamanho ou na idade da árvore, mas sim na sua história e conexões com a as pessoas. Procuramos árvores que se tornaram parte de uma comunidade maior.”

“Escolhemos o sobreiro por ser um símbolo nacional. Dentro desta espécie, teria de ser o ‘sobreiro assobiador’, uma vez que é emblemático”, explicou Nuno Calado. O secretário-geral da UNAC lembrou ainda que a espécie Quercus suber é “uma árvore estrutural para os produtores” desta organização, que representa organizações de produtores florestais dos concelhos a sul do rio Tejo.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Conheça a história do carvalho-alvarinho que foi a Árvore Europeia do Ano 2017.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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