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Imagens retiradas do documentário "Silvestres", realizado por Carolina Castro Almeida e Miguel Cortes Costa

“Silvestres” conta-nos como nasceu um prado para abelhas selvagens em Oeiras. E muito mais

10.04.2025

Documentário dá-nos a conhecer um projeto na Quinta de Recreio do Marquês de Pombal, mas também nos traz o fascínio pela biodiversidade urbana e pela história do marquês mais famoso de Portugal.

Ao início parecem ser grãos de café castanhos e compridos, com ar abandonado, espalhados por cima de um tabuleiro, mas a certeza dura poucos segundos – só até ouvirmos o som de algo que se rasga enquanto está a ser mastigado, ao mesmo tempo que reparamos em minúsculas abelhas-oleiras a emergir do que são afinal os seus casulos. Em “Silvestres”, a explicação do que vemos é-nos dada por Miguel Azevedo, biólogo e membro da equipa que trabalhou ao longo de um ano e meio na Quinta de Recreio do Marquês de Pombal, em Oeiras.

O nascimento cuidadosamente vigiado de uma nova geração de abelhas selvagens, cujo destino será um prado biodiverso semeado nos terrenos da quinta que foi a casa de veraneio de Sebastião José de Carvalho e Mello, é uma das histórias surpreendentes contadas no filme realizado por Carolina Castro Almeida e Miguel Cortes Costa.

Este foi também o primeiro documentário da produtora Lengalenga, que os dois criaram recentemente, em 2022. E surgiu quase por acaso, contaram ambos à Wilder numa entrevista escrita sobre o novo filme, que é exibido na manhã deste domingo no cinema NOS, em Oeiras (inscrições aqui) e deverá passar na SIC até ao final deste ano.

“Foi em 2021, durante a pandemia do Covid, que recebemos o convite da Câmara Municipal de Oeiras para realizar um vídeo sobre um projecto levado a cabo pelo departamento ambiental: a criação de um prado de flores silvestres para contrariar o declínio dos polinizadores”, recordaram os dois realizadores. Financiado pela EEA Grants, o projeto foi batizado como “Mais Polinizadores, Mais Biodiversidade no Município de Oeiras”, e teve lugar entre maio de 2021 e outubro de 2023.

Ao perceberem que o projeto tinha lugar na quinta de recreio “daquele que foi o ministro mais controverso da história de Portugal”, e que havia também essa história da História a merecer ser contada num grande écrã, Carolina e Miguel entusiasmaram-se e ganharam fôlego para transformar o que seria um vídeo institucional num documentário.

Especialmente durante o primeiro ano de produção, filmaram “muito, demasiado”, lembraram. Havia sempre tantas novidades a acontecer, que já não sabiam bem que direção tomar.

O projeto foi uma espécie de tubo de ensaio e uma oportunidade de aprendizagem para a equipa da Lengalenga, tal como foi para o município de Oeiras. Em “Silvestres”, entrelaçam-se várias narrativas, “entre a aprendizagem sobre a flora e fauna urbana e aquela que foi a vida menos conhecida de Sebastião José de Carvalho e Melo”, explicaram Carolina e Miguel, que ficaram fascinados por tudo o que ia acontecendo e aprendiam enquanto filmavam: a preparação e sementeira de um vasto prado biodiverso, as origens e os anos mais recentes da Quinta, os últimos anos da vida do Marquês de Pombal, antes e depois do desterro para longe de Oeiras e de Lisboa. E não só. No filme, acompanhamos ainda várias tentativas de captura de uma coruja-das-torres – moradora de um pombal mandado construir pelo próprio Marquês e os dois irmãos – para a ave começar a ser seguida por GPS.

Será que a equipa teve sucesso? E como correu a criação do novo prado? Ficamos a saber o desfecho destas experiências ao longo do documentário.

Até hoje, “Silvestres” foi selecionado por vários festivais nacionais e internacionais, como o Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra Catarinense, no Brasil. Por estes dias, o percurso de exibições está quase a terminar, mas ainda haverá algumas oportunidades para assistir ao documentário. Além das exibições em Oeiras no dia 13 de abril e na SIC até ao final do ano, estão previstas outras duas mostras, uma em Lisboa e outra em Portalegre, para já sem datas no calendário.

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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