Documentário dá-nos a conhecer um projeto na Quinta de Recreio do Marquês de Pombal, mas também nos traz o fascínio pela biodiversidade urbana e pela história do marquês mais famoso de Portugal.
Ao início parecem ser grãos de café castanhos e compridos, com ar abandonado, espalhados por cima de um tabuleiro, mas a certeza dura poucos segundos – só até ouvirmos o som de algo que se rasga enquanto está a ser mastigado, ao mesmo tempo que reparamos em minúsculas abelhas-oleiras a emergir do que são afinal os seus casulos. Em “Silvestres”, a explicação do que vemos é-nos dada por Miguel Azevedo, biólogo e membro da equipa que trabalhou ao longo de um ano e meio na Quinta de Recreio do Marquês de Pombal, em Oeiras.
O nascimento cuidadosamente vigiado de uma nova geração de abelhas selvagens, cujo destino será um prado biodiverso semeado nos terrenos da quinta que foi a casa de veraneio de Sebastião José de Carvalho e Mello, é uma das histórias surpreendentes contadas no filme realizado por Carolina Castro Almeida e Miguel Cortes Costa.
Este foi também o primeiro documentário da produtora Lengalenga, que os dois criaram recentemente, em 2022. E surgiu quase por acaso, contaram ambos à Wilder numa entrevista escrita sobre o novo filme, que é exibido na manhã deste domingo no cinema NOS, em Oeiras (inscrições aqui) e deverá passar na SIC até ao final deste ano.
“Foi em 2021, durante a pandemia do Covid, que recebemos o convite da Câmara Municipal de Oeiras para realizar um vídeo sobre um projecto levado a cabo pelo departamento ambiental: a criação de um prado de flores silvestres para contrariar o declínio dos polinizadores”, recordaram os dois realizadores. Financiado pela EEA Grants, o projeto foi batizado como “Mais Polinizadores, Mais Biodiversidade no Município de Oeiras”, e teve lugar entre maio de 2021 e outubro de 2023.
Ao perceberem que o projeto tinha lugar na quinta de recreio “daquele que foi o ministro mais controverso da história de Portugal”, e que havia também essa história da História a merecer ser contada num grande écrã, Carolina e Miguel entusiasmaram-se e ganharam fôlego para transformar o que seria um vídeo institucional num documentário.
Especialmente durante o primeiro ano de produção, filmaram “muito, demasiado”, lembraram. Havia sempre tantas novidades a acontecer, que já não sabiam bem que direção tomar.
O projeto foi uma espécie de tubo de ensaio e uma oportunidade de aprendizagem para a equipa da Lengalenga, tal como foi para o município de Oeiras. Em “Silvestres”, entrelaçam-se várias narrativas, “entre a aprendizagem sobre a flora e fauna urbana e aquela que foi a vida menos conhecida de Sebastião José de Carvalho e Melo”, explicaram Carolina e Miguel, que ficaram fascinados por tudo o que ia acontecendo e aprendiam enquanto filmavam: a preparação e sementeira de um vasto prado biodiverso, as origens e os anos mais recentes da Quinta, os últimos anos da vida do Marquês de Pombal, antes e depois do desterro para longe de Oeiras e de Lisboa. E não só. No filme, acompanhamos ainda várias tentativas de captura de uma coruja-das-torres – moradora de um pombal mandado construir pelo próprio Marquês e os dois irmãos – para a ave começar a ser seguida por GPS.
Será que a equipa teve sucesso? E como correu a criação do novo prado? Ficamos a saber o desfecho destas experiências ao longo do documentário.
Até hoje, “Silvestres” foi selecionado por vários festivais nacionais e internacionais, como o Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra Catarinense, no Brasil. Por estes dias, o percurso de exibições está quase a terminar, mas ainda haverá algumas oportunidades para assistir ao documentário. Além das exibições em Oeiras no dia 13 de abril e na SIC até ao final do ano, estão previstas outras duas mostras, uma em Lisboa e outra em Portalegre, para já sem datas no calendário.