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Quer ajudar as aves migradoras? Desligue as luzes desnecessárias à noite

13.05.2022
Foto: Ruben Jesus

A poluição luminosa é hoje uma grave ameaça às aves selvagens de todo o mundo, especialmente as que migram de noite. O Dia Mundial das Aves Migradoras celebra-se a 14 de Maio e quer chamar a atenção de todos para este problema e sobre o que podemos fazer para ajudar.

A poluição luminosa e os seus impactos nas aves migradoras foi o tema escolhido para o Dia Mundial das Aves Migradoras 2022, uma campanha global que quer alertar para a importância das aves migradoras e para a necessidade de as proteger.

Um pouco por todo o mundo, centenas de actividades vão marcar o dia, com o tema “Dim the Lights for Birds at Night” (“Baixe as luzes para as aves à noite”).

A poluição luminosa não pára de aumentar por todo o globo; estima-se que a quantidade de luz artificial na superfície da Terra esteja a aumentar, pelo menos, 2% por ano. Hoje, mais de 80% da população mundial vive debaixo de um “céu iluminado”, uma percentagem que aumenta para os 99% na Europa e na América do Norte.

Foto: Ruben Jesus

“A escuridão da noite tem um valor de conservação igual ao da água, ar e solos limpos”, comentou Amy Fraenkel, secretária-executiva da Convenção sobre as Espécies Migradoras de Animais Selvagens (CMS, sigla em inglês).

“Um objectivo chave do Dia Mundial das Aves Migradoras de 2022 é chamar a atenção para o problema da poluição luminosa e para os seus impactos negativos nas aves migradoras. Já há soluções disponíveis e esperamos encorajar os decisores a adoptarem medidas para responder à poluição luminosa.”

Todos os anos, a poluição luminosa contribui para a morte de milhões de aves. Altera os padrões naturais da luz e da escuridão nos ecossistemas. Pode ainda alterar os padrões de migração das aves, os seus comportamentos de procura de alimento e a comunicação entre elas.

À noite, atraídas pelas luzes artificiais – especialmente quando há nevoeiro e chuva ou quando voam a baixas altitudes -, as aves migradoras ficam desorientadas e podem acabar a sobrevoar, aos círculos, áreas iluminadas. Gastam assim as suas reservas de energia, o que as coloca em risco de exaustão, predação e colisão fatal com edifícios.

“Uma enorme diversidade de aves, que estão activas durante a noite, sofrem os impactos da poluição luminosa”, comentou Jacques Trouvilliez, secretário executivo do African-Eurasian Waterbird Agreement (AEWA). “Muitas aves migradoras nocturnas – como patos, gansos, tarambolas, maçaricos ou passeriformes – são afectados pela poluição luminosa, que causa desorientação e colisões com consequências fatais. Aves marinhas como pardelas e cagarras são atraídas pelas luzes artificiais na terra e tornam-se presas fáceis para ratos e gatos”, acrescentou.

Um novo projecto lançado pela SPEA

A boa notícia é que numerosos governos, cidades, empresas e comunidades por todo o mundo já estão a agir para travar este problema.

Em algumas cidades, como por exemplo na América do Norte, iniciativas como os programas “Lights Out” pretendem proteger as aves incentivando os donos dos edifícios e gestores a desligarem as luzes desnecessárias durante os períodos de migração.

A 16 de Maio vai ser apresentado na Madeira um novo projecto de conservação da natureza, o LIFE Natura@night, com o mote “Por uma noite com mais vida”.

Foto: Tiago Dias

Esta iniciativa, lançada pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) – em parceria com 12 entidades da Madeira, Açores e Canárias – vai mapear e reduzir a poluição luminosa em 27 áreas protegidas da Macaronésia, travar a perda de biodiversidade em 150.000 hectares e contribuir para a regulamentação da iluminação.

Pretende aliar a sustentabilidade energética, a poupança financeira e a conservação da biodiversidade.

“Cada residente na Madeira, Açores e Canárias paga cerca de 30€ por ano em luz não utilizada, segundo as estimativas. Portanto este é um problema que nos afeta a todos. Tem impacto financeiro, mas também na nossa saúde e ameaça espécies mesmo em áreas protegidas, fora dos ambientes urbanos”, diz Cátia Gouveia, coordenadora do projeto e da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) Madeira. “Necessitamos envolver decisores políticos, biólogos, astrónomos e todos os cidadãos na redução desta ameaça, e essa é uma das mais-valias deste projeto: o vasto leque de parceiros empenhados em reduzir a poluição luminosa”.

“As soluções passam, não só, por desligar luzes desnecessárias, mas também por garantir que os candeeiros projetam a iluminação para onde ela é necessária, evitando que a luz se dissipe”, explica a SPEA em comunicado.

O projeto LIFE Natura@night – Redução e Mitigação do Impacte da Poluição Luminosa em áreas de Rede Natura 2000 da Macaronésia, decorrerá ao longo dos próximos quatro anos, e conta com parceiros ao nível das autarquias locais, instituições de investigação, governos regionais, organizações sem fins lucrativos e empresas.

Este projecto, cofinanciado pelo programa LIFE da União Europeia, é coordenado pela SPEA e tem como parceiros a Câmara Municipal de Câmara de Lobos, a Câmara Municipal do Funchal, a Câmara Municipal de Santa Cruz, a Câmara Municipal de Machico, a Câmara Municipal de Santana, a Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa, a Direção Regional dos Assuntos do Mar, o Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, o Instituto de Astrofísica de Canárias, o Instituto Tecnológico de Canárias, a Fluxo de Luz e a Sociedade Espanhola de Ornitologia.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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