Quatro quebra-ossos nascidos em cativeiro – Ukrania, Paz, Aragón e Jaca – foram reintroduzidos na natureza em Cazorla e Castril no início deste mês de Junho para reforçar o projecto que está a reintroduzir na Andaluzia esta espécie de abutre tão ameaçada.
A 3 de Junho, dois machos de quebra-ossos – Ukrania (com 98 dias de idade) e Paz (com 96 dias) – foram libertados nos picos das Serras de Cazorla Segura y las Villas, área protegida na Andaluzia, informou a Fundação para a Conservação dos Abutres (Vulture Conservation Foundation, VCF).
Ambas as aves nasceram no final de Fevereiro. Ukrania veio do Zoo de Ostrava (República Checa) e Paz veio de mais perto, do Centro de Reprodução de Quebra-Ossos de Guadalentín, em Jaén, na Andaluzia.
Três dias depois, a 6 de Junho, a equipa de reintrodução andaluza do quebra-ossos libertou outros dois machos, desta vez no Parque Natural da Serra de Castril, em Granada. Aragón e Jaca, ambos com 95 dias de idade naquela altura, nasceram em Itália, no Parco Natura Viva, e no Centro de Reprodução dos Balcãs, na Bulgária, respectivamente. Estes dois indivíduos juntaram-se aos 22 quebra-ossos que já foram reintroduzidos naquela região.
Antes da libertação das aves, uma equipa da Junta da Andaluzia equipou-as com anilhas de identificação e transmissores GPS para conseguirem monitorizar os seus comportamentos e movimentos. Graças a estes dispositivos, a equipa já conseguiu saber que abutres libertados anteriormente em Castril e Cazorla visitaram outras regiões montanhosas como a Serra Nevada, os Pirinéus e os Picos de Europa.
“A reintrodução em cativeiro tem um papel essencial no nosso trabalho de recuperar as populações de quebra-ossos nas regiões de onde desapareceram ou onde estão ameaçadas”, explica, em comunicado, a VCF.
Actualmente, a Rede de Reprodução em Cativeiro do Quebra-Ossos, gerida pela VCF, coordena mais de 40 zoo, colecções privadas e centros especializados para reproduzir em cativeiro esta espécie, com fins de conservação.
Desde os anos 1980 que a Fundação e os seus parceiros têm reintroduzidos jovens quebra-ossos, nascidos em cativeiro, por vários pontos da Europa, com mais de 350 animais libertados até hoje.
“Em cada época de reprodução, destinamos cuidadosamente crias a projectos específicos de reintrodução, com base nos objectivos e necessidades das diferentes iniciativas.”
Os quebra-ossos extinguiram-se na Andaluzia em 1986, principalmente por causa da perseguição directa, envenenamento e perturbação humana dos locais de nidificação.
Para trazer a espécie de volta, a Junta da Andaluzia e a VCF iniciaram um projecto de reintrodução em 1996. Foi criada a Fundación Gypaetus para gerir o projecto.
Desde as primeiras libertações, em 2006, o projecto libertou 83 quebra-ossos nas províncias de Jaén e Granada até Junho de 2022.
Graças às medidas que tentam travar ameaças a estas aves e às reintroduções, a população desta espécie está a aumentar gradualmente. Estima-se que existam hoje na Andaluzia cinco casais e mais de 40 indivíduos.
Em Espanha, o quebra-ossos nidifica nos Pirinéus, o bastião da espécie na Europa, em Cazorla/Andaluzia e nos Picos de Europa, estes dois últimos fruto de projectos de reintrodução.
O mais ameaçado da Europa
O quebra-ossos (Gypaetus barbatus) é o abutre mais ameaçado da Europa, onde se estima que existam hoje pouco mais de 200 casais, 130 dos quais em Espanha.
Nas últimas décadas, os conservacionistas têm libertado quebra-ossos na natureza para reintroduzir ou reforçar a população desta espécie na Europa. Entre 1986 e 2019 foram libertados 323 quebra-ossos juvenis na natureza, incluindo 227 nos Alpes e nos Pré-Alpes e 63 na Andaluzia.
Em Portugal, a espécie está dada como extinta.
Desde 2008, e pela primeira vez em 100 anos, aves libertadas no âmbito da reintrodução da espécie na Andaluzia têm sido observadas nos céus portugueses, fazendo curtas incursões no nosso país.
Em Março deste ano, Portugal e Espanha deram um novo passo para o regresso do quebra-ossos. Foi apresentado em Navarredonda de Gredos (em Castela-Leão) o projecto LIFE Corredores Ibéricos para o Quebra-ossos para ajudar a espécie a regressar ao Sistema Central, através de um corredor ecológico que vai de Portugal através da Península Ibérica de Este a Oeste.
Portugal irá, então, “proceder ao estudo das condições ecológicas existentes em algumas zonas do Norte do país no sentido de avaliar as condições de uma futura recolonização natural ou artificialmente induzida, com o apoio técnico dos parceiros espanhóis envolvidos no projecto”, adiantou, então, o ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas) à Wilder.
O objectivo, acrescentou, é avaliar “o potencial para a ocorrência regular da espécie e eventual nidificação futura”.
Saiba mais sobre o quebra-ossos:
Como é um quebra-ossos: esta é uma ave com quase três metros de envergadura de asa e até oito quilos de peso. A plumagem pode ser muito escura na sua fase juvenil e tornar-se mais clara com as sucessivas mudas. Mas talvez o que melhor a caracteriza são as barbas escuras perto do bico e o vermelho vivo em redor dos olhos.
Onde nidifica: nas saliências rochosas das grandes cadeias montanhosas.
O que significa o seu nome científico: em Latim, Gyp quer dizer abutre, aetus quer dizer águia e barbatus quer dizer com barba.
Alimenta-se de quê: esta ave é a única do planeta que se alimenta quase exclusivamente de ossos, principalmente de ungulados. Pode chegar a alimentar-se de ossos com 20 centímetros, que digere graças ao seu potente estômago. Quando não os consegue comer inteiros, agarra neles com as suas garras e lança-os de grandes alturas em zonas rochosas para os quebrar.
Quais as maiores populações de quebra-ossos na Europa: esta é uma espécie em perigo de extinção no Velho Continente. As maiores populações são as da cordilheira Pirenaica, da Córsega e Creta. A nível mundial, a União Internacional para a Conservação da Natureza classificou-a como Quase Ameaçada.