Abutre-preto devolvido agora à natureza foi resgatado graças à colaboração entre ONGs e autoridades portuguesas e espanholas. Conheça a história deste jovem abutre “nadador”.
Depois de vários meses de cuidados nas instalações do CERAS – Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens, gerido pela Quercus na região de Castelo Branco, Natator foi há poucos dias devolvido à natureza, já recuperado dos ferimentos causados por uma queda ao Tejo, fome e também desidratação.
Foi no último verão que equipas de Portugal e Espanha resgataram este jovem abutre-preto no Parque Natural do Tejo Internacional, junto a um troço onde o maior rio português traça a fronteira com Espanha, conta o site da SPEA – Associação Portuguesa para o Estudo das Aves, que é um dos parceiros do projeto luso-espanhol LIFE Aegypius Return.
Este projeto cofinanciado por fundos europeus, dedicado à conservação do maior abutre europeu em Portugal e na parte ocidental de Espanha, tem vindo a marcar com emissores GPS dezenas de crias de abutre-preto. O objetivo é vigiá-las à distância e permitir aos conservacionistas aprenderem mais sobre o comportamento desta grande ave necrófaga ameaçada de extinção, que deixou de se reproduzir em território nacional durante 40 anos, até 2010.
Natator, nascido em abril de 2024 na Herdade da Cubeira (Idanha-a-Nova, Parque Natural do Tejo Internacional) – local que abriga a maior colónia da espécie em Portugal – foi uma das crias abrangidas por esta iniciativa, anilhado e marcado com um emissor GPS aos três meses de vida. Nas semanas seguintes era muitas vezes observado – através dos pontos GPS – a frequentar as margens do Tejo, apesar das dificuldades por o sinal naquela zona ser intermitente.
Numa dessas ocasiões Paulo Monteiro, técnico da SPEA responsável pela monitorização da colónia, pressentiu que algo de preocupante se passava com a jovem ave, pois a paragem junto ao rio estava a prolongar-se por muito tempo.
Uma vez que o local onde Natator se encontrava era de acesso muito complicado, Paulo Monteiro pediu aos Agentes del Medio Natural da Junta de Extremadura (JEx), desta região espanhola, que ajudassem a perceber o que se passava. A ajuda não tardou. Uma equipa de agentes observou o abutre a partir do outro lado do rio, confirmando que este estava confinado a uma estreita faixa à beira do Tejo, entre uma área cheia de vegetação e a água.
A origem do nome
No dia seguinte Paulo Monteiro foi vigiando a cria, para verificar se os pais a alimentavam, mas percebeu que não. Passadas algumas horas, cansado e a ficar sem energias, atormentado pelo calor, Natator decidiu voar para sair dali mas caiu ao rio. Felizmente, “apesar do voo falhado, mostrou boas competências para nadar de regresso para as rochas da margem”, relata a SPEA, acrescentando que por isso foi decidido chamarem o jovem abutre-preto de Natator (‘nadador’, em latim).
A ave foi finalmente resgatada com a ajuda de Agentes del Medio Natural da JEx, de vigilantes de natureza do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e de Paulo Monteiro. Natator deu então entrada no CERAS, em Castelo Branco, onde teve de ficar meio ano para recuperar. Além de uma asa magoada e de pequenas lesões nas patas, “tratar os efeitos da desnutrição, que incluíam alguns sintomas neurológicos, foi um processo bastante prolongado.”
A devolução à natureza realizou-se no final de fevereiro, dentro do Parque Natural do Tejo Internacional. Além de estarem presentes representantes das diferentes entidades que colaboraram na salvação deste abutre-preto, assistiram ao momento responsáveis da Vulture Conservation Foundation, fundação que coordena o projeto LIFE Aegypius Return, e também membros da família proprietária da Herdade da Cubeira, onde Natator nasceu. Desde então, continua a ser seguido à distância, para já sem novos percalços.
Saiba mais.
Recorde a incrível história de Aravil, um abutre-preto salvo da morte e reeencontrado 13 anos depois.