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Pirilampo fêmea da espécie Lampyris noctiluca. Foto: Jason Steel

Por que estão a desaparecer os pirilampos?

05.02.2020

Os pirilampos têm três problemas: luz artificial, pesticidas e perda de habitat, revela um novo estudo científico. Estas ameaças podem mesmo acabar por extinguir algumas das 2.000 espécies de pirilampos do planeta.

 

Os pirilampos têm uma capacidade muito rara entre os animais terrestres: são bioluminescentes. Estes escaravelhos, pertencentes à família Lampyridae, produzem luz, através de uma reacção química, para atrair parceiros. Mais concretamente as fêmeas, que não voam.

Estas fêmeas podem produzir luz durante horas para atrair um macho. Mas o seu esforço parece ser cada vez mais inglório.

A perda de habitat, o uso de pesticidas e as luzes artificiais são as três maiores ameaças às cerca de 2.000 espécies de pirilampos actualmente conhecidas no planeta, descobriu uma equipa de investigadores coordenada pela Universidade norte-americana de Tufts e pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

O estudo, publicado a 3 de Fevereiro na revista científica BioScience, alerta mesmo que estas três ameaças empurram várias espécies de pirilampos para a extinção.

Para compreender melhor que desafios enfrentam os pirilampos, a equipa liderada por Sara Lewis, da Universidade de Tufts, contactou especialistas em pirilampos de todo o mundo para tentar ter uma ideia das maiores ameaças à sobrevivência das suas espécies locais.

Segundo as respostas destes especialistas, a perda de habitat é a maior ameaça à sobrevivência dos pirilampos na maior parte das regiões do planeta, seguida da luz artificial, mais concretamente da poluição luminosa, e do uso de pesticidas.

“Muitas espécies selvagens estão em declínio porque o seu habitat está a ficar cada vez mais reduzido”, disse Sara Lewis em comunicado. “Por isso não foi para nós uma grande surpresa que esta fosse considerada a maior ameaça.”

Alguns pirilampos sofrem especialmente quando o seu habitat desaparece porque precisam de condições específicas para completar o seu ciclo de vida. Como é o caso do pirilampo da Malásia (Pteroptyx tener), famoso pela emissão de luz sincronizada e um especialista em mangais. Estudos anteriores mostraram declínios drásticos nesta espécie, depois da conversão dos seus mangais em plantações para produção de óleo de palma e em aquaculturas.

Para os cientistas, um resultado surpreendente deste estudo foi o facto de, a nível mundial, a poluição luminosa ser considerada a segunda ameaça mais grave aos pirilampos.

A luz artificial à noite aumentou exponencialmente no último século. “Além de perturbar os biorritmos naturais – incluindo o nosso -, a poluição luminosa atrapalha mesmo os rituais de acasalamento dos pirilampos”, explicou Avalon Owens, investigador na mesma universidade e co-autor do estudo. Muitos pirilampos dependem da bioluminescência para encontrar e atrair os seus parceiros. Demasiada luz artificial pode interferir com esta forma de corte do reino dos insectos.

Os especialistas em pirilampos consideram que o uso cada vez maior de pesticidas agrícolas é outra ameaça grave à sobrevivência destes animais. A maior parte da exposição ocorre durante as fases larvares, porque os juvenis passam até dois anos debaixo do solo ou debaixo de água. Insecticidas como os neonicotinoides são concebidos para matar pragas mas também acabam por matar insectos benéficos. “Apesar de ainda ser necessária mais investigação, as provas mostram que muitos dos insecticidas usados normalmente são prejudiciais aos pirilampos”, escrevem os investigadores.

De uma forma geral, faltam dados a longo prazo sobre as tendências populacionais dos pirilampos, apesar de já existirem alguns estudos que quantificaram os declínios populacionais de algumas espécies.

Por exemplo, em 2018, foi criado o Grupo de Peritos em Pirilampos da UICN para avaliar o estatuto de conservação e o risco de extinção destes insectos a nível mundial. Os responsáveis deste grupo são, precisamente, Sara Lewis e Sonny Wong, da Sociedade Malaia da Natureza e co-autor do estudo. Até ao final deste ano, este grupo prevê, por exemplo, publicar a revisão mundial das ameaças à extinção dos pirilampos.

Ao chamar a atenção para estas ameaças e ao avaliar os estatutos de conservação das espécies de pirilampos de todo o mundo, os investigadores pretendem preservar as luzes mágicas destes insectos para as gerações futuras apreciarem.

“O nosso objectivo é tornar este conhecimento acessível a gestores de terras, a decisores políticos e a todos os fãs de pirilampos”, comentou Sonny Wong.

“Queremos que os pirilampos continuem a iluminar as nossas noites durante muito, muito tempo.”

Nos últimos anos, diversos estudos científicos têm demonstrado que há cada vez menos insectos.

No mês passado, mais de 70 cientistas, incluindo investigadores portugueses, lançaram um roteiro para travar o declínio mundial destes animais.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Conheça aqui as cinco coisas que pode fazer na luta contra o declínio mundial dos insectos.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Recorde aqui a espécie de pirilampo que a leitora Ana Oliveira encontrou em Lordelo (Baião), a 20 de Abril, e que foi identificada por Eva Monteiro.

 

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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