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Pedrógão Grande: ONGA denunciam reflorestação com eucaliptos em área destinada a medronheiros

05.08.2022
Medronheiro. Foto: sara150578/Pixabay

As organizações Quercus e Acréscimo denunciam a ilegalidade de um projecto das celuloses em Pedrógão Grande, no qual foram plantados eucaliptos numa área aprovada para a instalação de medronheiros.

Responsáveis destas duas organizações não governamentais visitaram no início de Julho um projecto de rearborização em Pedrógão Grande e depararam-se “com uma situação de evidente ilegalidade”. “Na parcela aprovada pelo ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas), em Setembro de 2020, para a instalação de medronheiro, foi confirmada a presença de uma plantação de eucalipto”, escrevem as ONGA em comunicado.

Em causa está o projecto “ReNascer Pedrógão”, apresentado no início de Junho pela associação da indústria papeleira (CELPA). Foi apresentado como uma “iniciativa emblemática no país”, de “gestão florestal exemplar”, baseado num processo “rigoroso” e com “apoio técnico continuado”. Um “projeto que tem por objetivo a certificação florestal”, que pretende “contribuir para a reposição dos serviços do ecossistema”.

Mas, alertam as ONGA, “a realidade difere do anunciado”.

Na parcela aprovada pelo ICNF para medronheiro e em núcleos adjacentes, a Quercus e a Acréscimo “constataram que, na anunciada intervenção na construção e beneficiação de caminhos e aceiros, tendo em vista uma “maior resiliência aos incêndios”, os eucaliptos só não se visualizam nas faixas de rodagem. Foram plantados até aos limites de caminhos e aceiros”.

As ONGA denunciam ainda os “fortes impactos decorrentes da extrema mobilização dos solos”. “A mobilização em causa, com a construção de terraços em plena margem direita do rio Zêzere, gerou um enorme volume de carbono emitido para a atmosfera, bem como produz um significativo acréscimo do risco de erosão. Esta injustificável mobilização do solo ocorreu em plena Reserva Ecológica Nacional (REN) e no enquadramento do Plano de Ordenamento das Albufeiras de Cabril, Bouçã e Santa Luzia (POAC).”

Para estas ONGA, “esta insistência no eucalipto revela falta de visão estratégica e compromete o futuro do território pela maior vulnerabilidade aos incêndios e pela perda de serviços dos ecossistemas. A aposta em espécies mais resilientes ao fogo, como é o caso do medronheiro e a de muitas outras plantas da nossa floresta nativa é essencial para uma resposta estrutural aos problemas que enfrentamos”.

A Quercus e a Acréscimo têm visitado regularmente a região de Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, na sequência do grande incêndio de 2017. “Neste território é patente a inexistência de ações públicas para o prometido reordenamento da floresta, nomeadamente com espécies autóctones, que a tornem mais resiliente aos incêndios.”

As direcções das duas ONGA pedem ao ICNF que acione os mecanismos previsto na lei para a reposição da legalidade na parcela prevista para a instalação de medronheiro e que comprove a situação de rearborização com eucalipto na área global de intervenção do projeto demonstrativo. “Importa ter presente que, em 2017, a Lei proíbe a arborização com espécies do género Eucalyptus sp.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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