Lobo-ibérico (Canis lupus signatus). Foto: João Ferreira

Palombar defende inflexibilidade na salvaguarda do lobo na Europa

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Depois das recentes declarações da presidente da Comissão Europeia sobre o lobo na Europa, esta organização condenou a mensagem, por ajudar a gerar alarme social, e defendeu “total inflexibilidade na defesa e proteção do lobo”.

Esta é uma reacção à declaração recente de Ursula von der Leyen que defendeu a possibilidade de haver uma flexibilização na proteção do lobo a nível europeu.

Lobo-ibérico (Canis lupus signatus). Foto: João Ferreira

“As declarações da responsável levantam preocupações justificadas sobre as motivações e propósitos de tais medidas relativas a uma espécie atualmente em risco de extinção no território nacional”, escreveu, em comunicado, a organização não governamental de ambiente Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural.

A organização entende que esta mensagem “contribui para gerar alarme social infundado sobre esta espécie icónica e pode colocar em causa a sua conservação”.

Numa carta aberta enviada a Von der Leyen por várias organizações não governamentais de ambiente (ONGA) a nível europeu, “sublinha-se que as provas científicas demonstram que os lobos não tratam os seres humanos como presas e que os encontros fatais são uma exceção”. E, acrescenta, “relativamente ao gado, os danos causados estão frequentemente relacionados com a falta de supervisão adequada e/ou medidas de proteção eficazes”.

“Nas últimas décadas, medidas que asseguram a coexistência entre o Homem e o lobo têm revelado resultados muito positivos e, neste contexto, urge relembrar a sua necessidade e importância, evitando negligenciar os esforços a nível europeu para garantir a proteção dos grandes carnívoros, como é o caso do lobo. Sistemas de compensação monetária, uso de cães de gado tradicionais e a instalação de vedações são exemplos de boas práticas de minimização do conflito Homem-lobo que têm demonstrado grande êxito no terreno”, recorda a Palombar.

Redução da proteção pode ameaçar sobrevivência da espécie

Actualmente, várias populações transfronteiriças de lobos ainda não atingiram um estado de conservação favorável e a redução da sua proteção pode ameaçar a sua sobrevivência.

Em Portugal, a espécie mantém o estatuto de ameaça “Em Perigo” e a população de lobos é relativamente pequena, vulnerável e constituída pela subespécie endémica à Península Ibérica, Canis lupus signatus, com apenas cerca de 250 indivíduos maduros em todo o território nacional (Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental – 2023). Esta é a única espécie da fauna nacional que tem uma legislação específica, a Lei de Proteção do Lobo-Ibérico, pela qual está estritamente protegida há mais de três décadas.

“A conservação do lobo é uma questão altamente polarizada: se, por um lado, os ambientalistas lutam pela proteção da espécie, por outro, os criadores de gado preocupam-se com a segurança dos rebanhos. Mas estes dois lados da mesma moeda podem e devem coexistir, se forem implementadas as medidas certas.”

A Palombar considera “inquietante” as “insinuações da líder europeia e a consequente exacerbação do antagonismo existente”.

“Portugal é um exemplo em matéria de legislação para a proteção da natureza e, em particular, do lobo-ibérico, o que tem permitido manter a população desta espécie estável, apesar do seu estado de conservação desfavorável”, comentou José Pereira, biólogo e presidente da Palombar.

O biólogo acrescenta que, nas últimas décadas, “foram desenvolvidas várias ferramentas e tem sido investida muita verba na conservação e proteção do lobo: compensação por prejuízos atribuídos ao lobo, promoção de uma maior proteção dos animais domésticos através da distribuição de cães de gado e apoio à instalação de vedações, implementação do Sistema de Monitorização de Lobos Mortos, ações de fomento de presas selvagens e de melhoria do habitat, compatibilização de atividades económicas e monitorização da população”.

“Em paralelo, temos (ONG, academia, Estado e sociedade civil) feito um esforço humano e financeiro significativos para reverter a tendência, estabilizar e consolidar as populações de lobo e expandir a sua área de distribuição que, apesar de todo o trabalho feito até à data, tem vindo a contrair progressivamente, ocupando, atualmente e de forma regular, apenas cerca de 16 000 km2, em detrimento dos 19 400 km2 que ocupava em 1996 ou dos 44 100 km2 ocupados em 1930. Estes dados provam que não é, de todo, o momento para aligeirar o nível de proteção do lobo nem em Portugal, nem no território europeu”, defendeu.

Segundo a Palombar, “a sensibilização e a educação ambiental são essenciais para desmistificar o regresso do lobo, diminuindo o medo infundado e a aversão à espécie”.

Defende também o turismo centrado na herança cultural e edificada associada ao lobo e a “importância de implementar as medidas previstas no “Plano de Ação para a Conservação do Lobo-Ibérico em Portugal” (PACLobo), publicado em Diário da República em 2017, para promover o aumento das populações de lobo em contexto nacional”.

Actualmente, o lobo detém proteção legal na União Europeia, graças à Diretiva Habitats (Diretiva 92/43/CEE do Conselho) e à Convenção de Berna.

“O retorno da espécie às paisagens europeias é um marco importante na conservação de espécies com elevado grau de conflito com o Homem, algo só suportado pelo diálogo intenso entre conservacionistas e a população rural.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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