No fim-de-semana de 5 e 6 de Outubro, a Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife) celebra o Dia das Aves em mais de 100 locais por toda a Espanha com mais de 200 actividades de birdwatching. O tema deste ano é “7 Aves, 0 Ameaças”.
Espanha junta-se a dezenas de países, incluindo Portugal, que celebram as aves no próximo fim-de-semana e foca-se em sete das 632 espécies de aves que ocorrem no país, exigindo zero ameaças para elas. Essas sete aves, das mais emblemáticas do país, são a águia-imperial-ibérica, o tetraz, a pardela-balear, o abutre-preto, a águia-caçadeira, o andorinhão-preto e pato-de-rabo-alçado.
Coincidindo com o seu 70º aniversário, a SEO/Birdlife faz um apelo para não se “baixar a guarda” na protecção das espécies ameaçadas.
Segundo esta organização, a situação das aves é “preocupante”. Segundo o Livro Vermelho das Aves de Espanha, 56% das aves avaliadas têm problemas de conservação e 25% (90 espécies) está ameaçada de extinção.
“Precisamos de um mundo com aves”, disse, em comunicado, Asunción Ruiz, directora-executiva da SEO/Birdlife. “Há 70 anos que estudamos e defendemos as aves. Não se trata de um capricho naturalista, trata-se de garantir um mundo habitável, sadio e resiliente. A biodiversidade é um termómetro da saúde dos ecossistemas e as aves actuam como o canário na mina. Este fim-de-semana entusiasmamos todas as pessoas a olhar para o céu e a descobrir o mundo apaixonante das aves”, acrescentou.
Para esta edição do Dia das Aves, a organização escolheu sete espécies emblemáticas.
Águia-imperial-ibérica:
Depois de décadas de perseguição, como aconteceu com outras aves de rapina, a população desta espécie bateu no fundo nos anos 1970, com um primeiro censo de 38 casais em 1974 em Espanha. Desde então, a população começou a recuperar, com graves problemas causados pela presença de venenos nos campos e a proliferação de linhas eléctricas mal planeadas. Hoje estão contabilizados mais de 820 casais em Espanha e 20 em Portugal.
Tetraz:
A maior das aves galináceas europeias tem nos bosques do Norte de Espanha populações que se acantonaram nas montanhas no final das últimas glaciações. É uma espécie que era caçada em plena época reprodutora, o que era especialmente destrutivo. Apesar do declínio, só a partir de 1979 a sua caça deixou de ser legal, ainda que tenha continuado furtivamente. Mas, apesar dos esforços de conservação, não se conseguiu que as populações começassem a recuperar. As alterações climáticas e a proliferação de infra-estruturas (linhas eléctricas, centrais eólicas, estações de esqui e estradas florestais) são uma ameaça que teima em persistir para esta ave.
Pardela-balear:
Este é o endemismo espanhol mais ameaçado e a ave marinha em mais grave perigo de desaparecer na Europa. Devido à perda de recursos, a sua principal fonte de alimento passou a ser o que é descartado pelos barcos de pesca. Esta dependência faz com que se aproximem das embarcações e morram acidentalmente nas artes de pesca. Outra grave ameaça para esta ave são as espécies exóticas invasoras, como os ratos ou os gatos assilvestrados.
Águia-caçadeira:
Esta é uma ave muito associada a meios agrícolas, dado que nidificam no solo nas culturas cerealíferas. Se bem que muitos casais se instalem em pastagens naturais, a grande maioria fá-lo em campos de cereal, onde se alimentam dos roedores que abundam nesses cultivos. Uma vez que existem variedades de cereais de ciclos mais curtos e que, pelas alterações climáticas, se estejam a adiantar as ceifas, há um desfasamento com a época de nidificação e muitos juvenis, incapazes de voar, acabam por morrer nas máquinas de ceifa.
Abutre-preto:
Esta é a ave com a maior envergadura de asa do mundo. Esta espécie, que se distribui pela bacia do Mediterrâneo e na Ásia Central, sofreu muito com a perseguição directa e com o veneno. A organização lembra que esta e outras aves necrófagas são grandes aliados dos criadores de gado, uma vez que eliminam rápida e eficazmente as carcaças dos animais que morrem no campo, evitando que se espalhem doenças graves.
Andorinhão-preto:
Esta é uma espécie que se associa a meios urbanos e cujos gritos estridentes nos acompanha durante os meses mais quentes do ano. Uma vez que abandonam o ninho, os jovens andorinhões não voltarão a pousar até que, já adultos, se reproduzam pela primeira vez. Estes magníficos voadores alimentam-se exclusivamente de insectos e, no final do verão, deslocam-se para zonas equatoriais onde, sempre sem pousar, permanecem a voar milhares de quilómetros até que regressem na primavera seguinte. Muitas vezes, os edifícios modernos não têm as cavidades de que os andorinhões precisam para nidificar, o que pode ser uma ameaça.
Pato-de-rabo-alçado:
Esta espécie foi um emblema da conservação no final do século passado quando, em 1977, se chegaram a contar apenas 22 exemplares. A protecção estrita do seu habitat fez com que a população começasse a recuperar. Mas em 1991 começaram a observar-se exemplares de pato-de-rabo-alçado-americano, espécie próxima mas exótica e introduzida e que facilmente se cruzava com a autóctone, produzindo indivíduos híbridos. Esses exemplares tinham origem no Reino Unido onde, num exemplo sem precedentes de cooperação entre países e organizações, a população da espécie invasora foi controlada e, hoje, o pato-de-rabo-alçado conseguiu recolonizar o Norte de África a partir do Sul da Península Ibérica.
A SEO/Birdlife pede zero ameaças para as aves. Em Espanha, indica, as principais ameaças para as aves são as graves alterações dos habitats, frequentemente associadas a uma intensificação das explorações e a uma alteração radical no uso do solo. “A industrialização da agricultura tem sido um motor destas alterações mas, mais recentemente, tem sido a invasão de centrais de produção de energia e as redes eléctricas associadas, o que está a destruir os ecossistemas a grande escala, o que representa a principal ameaça para muitas espécies de aves.”
Além disso, “as grandes rapinas continuam a sofrer uma mortalidade ilegal por disparos e venenos ilegais. Tóxicos como o chumbo envenenam os nossos campos devido ao uso de munições deste metal que, ao ser ingerido pelas aves e outros animais, se acumula na cadeia alimentar”.
Por fim, “se bem que as cidades e as vilas sejam cada vez mais verdes, também ali há muitas ameaças, na forma dos vidros contra os quais as aves colidem ou ainda numa perda dos locais de nidificação”.