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Observação de aves: Espanha celebra Dia das Aves com 200 actividades e foco em sete espécies emblemáticas

04.10.2024

No fim-de-semana de 5 e 6 de Outubro, a Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife) celebra o Dia das Aves em mais de 100 locais por toda a Espanha com mais de 200 actividades de birdwatching. O tema deste ano é “7 Aves, 0 Ameaças”.

Espanha junta-se a dezenas de países, incluindo Portugal, que celebram as aves no próximo fim-de-semana e foca-se em sete das 632 espécies de aves que ocorrem no país, exigindo zero ameaças para elas. Essas sete aves, das mais emblemáticas do país, são a águia-imperial-ibérica, o tetraz, a pardela-balear, o abutre-preto, a águia-caçadeira, o andorinhão-preto e pato-de-rabo-alçado.

Coincidindo com o seu 70º aniversário, a SEO/Birdlife faz um apelo para não se “baixar a guarda” na protecção das espécies ameaçadas.

Segundo esta organização, a situação das aves é “preocupante”. Segundo o Livro Vermelho das Aves de Espanha, 56% das aves avaliadas têm problemas de conservação e 25% (90 espécies) está ameaçada de extinção.

“Precisamos de um mundo com aves”, disse, em comunicado, Asunción Ruiz, directora-executiva da SEO/Birdlife. “Há 70 anos que estudamos e defendemos as aves. Não se trata de um capricho naturalista, trata-se de garantir um mundo habitável, sadio e resiliente. A biodiversidade é um termómetro da saúde dos ecossistemas e as aves actuam como o canário na mina. Este fim-de-semana entusiasmamos todas as pessoas a olhar para o céu e a descobrir o mundo apaixonante das aves”, acrescentou.

Para esta edição do Dia das Aves, a organização escolheu sete espécies emblemáticas.

Águia-imperial-ibérica:

Macho de águia-imperial-ibérica. Foto: Carlos Molina/SEO BirdLife

Depois de décadas de perseguição, como aconteceu com outras aves de rapina, a população desta espécie bateu no fundo nos anos 1970, com um primeiro censo de 38 casais em 1974 em Espanha. Desde então, a população começou a recuperar, com graves problemas causados pela presença de venenos nos campos e a proliferação de linhas eléctricas mal planeadas. Hoje estão contabilizados mais de 820 casais em Espanha e 20 em Portugal.

Tetraz:

Tetraz. Foto: Simon Bailey/WikiCommons

A maior das aves galináceas europeias tem nos bosques do Norte de Espanha populações que se acantonaram nas montanhas no final das últimas glaciações. É uma espécie que era caçada em plena época reprodutora, o que era especialmente destrutivo. Apesar do declínio, só a partir de 1979 a sua caça deixou de ser legal, ainda que tenha continuado furtivamente. Mas, apesar dos esforços de conservação, não se conseguiu que as populações começassem a recuperar. As alterações climáticas e a proliferação de infra-estruturas (linhas eléctricas, centrais eólicas, estações de esqui e estradas florestais) são uma ameaça que teima em persistir para esta ave.

Pardela-balear:

Pardela balear. Foto: Pep Arcos/SEOBirdLife

Este é o endemismo espanhol mais ameaçado e a ave marinha em mais grave perigo de desaparecer na Europa. Devido à perda de recursos, a sua principal fonte de alimento passou a ser o que é descartado pelos barcos de pesca. Esta dependência faz com que se aproximem das embarcações e morram acidentalmente nas artes de pesca. Outra grave ameaça para esta ave são as espécies exóticas invasoras, como os ratos ou os gatos assilvestrados.

Águia-caçadeira:

Águia-caçadeira (macho). Foto: Jorge Remacha

Esta é uma ave muito associada a meios agrícolas, dado que nidificam no solo nas culturas cerealíferas. Se bem que muitos casais se instalem em pastagens naturais, a grande maioria fá-lo em campos de cereal, onde se alimentam dos roedores que abundam nesses cultivos. Uma vez que existem variedades de cereais de ciclos mais curtos e que, pelas alterações climáticas, se estejam a adiantar as ceifas, há um desfasamento com a época de nidificação e muitos juvenis, incapazes de voar, acabam por morrer nas máquinas de ceifa.

Abutre-preto:

Abutre-preto. Foto: Tatavasco

Esta é a ave com a maior envergadura de asa do mundo. Esta espécie, que se distribui pela bacia do Mediterrâneo e na Ásia Central, sofreu muito com a perseguição directa e com o veneno. A organização lembra que esta e outras aves necrófagas são grandes aliados dos criadores de gado, uma vez que eliminam rápida e eficazmente as carcaças dos animais que morrem no campo, evitando que se espalhem doenças graves.

Andorinhão-preto:

Andorinhão-preto. Foto: Imran Shah/WikiCommons

Esta é uma espécie que se associa a meios urbanos e cujos gritos estridentes nos acompanha durante os meses mais quentes do ano. Uma vez que abandonam o ninho, os jovens andorinhões não voltarão a pousar até que, já adultos, se reproduzam pela primeira vez. Estes magníficos voadores alimentam-se exclusivamente de insectos e, no final do verão, deslocam-se para zonas equatoriais onde, sempre sem pousar, permanecem a voar milhares de quilómetros até que regressem na primavera seguinte. Muitas vezes, os edifícios modernos não têm as cavidades de que os andorinhões precisam para nidificar, o que pode ser uma ameaça.

Pato-de-rabo-alçado:

Pato-de-rabo-alçado. Foto: Juan Carlos Atienza

Esta espécie foi um emblema da conservação no final do século passado quando, em 1977, se chegaram a contar apenas 22 exemplares. A protecção estrita do seu habitat fez com que a população começasse a recuperar. Mas em 1991 começaram a observar-se exemplares de pato-de-rabo-alçado-americano, espécie próxima mas exótica e introduzida e que facilmente se cruzava com a autóctone, produzindo indivíduos híbridos. Esses exemplares tinham origem no Reino Unido onde, num exemplo sem precedentes de cooperação entre países e organizações, a população da espécie invasora foi controlada e, hoje, o pato-de-rabo-alçado conseguiu recolonizar o Norte de África a partir do Sul da Península Ibérica.

A SEO/Birdlife pede zero ameaças para as aves. Em Espanha, indica, as principais ameaças para as aves são as graves alterações dos habitats, frequentemente associadas a uma intensificação das explorações e a uma alteração radical no uso do solo. “A industrialização da agricultura tem sido um motor destas alterações mas, mais recentemente, tem sido a invasão de centrais de produção de energia e as redes eléctricas associadas, o que está a destruir os ecossistemas a grande escala, o que representa a principal ameaça para muitas espécies de aves.”

Além disso, “as grandes rapinas continuam a sofrer uma mortalidade ilegal por disparos e venenos ilegais. Tóxicos como o chumbo envenenam os nossos campos devido ao uso de munições deste metal que, ao ser ingerido pelas aves e outros animais, se acumula na cadeia alimentar”.

Por fim, “se bem que as cidades e as vilas sejam cada vez mais verdes, também ali há muitas ameaças, na forma dos vidros contra os quais as aves colidem ou ainda numa perda dos locais de nidificação”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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