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Nasceu o primeiro quebra-ossos nos Picos de Europa em 70 anos

23.03.2020

O Parque Nacional dos Picos de Europa viu nascer um quebra-ossos, algo que já não acontecia desde que a espécie se extinguiu naquela região há 70 anos, anunciou o Governo espanhol.

 

O quebra-ossos (Gypaetus barbatus), espécie Em Perigo de extinção, desapareceu dos Picos de Europa em 1956 por causa da perseguição humana.

Agora, o Parque recupera uma das suas espécies emblemáticas.

 

Quebra-ossos. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

 

O nascimento foi confirmado pelos técnicos da Fundação para a Conservação do Quebra-ossos (FCQ) e pelos guardas do Parque Nacional que, há semanas, seguiam o processo reprodutivo de um casal, informou o Ministério espanhol para a Transição Ecológica na semana passada.

Os pais desta cria são Deva, fêmea com 10 anos de idade, e Casanova, macho com 13 anos, que formam um casal desde 2014. O casal criou na vertente asturiana do maciço central dos Picos de Europa.

Deva tem origem pirenaica e foi reintroduzida no Parque, ainda cria, em 2010, no âmbito do projecto de recuperação da espécie. Casanova chegou aos Pirinéus e estabeleceu-se nos Picos de Europa em 2013.

O casal estava há 51 dias a incubar o ovo no ninho numa fissura do maciço central dos Picos de Europa, em território asturiano.

“A confirmação deste nascimento nos Picos de Europa, a 400 quilómetros dos Pirinéus, é um marco muito importante para a sobrevivência da espécie em Espanha, a longo prazo”, segundo o Ministério espanhol, em comunicado.

 

Quebra-ossos. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

 

No Outono passado, as equipas da FCQ observaram estes dois adultos com comportamentos pré-reprodutores: defesa do território, interacções intraespecíficas, cópulas e transporte de material para a construção do ninho (fundamentalmente lã).

Depois, em Janeiro, os técnicos e os guardas do Parque Nacional viram que o casal se tinha instalado definitivamente numa fissura do maciço central. Pouco tempo passou para que pusessem um ovo, incubado por ambos os progenitores, de forma alternada. Quando um ficava no ninho, o outro aproveitava para se alimentar e descansar.

Agora, em meados de Março, comprovou-se o nascimento da cria, graças a uma “significativa alteração no comportamento dos pais que, entre outras coisas, estão a levar as primeiras presas à sua cria”.

Segundo o comunicado, as equipas vão manter um “seguimento atento” do casal e da cria. “No melhor dos cenários, a fase de cria no ninho vai prolongar-se até Junho, quando estará pronta para voar.”

No último século, as populações de quebra-ossos em toda a Eurásia sofreram um drástico processo de regressão que levou ao declínio e extinção na maioria das áreas onde estavam presentes. Hoje, a população pirenaica, de onde têm origem dos exemplares reintroduzidos nos Picos de Europa, é a população selvagem mais importante da Europa, com 85% dos quebra-ossos que restam no Velho Continente.

O Programa de Reintrodução do Quebra-ossos nos Picos de Europa pretende conseguir uma população estável na região, fomentando a troca de exemplares com a população pirenaica através do corredor ibero-cantábrico.

O Governo de Aragão cede para a sua libertação nos Picos de Europa de quebra-ossos que são recuperados de ninhos em situação de risco (inviáveis) nos Pirinéus aragoneses.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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