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Colónia na Ilha Deserta. Foto: Ana Almeida

Maior colónia do mundo da gaivota-de-audouin vive na Ria Formosa e está a crescer

17.07.2024

A gaivota-de-audouin, espécie ameaçada e em declínio a nível mundial, contraria a tendência em Portugal e já conta com sete mil ninhos, revela a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).

A gaivota-de-audouin está em declínio a nível mundial, mas a população portuguesa contraria essa tendência. Desde que se estabeleceu na Ria Formosa há cerca de uma década, os números desta espécie ameaçada têm aumentado todos os anos.

Colónia na Ilha Deserta. Foto: Ana Almeida/SPEA

Este ano, especialistas do projeto LIFE Ilhas Barreira contabilizaram mais de 7000 ninhos da espécie, quase três vezes mais do que no início do projeto, em 2019.  

“O facto de termos a maior colónia do mundo, quando a gaivota-de-audouin está a desaparecer de outros locais, mostra a importância da conservação da Natureza e traz-nos também responsabilidade acrescida”, disse, em comunicado, Joana Andrade, coordenadora do projeto LIFE Ilhas Barreira e do departamento de conservação marinha da SPEA.  

Esta elegante gaivota de patas cinzentas identifica-se pelo bico vermelho.

Colónia na Ilha Deserta. Foto: Ana Almeida/SPEA

Ao contrário de outras espécies de gaivotas, a gaivota-de-audouin continua a alimentar-se sobretudo de peixe, aproveitando as rejeições das pescas e raramente consome resíduos em lixeiras ou outros tipos de desperdícios humanos.   

Em todo o mundo, esta espécie reproduz-se apenas num pequeno número de colónias, o que a deixa especialmente vulnerável a ameaças como os predadores terrestres e a perturbação humana.

Em Portugal, o projeto LIFE Ilhas Barreira, financiado pelo programa LIFE da União Europeia, tem minimizado estas ameaças na principal colónia de reprodução da espécie, na Ilha Deserta/Barreta.

A população reprodutora de gaivota-de-audouin da Ria Formosa tem aumentado todos os anos. “Desde 2022, a espécie expandiu-se para a vizinha Ilha da Culatra, onde tem também aumentado a olhos vistos”, salientou a organização.  

Gaivota-de-audouin em voo na Ria Formosa. Foto: Ana Almeida/SPEA

“A nova colónia de gaivota-de-audouin na Culatra dá mais segurança para o futuro. Estas ilhas são ecossistemas frágeis: é vital proteger áreas potenciais, mesmo que as aves ainda não as utilizem, devido à fragilidade dos ecossistemas insulares. Ao salvaguardar estas áreas, garantimos que a espécie tenha locais alternativos para nidificar em caso de perturbações ou mudanças ambientais”, frisou Joana Andrade.  

Para salvaguardar a espécie em Portugal e mais além, os especialistas alertam que será importante atualizar o plano internacional para a proteção da espécie e, dada a importância da população portuguesa, criar um plano nacional para proteger a gaivota-de-audouin, não só em terra, mas também no mar.

Com esse intuito, o projeto LIFE Ilhas Barreira propõe a expansão da Zona de Proteção Especial da Ria Formosa para o mar, garantindo a proteção das zonas de alimentação desta e de outras aves marinhas.

Gaivota-de-audouin na ilha Deserta. Foto: Ana Almeida/SPEA

O LIFE Ilhas Barreira é coordenado pela SPEA e tem como parceiros a Animaris, o RIAS/Aldeia, o ICNF, o CCMAR/UAlg, o CIMA/UAlg e o Ecotop-MARE/Universidade de Coimbra. 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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